quarta-feira, agosto 01, 2018

ALEKSANDR ISAYEVICH SOLZHENITSYN



Nos anos setentas, eu estava encantado com Edith e Francis Schaeffer. Li seus livros com avidez. Chegamos a publicar o Deus que intervém, com ABU, e, depois, somente pela Ed. Refúgio. Mais tarde, publicamos o Manifesto Cristão.

Quando ainda me preparava para a nossa aventura editorial, li, no “estadão”, um discurso de Soljenítsin proferido na Harvard (Harvard Commencement Address,1978). Sinto, ainda hoje, a emoção com que escrevi ao editor do periódico, apontando semelhanças com o pensamento de Schaeffer. Descobri, então, que o escritor russo era cristão, amigo de Rookmaaker e de Schaeffer.

Aleksandr Soljenítsin (1918-2008) esteve internado em campos de trabalho forçado de 1945 a 1953, devido a críticas a Stalin. Libertado na "abertura" que se seguiu discurso de Krutchev contra os crimes estalinistas, lecionou e escreveu nos anos 50. "Um dia na vida de Ivan Deníssovitch, classificado por Aleksandr Tvardovski, seu editor na revista Novy Mir, em 1962, como um 'clássico', teve a sua publicação expressamente autorizada por Krutchev e foi estudado nas escolas (Wook.pt). A publicação de Pavilhão de cancerosos e a atribuição do Prêmio Nobel da Literatura, em 1970 resultou em sua expulsão da União Soviética, em 1974, vivendo na Suíça, na França e nos Estados Unidos até à queda do Muro de Berlim. Regressou a Moscow, em 1994. "As suas obras marcaram indelevelmente a literatura russa do século xx, inserindo-se na grande tradição narrativa de nomes como Tchekov, Tolstoi e Dostoievski" (cit.).

Recentemente, soube, num papo com universitários, que os escritos de Soljenítsin não eram suficientemente conhecidos por, pelo menos, as duas última gerações estudantis. Há quem reconheça apenas a dificuldade do nome grafado de diversas maneiras em diferentes lugares, mas sem ligar o nome ao trabalho (veja: http://religion.wikia.com/wiki/Aleksandr_Solzhenitsyn). Uma pena o desconhecimento, pois a sua obra é de extrema beleza literária, de esclarecedora visão política, de encorajamento na vida cristã em um mundo em conflito, e de motivação para a evangelização. Veja o que escrevi em Sal da terra em terras do brasis (Brasília, Ed. Monergismo, 3a. Ed., 2014, p. 371):
Alexander Soljenitsin exemplifica essas coisas em uma das páginas mais eloquentes de Pavilhão de Cancerosos: ele relata uma conversa entre Shulubin e Kostoglov, quando discutiam sobre a motivação humana para prosseguir crendo num governo despótico:
"Bem, chamemos a isso uma forma mais refinada do instinto gregário, o medo de ficar sozinho, fora da comunidade. Não há nada de novo nisso. Francis Bacon estabeleceu sua doutrina dos ídolos já no Século 16. Dizia que as pessoas não se inclinam a viver de pura experiência, preferindo poluir essa experiência com preconceitos. Esses preconceitos são os ídolos. Os ídolos da tribo, os ídolos das cavernas é como Bacon os achava ... Os ídolos da praça pública são os erros resultantes da comunicação e associação dos homens, uns com os outros. São aqueles que o homem comete porque se tornou costume usar certas frases e fórmulas para violentar a razão". (SOLJENITZIN, Alexander. Pavilhão dos Cancerosos. RJ, Editora Expressão e Cultura, 1975, pp. 551, 552.)
É preciso que haja honestidade na evangelização para que a mensagem seja centrada em Cristo e não em qualquer outra coisa, seja virtude cristã seja vício humano, pois do contrário nossa tendência idólatra proporá outros redentores que não Deus. Ninguém jamais evitará ser autobiográfico em seu discurso, e a audiência, mesmo sem consciência disso, sempre capta a incongruência entre o que se diz e o que se vive. Os que tiverem o coração lavado diante do Senhor por meio da confissão serão sensíveis ao Espírito Santo para discernir; os faltos e os ímpios, exatamente por causa das feridas do pecado, como um esfolamento no corpo exposto ao vento, serão sensíveis aos humores da carne.



Wadislau Martins Gomes 

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