sexta-feira, maio 04, 2018

GENEALOGIA DOS FILHOS DE DEUS



Em casa muito se fala em genealogias. É um hobby de meu marido, motivo de muita história e brincadeiras. Na casa da mãe dele, a saudosa Da. Eulina, os irmãos e parentes se movimentaram para descobrir o paradeiro da fortuna do Barão dos Cocais da velha Minas Gerais, que aparentemente sumiu quando outro sócio fundou ou vendeu ou sei lá o que a Companhia Mineira de Mineração, dando lugar a ainda existente Companhia Belgo-Mineira. Alguns advogados e pesquisadores promoveram a causa e escreveram livros a respeito. Fizeram outra fortuna com o dinheiro dos parentes que se habilitaram e com da venda dos livros aos ansiosos por conhecer mais sobre a fortuna da qual eles seriam herdeiros legítimos. Em um Congremar (Congresso dos Martins), há muito tempo, houve distribuição de moedas a cada herdeiro, chefiada pela Tia Noemi (acho que ela mesma contribuiu as moedinhas). Quando Lau e eu nos casamos, há quase 52 anos, a piada era que eu casei com ele por causa da fortuna do Barão, enquanto ele casou comigo pelos dólares que certamente eu tinha escondido em algum lugar. Nenhum de nós viu a cor do dinheiro!

As genealogias continuaram nos interessando. Eu debochava um pouco da minha avó, que havia traçado seus antepassados até a vinda do Mayflower em Massachussetts (essa informação foi corrigida para outro navio que veio apenas uns vinte anos depois – mas nossos antepassados (do lado da vovó e do vovô) eram realmente peregrinos puritanos que colonizaram a Nova Inglaterra há muito tempo. Minha avó era DAR (Filha da Revolução Americana – minha tia Virginia ainda hoje celebra 70 anos de sócia nesse clube conservador de revolucionárias). Antes de serem americanos legítimos, meus antepassados foram ingleses, escoceses e irlandeses até época de Ricardo Coração de Leão, descendentes do rei João e pertencentes a diversas casas reais – aqui meus conhecimentos se mesclam e confundem – para informações mais exatas é necessário consultar minha irmã, a Condessa Kitty Charles!

Wadislau, por sua vez, traça as raízes brasileiras até o relacionamento da brasilíndia Bartira com o português João Ramalho em idos de 1500, e do outro lado tem descoberto coisas interessantíssimas que montam ao antigo Portugal, traçando o parentesco do rei D. Manoel até a antiga Pérsia. A essa altura, os netos, físicos, Daniel e Rafael, se juntam ao avô e ajudam a traçar não somente a árvore genealógica dos Martins e dos Gomes como também dos Almeida e Heringer.

Essas estórias podem ser mitos e lendas, mas dão muitas histórias para pesquisa e conjeturas. Houve tempo em que eu questionava por que Deus permitiria colocar genealogias na Bíblia– listas chatas de pessoas que viveram, tiveram filhos, e morreram. Quando, uma vez, em Jaú, Wadislau pregava a Bíblia de capítulo em capítulo, eu temia que, ao chegar às genealogias, ele teria de pular a fim de não fazer a igreja inteira dormir. Ao chegar, porém, às mensagems sobre as genealogias de Gênesis, teve gente que se converteu – a mensagem de que a vida não consiste apenas em uma existência de nascer, viver, deixar filhos e morrer – tem impacto eterno! Hoje considero com mais acerto que toda a Escritura é inspirada – até mesmo as genealogias – útil para nos ensinar, repreender, corrigir e educar na justiça (2Tm 3:16) para que a pessoa que é de Deus seja “perfeita e perfeitamente habilitada para toda boa obra”.

Ora, a primeira lista de família na Bíblia é também a história do primeiro assassino, Caim, e fala que ele “viveria fugitivo e errante, retirou-se da presença do Senhor, edificou a primeira cidade, e seu neto Lameque foi o primeiro bígamo na humanidade”. A leste do Éden, multiplicam-se habilidades (agricultura, pastoreio, música, uso de metais para implementos, instrumentos e armas) e vinganças.

Outro filho nasce a Adão e Eva (Gn 4.25-5.32) – Sete – e é por ele que virá o descendente da mulher que ferirá a cabeça da serpente: Yeshua Hameshiach, Jesus Cristo. Esta genealogia é contada de forma remissiva por Lucas até “filho de Sete, filho de Adão, filho de Deus” (3.23-38). 

Entre o povo israelita, para determinar se uma pessoa é judia, a ascendência judaica comprovada tem de ser da mãe, talvez porque o ensino da fé vem junto ao leite materno. Mas na genealogia de Mateus (1.1-17), as únicas mulheres mencionadas são acrescentadas ao povo de Deus por “linhas tortuosas”. Tamar, depois de ter sido duas vezes viúva dos filhos perversos dele, teve filhos gêmeos de Judá, e de Perez continua a sua descendência (Gn 38). Salmom gerou de Raabe, que havia sido prostituta, mas se uniu ao povo de Deus quando em Jericó (Josué 2), a Boaz, e este se une à moabita Rute, e geram Obede, avô do rei Davi (Rute 4.14-22). Davi gerou de Bate-seba, “a que foi mulher de Urias”, a Salomão. A graça de Deus sempre se mostra a pecadores que não tinham linhagem ou estirpe merecedora de seu favor. Cada uma dessas mulheres que vieram para a lista de antepassados famosos tinha fatores negativos manchando sua história: Tamar conseguiu engravidar enganando o sogro e se apresentando como prostituta cultual (Gn ; Rute era moabita, povo desprezado pelos israelitas, que não podia entrar no tabernáculo (Dt 23.3); a característica marcante de Bate-seba é que “era mulher de outro”.

Voltando para trás na história, o livro de Gênesis apresenta os descendentes de Noé (entre os quais você e eu nos situamos!) segundo as suas gerações, nas suas nações; e destes foram disseminadas as nações na terra, depois do dilúvio, como tendo apenas uma linguagem e uma só maneira de falar (Gn 10.31; 11.1). Mas quando, edificando uma cidade, o povo quis fazer uma torre “cujo topo chega ao céu, tornando célebre o nome” – sem adorar ao Deus vivo e verdadeiro – as línguas foram confundidas e o povo se dispersou. Características básicas da nossa humanidade: a fala, a comunidade e a comunicação, foram confundidas em Babel – e até hoje as pessoas não se entendem, não conseguem viver juntas sem contendas, e não conseguem transmitir com integridade ao próximo aquilo que são e que pensam!

Graças a Deus que, em vindo a plenitude do tempo, “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4.4).  Jesus resgata aqueles que não possuem linhagem e estão alheios às promessas de Deus, e os adota como filhos! “Porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!” Estes descendentes tornam-se também herdeiro por Deus. Outrora, porém, não conhecendo a Deus, servíeis a deuses que, por natureza, não o são; mas agora que conheceis a Deus ou, antes, sendo conhecidos por Deus...” (Gl 4.6-9). Ao falar aos Gálatas sobre tornar-nos filhos de Abraão pela fé, Paulo pergunta por que voltamos a nos preocupar com dias, meses, anos, e a nos escravizar pela lei. Usa duas mulheres da história como metáforas de viver pela graça ou sob a lei – Sara e Agar – e até hoje a ascendência e descendência das duas continua influindo na história da humanidade e de nossa cristandade!

Ao falar aos Efésios sobre essa dispensação da plenitude dos tempos, Paulo diz que Deus “faz convergir nele (em Jesus) todas as coisas, tanto as do céu como as da terra”. Não temos apenas origem genealógica preciosa e herança eterna; temos finalidade – predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade – propósito – a fim de sermos para louvor da sua glória, história passada –  nós, os que de antemão esperamos em Cristo;  em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa – esperança futura – o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória – vivência valiosa no presente – Por isso, também eu, tendo ouvido a fé que há entre vós no Senhor Jesus e o amor para com todos os santos, não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações...”
para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele,  iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos   e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro.  E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas! (Ef 1.1-23).

Conhecemos a genealogia de Jesus (de Mateus e de Lucas) da parte de sua mãe e de seu pai adotivo.  A Bíblia apresenta numerosas genealogias de heróis, nobres e vilãos, mas menciona o sacerdócio de Jesus, Verbo Encarnado, como proveniente de um “sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem princípio de dias ou fim de existência”: Melquisedeque, rei da paz (Gn 14.17-20 e Hebreus 7.1-17). Um dos jovens pastores mentorados por Paulo, foi Timóteo, filho de pai grego, e de mãe e avó judias cristãs, tementes a Deus que o ensinaram as Escrituras desde sua infância. Sabemos que ele valorizou as origens de Timóteo (2Tm 1.5,6; 3.15), mas advertiu-o para evitar pessoas que ensinem outras doutrinas os se ocupam com “fábulas e genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé”(1Tm 1.3-4). 

 Não é errado procurar conhecer a nossa história passada e as nossas origens nobres e vilãs (porque entre esses nobres houve também tremendos vilãos!), mas muito mais que genealogias, precisamos conhecer o que realmente torna pleno o tempo passado, presente, e futuro, e a eternidade: o Senhor da História. Não podemos promover discussões em vez de servir a Deus na fé! Qualquer conhecimento, quer informativo quer normativo, tem de estar sujeito ao Senhor Ressurreto, Cabeça da Igreja, que nos dá sua sabedoria, iluminado os olhos do coração, enchendo-nos de sua pleiroma, plenitude, na plenitude dos tempos, para a eternidade sem tempo!
Elizabeth Gomes