sexta-feira, junho 16, 2017

VASOS TRINCADOS COM TESOUROS ETERNOS


     Recentemente uma moça comentou a respeito de postagens de outros no facebook: “Não devemos expor nossos pecados; afinal, todos em nossa rede são crentes em Cristo e devemos glorificar a Deus e mostrar a vitória que só a ele pertence”. Sei que ela estava bem-intencionada, mas muito equivocada.
     Primeiro, porque, embora o facebook possa ser usado como ferramenta de testemunho cristão, nós somos mesmo pecadores (1Jo 1.8-10). Não podemos pensar de nos mesmos além do que convém (Rm 12.3) nem nos achar melhor do que os outros! Melhor, só Jesus Cristo, que é melhor do que tudo que temos ou pretendemos ter e ser.
     Segundo, facebook não é a igreja, ou seja, não é uma comunidade de pecadores salvos pela graça por Jesus. Pessoalmente, tenho muitos irmãos na humanidade, amigos e conhecidos de longa data, que não são irmãos na fé: gente inteligente, simpática, que se define como agnóstica, espírita, católica, judia, quem sabe até muçulmana – com quem comunico por meio do facebook.  Eu respeito a imagem de Deus que está nelas, mesmo que fraturada e dilacerada por incredulidade ou por credulidade anti-bíblica. 
     Tenho também contatos de toda matiz do arco íris: os que assumem uma bandeira LGTB e os que participam de alguma atividade heterossexual condenada por Deus como fornicação, adultério e alguma espécie de violência sexual. Se eles manifestarem esses conceitos verbalmente, tentando incitar a outros a pecar, rejeitarei pecado, atentando ao que Paulo disse: “tais fostes alguns de vós, mas vós vos lavastes...” (1Co 6.11).
     Se alguém é pecador contumaz e se diz cristão, a Biblia adverte “com este nem comais”, mas se nem na igreja Jesus permite que ceifemos o joio enquanto está crescendo junto ao trigo (Mt 13), como posso eu, uma crente comum, podar alguém que “apenas” não é cristã, sem amá-la e apresentar-lhe a verdade, que incluirá o pecado, e a redenção em Cristo? Creio que a igreja tem uma responsabilidade de disciplinar quem anda contrário à Palavra de Deus, para manter a pureza da Noiva, mas, no facebook não sou a disciplinadora, mas uma testemunha. Sou sim, embaixatriz do Reino de Deus e fui chamada para um sacerdócio santo (1 Pe 2.9) agradável a Deus( Rm 12.1-2), mas não sou melhor que eles. Como disse Paulo, o maior teólogo e apóstolo do primeiro século (e de todos) “Cristo veio salvar os pecadores, dos quais eu sou principal”(1 Tm 1.15.), e eu não posso me julgar melhor que eles ou que ele!
     Não somos do mundo, mas estamos no mundo (Jo 17) e o Senhor rogou que fôssemos guardados do mal, não que esfregássemos no nariz dos outros que somos melhores do que eles! Temos em nós os tesouros inefáveis de Jesus Cristo, mas nós somos vasos de barro (Rm 9.23; 2 Co 4.7), às vezes trincados, outras vezes detonados, sempre carentes de sermos refeitos à imagem de Deus. É para este mundo que Deus nos conclama a ser sal e luz (Mt 5.13), enquanto indo fazer discípulos de todas as nações, pregar e viver o evangelho a toda criatura, ensinando a guardar... (Mt 28.19,20).
     Outro tipo de exclusão que vejo muito nos que confundem a igreja visível ou invisível do Senhor Jesus Cristo com “minha comunidade nas redes sociais”, é a partidária: “Eu sou de Paulo, eu sou de Pedro, eu sou de Apolo, ou o [certinho} eu sou de Cristo (1 Co 3.4). Noutras palavras, se você não for do meu time, você não é crente. Cada um deve ter firme em mente o que crê, mas respeitar quem pensa de maneira diferente. 
     Eu creio, por exemplo, que todo crente faz parte da nação santa, do sacerdócio real, do povo de propriedade exclusiva de Deus – minha posição de estar em Cristo e ser nova criatura, em que não há diferença entre homem ou mulher, judeu ou gentio, escravo ou livre (Col 3.28). Isso não significa que as mulheres devam ser pastoras. O pastorado do rebanho de Deus como função pertence a homens dotados por Deus para o pastorado e ensino (2 Tm 4.1-5; Tt 1.5-9). Tenho amigas que amam ao Senhor, são evangelizadoras e estudiosas da Palavra de Deus, que se denominam (ou outros as denominam) pastoras. Creio que elas estão equivocadas e perdem ao não reconhecer a liderança masculina em casa e na igreja – mas não brigo com elas por se chamarem de pastoras, e reconheço que elas são crentes em Cristo. A mulher de Pedro o acompanhava em suas viagens, mas não se chamava de pastora Pedrina! Priscila era discípula de Paulo junto com seu marido Áquila, e estudiosa da Palavra a ponto de esclarecer a Apolo onde ele estava errado, mas não foi designada pastora. Dorcas, Lóide e Eunice, Lídia, Marta, Maria Madalena, Joana, muitas outras mulheres foram discípulas, mas não eram conclamadas a pastorear o rebanho de Deus, nem eram bispas ou apóstolas. Não brigo nem falo mal delas. Se uma perguntar minha opinião sobre o pastorado feminino, eu converso com ela sobre as razões pelas quais não creio que seja uma injunção cultural ultrapassada, mas ordem da Bíblia – mas não a rejeito como minha irmã em Cristo de quem aprendo muito!
     Amar ao Senhor Jesus (nós o amamos porque ele nos amou primeiro) é consequência de nosso novo nascimento e de estarmos nele. Neste sentido, todo crente, homem ou mulher, é teólogo (ama o logos de Deus), missionário evangelizador, faz parte de seu Reino, sacerdócio (conforme já vimos em 1 Pedro) e embaixador/embaixatriz do mesmo. Mas por ordem e função, nem todo crente -- e nisso se incluem as mulheres – é designado para chefiar o corpo de Cristo!
     Como no caso de diversas diferenças doutrinárias (batistas / presbiterianos; arminianistas/calvinistas; pentecostais/tradicionais não pentecostais; aliancistas/dispensacionalistas e uma miríade de outros ismos e istas, minha pergunta não é “qual o seu partido?” e sim “conta-me como você conheceu a Cristo”. Algumas das irmãs que mais me abençoaram quando eu era jovem eram (são) pentecostais; por outro lado, tive dissabores com alguns irmãos que pensam iguais a mim. E me entristeço ao lembrar que eu magoei alguns irmãos no passado, em coisas que eu poderia ter deixado passar. Também houve casos de erros de irmãos que eu fui conclamada a testemunhar, falei (ou escrevi) e ainda não consegui reatar com eles/elas. De coração, desejo que a paz que Cristo conquistou na cruz seja o árbitro entre nós (Cl 3.15).
     Às vezes, quando posto uma foto mais bem-vestida ou de alguma vitória profissional, alguém quer me elogiar e diz: “Poderosa!” “Você é meu exemplo” ou outra coisa parecida, e eu penso: Eu não sou essa poderosa que ele/ela pensa. Sou fraca, pecadora, indigna. Isso não é por ter uma “baixa autoimagem”. Na verdade, eu almejo espelhar a imagem de Deus em Cristo, pois minha imagem é espelho rachado, e a dele, do Verbo de Deus, que se encarnou e se fez um de nós. Todo poder, toda glória é de Deus – e, se eu roubar um pingo desse mérito para mim mesma, estarei mostrando um simulacro tolo e falso. Na verdade, só podemos conhecer a nós mesmos à medida que conhecermos melhor a Jesus Cristo, porque nele reside toda a sabedoria.
     Tenho de aprender a não tentar “endireitar os outros” nem rejeitá-los por pensarem diferente, mas amar a meus irmãos em Cristo e ser sensível à dor de meu irmão na carne. Que deixemos toda e qualquer soberba fútil, e aprendamos com Jesus Cristo que “subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus, antes, a si mesmo se esvaziou, tornando em semelhança de homens, e reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.” (Filipenses 2.5-8).
Elizabeth Gomes