sábado, janeiro 13, 2018

SEGUNDA CHANCE



Algum tempo atrás, um membro da igreja comunicou que não participaria mais de nossa comunidade porque tínhamos oficiais da igreja que haviam divorciado e estavam em seu segundo casamento. Sentimos a perda desse irmão valioso, mas não poderíamos rejeitar as pessoas que estavam vivendo a vida cristã no lar com fidelidade em uma segunda oportunidade, e faziam parte da família da fé. Alguém, querendo dar “justificativa para o casal de ex-divorciados, afirmou: “Mas ele foi a parte inocente, portanto a Bíblia permite um novo casamento”.

Não sei se era ele parte inocente ou culpada de um casamento falido trinta anos atrás. Na verdade, todos nós somos pecadores culpados diante de Deus, e nos delicados relacionamentos entre homens e mulheres, não estamos isentos – nenhum de nós – de pecado contra a integridade do casamento que foi feito diante de Deus, com enormes consequências que ferem o indivíduo, o casal, a família, e todo o corpo de Cristo. 

Quanto a pecados passados que foram perdoados na cruz de Cristo, há dois aspectos a se ter em mente: 
1) Os injustos não herdarão o reino de Deus (onde habita a justiça de Cristo); contudo, depois de uma longa e feia lista de pecados que impedem a herança no reino Paulo diz reafirma que a redenção é completa: “Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo w no Espírito do nosso Deus”(I Co 6.9-11).
2) Deus apaga nossas transgressões! Quando o profeta lembra a salvação do Senhor Deus para Israel, ele os exorta a se lembrarem da história passada, desde a mais remota (antes que houvesse dia, Is 43.14) passando pela história mais próxima (Babilônia, caldeus Is 43.14-17) para dizer que “não lembreis das coisas passadas, nem considerais as antigas” – Is 43.18) porque “Eis que faço coisa nova... ao povo que formei para mim, para celebrar o meu louvor” (Is 43.21). Isso, apesar dos “contudos”... (v 22-24) pelos quais “me deste trabalho com os teus pecados e me cansaste com as tuas iniquidades”. Por que? Porque “Eu, eu mesmo sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro”! (Is 43.25).

Um estudioso da Bíblia pode argumentar que o texto de Isaías fale da situação de Israel diagnosticada pelo profeta lá pelos anos de 686-650 AC. Afirmamos a interpretação histórica literal – mas cremos que, além dela, toda a Bíblia é “útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2Tm 3.16)—portanto, se aplica a nossa vida de cada dia, aos dias de hoje, às situações complicadas que deparamos no passado e no momento atual. O Deus dos antigos é o mesmo que nos transformou no passado, que está nos transformando no presente, e nos transformará futuramente para a eternidade. “Se alguém está em Cristo, é nova criatura...” (2 Co 5.17).

Uma irmã em Cristo casou e, depois, descobriu que seu marido era homossexual. O casamento foi desfeito; ela tem direito de casar-se com outro, no Senhor. Um irmão em Cristo descobriu que sua mulher o traia repetidas vezes. Na loucura da descoberta da traição, ele também cometeu adultério. Arrependeu-se amarga e sinceramente. O divórcio ocorreu, mas, pela misericórdia do Senhor, ele voltou a servir a Deus. Encontrou uma mulher que também amava a Jesus, casaram-se e estão vivendo em novidade de vida. Uma serva de Cristo suportou muito tempo os abusos físicos e a falsidade do marido, mas abriu os olhos para o perigo que corria, e seu casamento foi desfeito para proteger a integridade física dela e dos filhos menores. São muitos os casos em que, pela dureza dos corações, não existe outra solução prática senão o divórcio. Falando sobre casamento de alguém que se converteu e o cônjuge rejeita a vida nova, o apóstolo Paulo diz: “Mas se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz” (1Co 7.15).

O assunto é longo e complicado, e eu não tenho meios para determinar o que outras pessoas devam fazer em circunstâncias em que eu não me encontrei, senão o conhecimento da Palavra, pelo Espírito. Pastores conselheiros e advogados cristãos têm autoridade para aconselhar sobre aspecto eclesiásticos e legais. O que quero lembrar, neste curto e limitado blog, é que Deus nos oferece “segundas chances” – oportunidades de mudar o rumo da vida, mesmo depois que a destroçamos e temos dificuldade de juntar os cacos para refazê-la.

Deus deu uma segunda chance a seu discípulo outrora falastrão, que negou o Mestre a quem dissera “ainda que todos se escandalizem, eu jamais...” (Mc 14.29) e “ainda que eu morra, de nenhum modo e negarei” (Mt 26.35) três vezes na hora do maior sofrimento possível. Depois da ressurreição de Jesus, esse grande pescador recebeu outra incumbência: “apascenta meus cordeirinhos... pastoreia as minhas ovelhas... apascenta meu rebanho” (João 21.15-20). Após a ascensão de Jesus, Pedro passou a ser, com a escolha de Matias, um líder-servo que transformou a sociedade em que vivia, desde o poderoso discurso do dia de Pentecostes (At 2.14-36) até suas cartas cheias de amor e sua morte como mártir. Por exemplo, no segundo discurso, no pórtico de Salomão (At 3.11-26) Pedro continuou pregando arrependimento e mudança de vida, e quando ordenado calar a boca, o agora destemido servo disse: “Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos”(At 4.20). O apóstolo Pedro é um grande exemplo de homem que, tendo uma segunda chance, usou-a para a glória de Deus. 

Voltando ao tema da “segunda chance” na questão de casamento, divórcio e novo casamento, Deus dá a seus filhos que vivem a “fé arrependida” oportunidades para demonstrar a sua graça em maneiras que nem olhos viram. Para isso, a sabedoria bíblica indica que a pessoa tem de ser “obreiro aprovado, que maneja bem palavra da verdade” (2Tm 2.15) e que, para essa aprovação, deve haver “prova de que em tudo sois obedientes” (2 Co 2.9) “para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não ignoramos seus desígnios” (2 Co 2.11).[Estes dois últimos textos se referem à atitude da igreja para com um irmão que havia cometido pecado muito sério, foi disciplinado, se arrependeu, e foi restaurado à comunhão]. 

Um casal que tenha recebido uma “segunda chance” não poderá, de imediato, ser responsável pela liderança de ministérios de casais, assim como o pastor que esteve caído nessa área e hoje é restaurado não deverá ser imediatamente conselheiro de casais. Isso seria como colocar um ex-pedófilo para liderar o ministério com crianças, ou um homem que espancava a esposa para cuidar de uma casa para mulheres que sofreram abuso! O princípio de ser provado e aprovado implica também o de “não impor precipitadamente as mãos”. Deve haver sabedoria e bom senso para permitir que os que já tiveram problemas em determinada não dêem oportunidade ao diabo! Contudo, a redenção é completa e a restauração plena será sempre possível – é o caso de Paulo, o perseguidor, chamado para ser apóstolo.

Depois que adulterou e causou a morte do marido de Bateseba, Davi teve profundo arrependimento e confessou seu pecado (Sl 51.1-19). Pediu ao Senhor que restaurasse a alegria da sua salvação e o sustentasse com espírito voluntário. Disse: “Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos...”— suas experiências negativas passaram a ser usadas para ajudar outros ao arrependimento – mas não possibilitaram que construísse, ele mesmo, o templo! 

Sou grata a Deus que me deu segundas (terceiras e muitas mais!) chances na vida, ainda que a questão de divórcio nunca tenha entrado em nossa própria experiência. Sou grata a Deus por irmãs e irmãos que experimentaram muitos dissabores e dores insuportáveis na vida, e depois de consertar as situações, restauraram a vida e passaram a servir a Deus com integridade. Deus é Mestre Supremo em tomar vidas esfaceladas, dilaceradas, e torná-las inteiras. Com humildade, acate as segundas oportunidades que Deus oferece – vivendo em novidade de vida, usando as experiências negativas para tomar cuidado para, estando em pé, não cair!

Elizabeth Gomes