segunda-feira, agosto 13, 2018

MIL ANDORINHAS NÃO FAZEM VERÃO


Até a cegonha no céu conhece os seus tempos determinados; e a rola, e o grou e a andorinha observam o tempo da sua arribação; mas o meu povo não conhece o juízo do Senhor (Jr 8:7).
Até o pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para si, onde ponha seus filhos, até mesmo nos teus altares, Senhor dos Exércitos, Rei meu e Deus meu (Sl 84:3).

Não sou um homem de oração. Infelizmente. Porque ainda nesta carne, tendo à negligência, à preguiça, à descrença e a toda sorte de rebeldia. É fogo, irmão! Minha oração é fraca, minha disposição para aceitar a resposta de Deus sequer aceita os exercícios espirituais ordenados na Escritura. Tendo também a trocar os termos das ordenanças e promessas do Senhor por desejos do meu coração. Aí, a coisa complica mais, pois as idolatrias que povoam a minha mente tomam corpo nas orações: substituo obediência por legalismo e, devoção, por ativismo – às vezes, pleno marasmo, e acabo discutindo e negociando com Deus acerca do que é bom para mim. Sou mau, não é? E foi por isso mesmo que Cristo precisou morrer por mim, para que eu recebesse toda sorte de bênção nos lugares celestiais, entre elas, o acesso ao Pai, em oração. O Espírito que procede do Pai e do Filho convence-me de que o poder se aperfeiçoa na fraqueza e de que quando sou fraco é que sou forte. Pela graça, ainda que eu não saiba orar como convém, o Espírito Santo esclarece a minha alma, intercede por mim e encaminha-me no entendimento da vontade de Deus. De fato, não deveríamos orar para convencer a Deus de alguma coisa, mas para aprender a concordar com a sua vontade. 

Mil orações, mil pessoas orando, mil reuniões de oração não instruem o Senhor Criador e Redentor. Antes, a oração de homens como nós, como foi Elias, feita segundo a vontade do Pai por meio do Filho e da assistência do Espírito, recebe do Senhor a bênção da promessa. Pessoas que conhecem a própria fraqueza e aprendem a orar, fazem reuniões de oração, mas reuniões de oração não fazem pessoas de oração.

O período acima causou um mimimi, que me pegou de surpresa. Na igreja que auxilio, a IPP (Igreja Presbiteriana Paulistana) mantemos, após o culto público, um tempo de perguntas e respostas sobre a mensagem e o próprio culto. Nessa oportunidade, uma senhora que começava a frequentar as reuniões, pôs-se em pé, e questionou minha espiritualidade. Surpreso ao ser interpelado de maneira menos amorosa, fiquei constrangido (vergonha alheia) com a quietude do marido ao lado. Respeitosamente, respondi apenas que o objetivo da mensagem, baseada no Pai Nosso, era o de despertar em nós todos, principalmente em mim, uma espiritualidade qualificada. Com isso, quis enfatizar o crescimento em santidade. A verdadeira espiritualidade consiste em viver de conformidade com a vontade de Deus, na Escritura e no Espírito. As tentativas de espiritualidade promovidas pela carne, no mundo e na igreja visível, são compostas de ações religiosas sem um redentor. São exibições não recomendadas de obras da carne. Daí, o Senhor ter dito que, em vez de orarmos para sermos vistos pelos homens, deveríamos orar no segredo do nosso quarto. A oração privada instrui a oração pública e transmite graça. Quem aprende a orar em secreto não pede oração pública que revele fraquezas e pecados de outras pessoas, irmãos, marido esposa, filhos, e daí em diante. Assim, boas reuniões de oração resultam do exercício espiritual que promove o fruto do Espírito. “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei” (Gl 5:22-23).

O que digo da comunhão com Deus exercitada na oração é verdadeiro também em termos de todas as atividades derivadas do fruto do Espírito, sejam para o crescimento do ser interior sejam para o crescimento do corpo de Cristo, qualitativo ou quantitativo. Como se vê, o texto bíblico, contrário ao pensamento humano, não separa atos do corpo e atos da alma, mas requer que a pessoa regenerada haja exteriormente de conformidade com a santidade interior: 
Para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus. Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, a esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém. (Ef 3:16-21).

Conforme palavras do próprio Senhor Jesus, o indivíduo regenerado e membro do corpo de Cristo, tem de ser:

  1. humilde ou pobre de si mesmo, 
  2. choroso com o que faz Deus chorar, 
  3. manso ou abnegado quanto aos próprios direitos, 
  4. faminto e sedento da justiça de Deus,
  5. misericordioso, 
  6. limpo de coração por meio da confissão com base na obra de Cristo, 
  7. pacificador, 
  8. disposto a sofrer perseguição por cauda da justiça do reino, 
  9. contente com a disposição de Deus para a sua vida, e
  10. sal da terra e luz do mundo – em função do propósito de Deus para o indivíduo e igreja e da igreja no mundo. (Cf. Mt 5: 2 a 13.)


Assim, nosso entendimento na formação da IPP, foi que a pessoa em quem o Espírito opera essas coisas, está apta a promover as atividades requeridas no crescimento primeiro dos membros individualmente e, depois, do corpo de Cristo. A diretriz do processo apresenta um modelo seminal quádruplo: instrução, comunhão, a adoração e serviço. Se lembrarmos dos processos ditados na Palavra, reconheceremos o que foi dito: que é vital o conhecimento do Senhor e sua vontade, revelados na Bíblia; que o amor é o motivador primário para o indivíduo membro e para os relacionamentos do corpo; que a adoração de Deus requer instrução e comunhão; e que o serviço aos da família da fé e o serviço aos de fora é fruto dessa integração de fé e prática.

Como eu disse, a minha oração é fraca, também na comunicação às pessoas. Por isso digo, de novo, noutras palavras: uma andorinha não faz verão nem uma reunião fará mais do que entretenimento. No entanto, uma pessoa nas mãos do Senhor será bem-aventurada tanto na frutificação de obras internas quanto de obras externas. A oficialização dos diversos trabalhos internos e externos da igreja poderá acontecer quando a planta estiver arraigada e fundada em amor, e pudermos compreender com a igreja qual sejam as medidas do plano de Deus. Creia nisso—o Senhor faz e fará a sua obra abundantemente mais do que pedimos ou pensamos.


Wadislau Martins Gomes

Um comentário:

Fábio Ribas disse...

Wow! Ontem minha exposição da Palavra foi sobre oração. E que bênção ler sobre oração hoje aqui. Obrigado!!!