quinta-feira, julho 19, 2018

EXORTAÇÃO HUMILHANTE E GLORIOSA


➤ 1 Coríntios 3.18 a 4.16

Para aquecer a mente, vai um termo para comparação. As eleições já estão às portas! Vêm com algum atraso com respeito à propaganda e com mais maquilagem do que o conto do Ipiranga. As margens populares, menos plácidas, sequer atentam ao grito das promessas enganosas de siglas e de refrões antigos. Como vai o ditado: mudam os cães, permanecem as coleiras. Tem coisa pior? O pior é que tem! 

A Escritura diz que os espertos deste mundo são apanhados por Deus “na própria astúcia deles”. São tão enganadores que enganam a si mesmos. Deus os tem por loucos, pois conhece seus pensamentos vãos. É preciso lembrar de que todo voto é uma escolha moral autobiográfica. Assim, na hora de escolher os candidatos à governança, teremos de, antes, votar no coração: escolheremos a estultícia humana ou a sabedoria de Deus?

Daí, então, em quem votar? A resposta terá de vir da nossa consciência diante do Rei Jesus—e cada um tem a obrigação de pesquisar para conhecer mais e escolher bem. Para isso, a Palavra de Deus descreve o homem bom e o homem mau, a fim de que, sob a orientação do Espírito em humilde e obediente oração, cada um declina o seu voto.

Essas coisas valem também para os eleitos da fé. Os escolhidos de Deus são também os eleitores dos enviados do Senhor. Ao escolher os que hão de expor a Palavra e reger o corpo de Cristo, deveríamos ter maior cuidado do que em relação às coisas temporais. Os ministros deste mundo, instalados por Deus, afetam a vida que perece no pecado, nos limites da sua decadência. Os “ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus” afetam a vida eterna, a que é agora e a que está por vir, devendo ser fiéis na palavra e no trato. 

Aí é que está a diferença entre a consciência do regenerado e a do não regenerado: o não regenerado não pode escapar ao engano e ao autoengano. O regenerado, por sua vez, pode deixar de enganar e de enganar-se. “Ninguém se engane a si mesmo”, diz a Bíblia, e aponta a motivação do coração: ou nos gloriamos em homens ou em Deus.

A este ponto, o foco da história e da notícia volta-se inteiramente para a consciência. Qualquer escolha—seja partidária seja ideológica seja expediente seja senso romântico de bondade seja ciência seja qualquer outra coisa—terá de levar em conta a luta que se trava nos lugares ocultos nas ruas e nos corações. Novamente, “ninguém se engane a si mesmo … Ninguém se glorie nos homens”, quer em outros quer em si mesmo. 

Na igreja de Corinto, uns votavam em Paulo, outros em Apolo, outros em Cefas, e, outros em Cristo, e o problema não residia na escolha, mas no autoengano da exclusividade em termos humanos. Somente Deus é exclusivo em sua singularidade e inclusivo em seu amor. Por isso mesmo, a  autoglorificação é engano e autoengano, pois sequer tem realidade própria em que se sustente. 

Nas escolhas da carne, não nos baseamos na soberania de Deus, mas no nosso próprio juízo para estabelecer quem não me agrada, barrando-o de aparecer no nosso horário eleitoral (conversas, citações, palestras, e daí em diante). Esquecemo-nos de que pessoas e coisas, “seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é” nosso, e nós, “de Cristo, e Cristo, de Deus”.

É duro sabermo-nos vaidosos julgadores de pessoas e de situações, baseados na inerrância e infalibilidade de nossa própria consciência. Se alguma coisa nos fere—gosto, culpa, inveja, medo—rápidos votamos contra ou pedimos o impedimento, em franca desobediência ao preceito bíblico: 
Estas coisas, irmãos, apliquei-as figuradamente a mim mesmo e a Apolo, por vossa causa, para que por nosso exemplo aprendais isto: não ultrapasseis o que está escrito; a fim de que ninguém se ensoberbeça a favor de um em detrimento de outro. 

Paulo diz estas coisas, politicamente incorretas para os legalistas e outros incrédulos, com cunho bem pessoal, nominando-se e aos tais. Ele o faz, entretanto, no Senhor: 
Porque de nada me argúi a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor”—isso, depois de dizer: “a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós ou por tribunal humano; nem eu tampouco julgo a mim mesmo.

Além da ousadia para defender-se do desprezo que alguns lhe dedicam em função do mesmo legalismo (que é descrença e culto de si mesmo), Paulo exorta com a autoridade do Espírito, no registro bíblico. Isso é soberba, diz ele, de quem recebeu do alto por meio do mestre muito do que tem, e sente-se rico, de nada mais precisando. Quanto a ele mesmo, o apóstolo diz: 
Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos; quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos. 

Ele não escreve isso para envergonhar quem quer que seja, mas admoesta como pai ao filho, para que a glória seja de Deus e não de homens. 

Quanto ensino! Quanto aprendizado! Quanta humilhação da minha própria alma! Quanta glorificação do Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Diante de tamanha piedade e contrição, o Espírito faz-me clamar: 
Preparas-me uma mesa na presença dos meus adversários [quer o Adversário dos meus pecados quer meus adversários pares], unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda. Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre (Salmo 23.5 e 6).
Wadislau Martins Gomes

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