terça-feira, junho 28, 2011

PROCISSÃO, MARCHA E PARADA

Rafael (1483-1520). Detalhe de A Procissão ao Calvário, ca. 1504-5.

Chegando as festas juninas, alguns pais protestantes se ouriçam. É culto de santo! – dizem. Os filhos, desconhecendo a razão, continuarão a protestar contra a atividade festeira. Nem adiantará argumentar que é folclore. Uns seriam, até mesmo, capazes de responder: Que folclore que nada. Nunca vi festa de saci-pererê... Até aí, tudo bem; dá gosto de ver! Entretanto, param aí. No restante, acomodam-se como mingau de aveia no prato. Pouca coisa mais incomoda, nem mesmo outras caminhadas sem destino.

Os três termos – procissão, marcha e parada – descrevem gente em desfile. A diferença está na cara dos cultores. Uns trazem cara comprida, escorrida como de mamão macho ou de amendoim em casca, e vão devagar com o andor porque o santo é de barro; outros vêm de caras limpas, alegres, canoros, misturando bandeiras de verdades e falsidades que ninguém pode saber se portam; e outros, ainda, ruidosos, reivindicativos, exibem a cara pintada e a alma pelada.

A coisa em si teria algum mérito, não fosse uma motivação errada. Os que lembram a história da cruz, em procissão, deveriam saber o sofrimento – não o dó piegas que infama a Cristo, mas as dores do nosso próprio pecado que o levou ao sacrifício –, pois, de outra maneira, apenas exibirão ao mundo a crença de que ainda estão sob a ira de Deus. Os que conhecem o Senhor pessoalmente deveriam marchar “de modo digno da vocação”, isto é, com verdade praticada em cada passo da vida, para mostrar que estão salvos da ira. Os que não conhecem o Senhor porque rejeitam o conhecimento de Deus, deveriam entender que a parada do “curso deste mundo” (Ef 2.1a-2) apenas publica uma ira pecaminosa contra a ira justa de Deus (Rm 1.18-32).

Com o perdão da expressão, préstito é coisa mais antiga do que andar pra frente. Em Israel antigo, a procissão era uma prática bem conhecida: Lembro-me destas coisas – e dentro de mim se me derrama a alma –, de como passava eu com a multidão de povo e os guiava em procissão à Casa de Deus, entre gritos de alegria e louvor, multidão em festa (Sl 42.4; ver Ne 12.32; ver também Mt 11.7-10). A marcha, também, tinha razão de ser: ...segundo o mandado do Senhor, se punham em marcha; cumpriam o seu dever para com o Senhor (Nm 9.23; cf. Js 6.1-21). Quanto à parada reivindicativa contra a palavra de Deus, diz Êxodo 23.2: Não seguirás a multidão para fazeres mal; nem deporás, numa demanda, inclinando-te para a maioria, para torcer o direito (cf. Mt 26.47).

Contudo, a parada do cristão é algo mais lúcido, maior e mais belo, do qual as procissões e marchas do Israel antigo são apenas sombras para a presente realidade: ...comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo (Cl 2.16-17). Para os verdadeiros adoradores, a procissão é a vida da igreja e seus andores são as vidas dos seus membros, em que somente, invisível, está o único trino Deus. Sua marcha espiritual não é movida para conquistar reinos, senão aquele para o qual fomos conquistados (Fp 3.12), nem milita contra carne e sangue (Ef 6.12). De fato, somos espetáculo para o mundo (1Co 4.9), tanto de opróbrio quanto de tribulação (Hb 10.33) para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais (Ef 3.10).

Quer procissão? Parada alegre? Marcha vitoriosa? Veja a receita do Salmo 15, de Davi:

1. Davi e o povo iam à Casa do Senhor:

Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte?

2. A proposta era uma de caráter e de andança em toda uma vida:

O que vive com integridade, e pratica a justiça, e, de coração, fala a verdade;

o que não difama com sua língua, não faz mal ao próximo, nem lança injúria contra o seu vizinho...

3. A caminhada da vida é feita retamente e com discernimento:

o que, a seus olhos, tem por desprezível ao réprobo, mas honra aos que temem ao Senhor;

o que jura com dano próprio e não se retrata;

o que não empresta o seu dinheiro com usura, nem aceita suborno contra o inocente.

Quem deste modo procede não será jamais abalado.

Wadislau Martins Gomes

quarta-feira, junho 22, 2011

ESSE NEGÓCIO DE IGREJA


A moda pegou! As fachadas garganteiam os nomes mais diversos: “igreja do santo cuspe”, “da oração poderosa”, “universal/internacional”, “comunidade” e daí em diante; muitas evitam o termo “igreja”. Agora, gospel e evangélico sinonimizam uma cultura estereotipada que a gente não sabe se aprova porque, afinal, alguém ama a Cristo, ou se detesta até a roupagem usada porque, no final, desobedecem e depõem contra o Senhor da igreja. Tem igreja “de sucesso”, de “propósito” (só de ter propósito), de “sinais e maravilhas”, de “prosperidade” física e financeira e, até mesmo, “melhor do que as outras” – tudo no melhor do estilo igredianetics. Como todas as flutuações do tempo, essa moda também tem adeptos e críticos, ambos com capacidades para serem construtivos e destrutivos, e isso deverá inspirar cuidado quando à nossa consideração.

Primeiro terá de haver um exame pessoal honesto a fim de evitar autoenganos; esses são os berços de enganos dolosos e culposos. Será preciso uma autossuspeita sadia. Isso quer dizer uma ideia bíblica de que, mesmo redimidos e revestidos de nova natureza, ainda vivemos em uma batalha de carne contra Espírito. O jeito será o de encarar toda a fraqueza e tendência para o pecado que ainda restam em nós, depender da obra salvadora de Cristo, e receber para o melhor as críticas mal e bem intencionadas. Uma boa resposta de um coração transparente seria: “Já pela manhã, duas pessoas apontaram para o meu pecado; de uma, ouvi a voz da esperança que me motiva a abandoná-lo, de outro, o arremedo de voz que pretendia me paralisar sob peso de culpa – da parte de quem é que você vem?

Assim, relembrado o drama da cruz – em que a cobra ia cantando vitória ao pinçar o calcanhar do crucificado e, de repente, se deu conta de que era esmagada sob seus pés – poderemos proceder a uma consideração honesta (1Co 4.1-5). Igreja que é igreja, verdadeira, tem características inconfundíveis. Nela, o Nome é visto e ouvido no comportamento e nas palavras dos crentes (2Co 12.6). Por exemplo, “Jesus é Senhor” não é refrão de canto nem bordão de esquete; muito menos é frase de propaganda (ver  Mt 7.21). Na verdade, é uma declaração do pacto entre o Senhor e seus servos, em que o Senhor Jesus Cristo é o soberano redentor e nós, seus filhos, irmãos e servos.

Os que se bandearam para outros senhores com nomes parecidamente religiosos e os que, cansados de guerra, procuraram alvos e estratégias mais remansosas, os dois grupos têm um ponto de razão: ambos viram e ouviram um comportamento capenga e uma palavra frouxa (fofa e frouxa!). De um lado do caminho estavam os que criam na Palavra de Deus e, sem sucesso, tentavam segui-la por meio de suas próprias forças. “Creia e obedeça”, era o dito. Do outro lado, estavam os que não criam na Palavra e tentavam justificar o papel da religião na força motivadora do homem. O que realmente deveriam ter visto e ouvido, isso faltou: uma obediente crença na Palavra de Deus baseada em um relacionamento de amor com o Deus da Palavra.

Cristãos tradicionalistas pensam em termos de culto rígido, hinódia sacramentada, programações engessadas e linguagem igrejeira. Os progressistas, além de abolição do “velho”, pensam em termos de culto aberto e amistoso, cantoria pop, programação centrada no cliente e linguagem popular igualmente igrejeira. Ambos os grupos sequer percebem que patinam no barro ladeado de pregadores sem Palavra e cujo comportamento não mostra intimidade com Deus em Cristo e no Espírito. Tristemente, o que a maioria deixa ver nas palavras e nos atos é uma vontade rebelde contra governos estabelecidos e o desejo de estabelecer governo próprio.

 A igreja que é igreja tem um negócio a cuidar, e esse é fazer a vontade de Deus, como Jesus disse: Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe (Mt 12.50). Não é coisa de mercado, política, entretenimento e esse negócio todo. O Senhor advertiu em sua Palavra que atentássemos ao bom mercado, à boa política e ao bom e sábio entretenimento (Jo 2.16; 2Co 12.17; Rm 13.1-8; Pv 8). Mas quando qualquer deles toma o lugar do Senhor, vira idolatria. Nosso negócio é o de viver e anunciar o evangelho que transforma o crente em filho, irmão e servo! E isso só será possível, se o filho estiver em comunhão com o Pai, se crescer para ser irmão do Filho e primeiro Irmão, e se amadurecer sob a tutela do Espírito para ser servo de Deus e dos irmãos em Cristo.


A igreja é a família de Deus. Filhos de Deus tratam uns aos outros como bons pais e filhos; irmãos de Jesus tratam uns aos outros com afeto, dignidade e preferência; e servos do Senhor servem uns aos outros em obediência à Palavra, com alegria no Espírito (Gl 4.18-19; Rm 8.29; Cl 3). Isso havendo, não importará o escrito da fachada – o nome de Jesus Cristo será reconhecido. Os crentes cultuarão a Deus da maneira como ele quer ser adorado (Jo 4.23) e o evangelho ecoará e será visto por todas as nações (Mt 28.16-20).


Wadislau Martins Gomes

segunda-feira, junho 13, 2011

GOLPE, REVOLUÇÕES, FERIDAS E PAZ


NOTA: Quando junto com papai preparava este texto dele para publicação no coramdeocomentário, decidi que não poderia deixar de usar da prerrogativa de uma breve introdução editorial. O texto me trouxe lágrimas aos olhos... É meu pai, falando de meu pai e de uma história da qual ele não gosta muito de falar.  Não é meu pai falando apenas das coisas que Rev. Wadislau fala – coisas como Bíblia, teologia, igreja, a igreja no mundo e coisas do coração...  Esse é ele falando de dor, não só a dor já no passado, mas a dor de cicatrizes que ainda marcam seu corpo e seu coração.  Marcam também o meu, pois vivi parte desta história, ainda que nascido depois que a graça já havia alcançado o Lau, no acampamento Palavra da Vida, em 1964. 

Papai não diria isto, pois faz questão que esse texto não contenha suas reivindicações pessoais, mas eu gostaria de ver os documentos referentes à sua prisão, à tortura, os arquivos do DOPS e o escambau.  Oro por aqueles que denunciaram, prenderam e torturaram meu pai – até mesmo os verdugos do pau-de-arara... Oro também pelos seus antigos companheiros de luta – até mesmo os traíras que o deixaram para trás... Aprendi que posso orar por eles porque vi a graça de Deus que fez de meu pai o companheiro meigo e bondoso que hoje tenho na casa ao lado, na igreja e no coração.  Hoje, oro junto com ele pelo Brasil, na esperança de que o testemunho de nossos irmãos em Cristo ainda faça dele uma nação mais cheia daquela maravilhosa graça comum que Deus derrama sobre justos e injustos.

Davi Charles Gomes
Filho, irmão e amigo

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"Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei." reza o princípio maior sobre minha vida (1Pe 2.17). Por isso, Senador Sarney, temo a Deus e trato-o, aqui, com honra de presidente. No entanto, por amor aos meus irmãos pela adoção no sangue de Cristo e aos do sangue brasileiro, não posso concordar com feridas mal tratadas. Certamente, uma das causas de vivermos tanta miséria e violência, e de experimentarmos frustração na aplicação de medidas corretivas, vem de um tipo cultural de politicagem e revisão histórica em que a impunidade é quase um hino nacional. A mesma lei maior, falando dessas causas e consequências, diz também: "Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, contusões e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem atadas, nem amolecidas com óleo" (Is. 1.6).

Não sou de "esquerda", "direita" ou "centro", nem "pós" ou "neo" coisa nenhuma; muito menos, "neutro" ou "amorfo". Hoje, com 66 anos, mantenho uma cosmovisão cristã que me permite transparência e modéstia na guarda do meu coração. Nem sempre foi assim. Quando menino, entre dezoito e dezenove, minha polivisão era uma gangorra em parque de diversões. Livros da estante de meu pai mostravam-me um mundo constitucional, enquanto um homem de leis e alguns amigos preocupados me apresentavam livros de um mundo em revolução. Optei pela mocidade. O discurso de defesa de Fidel tomou o lugar da minha Bíblia. Não é preciso dizer, aqui, que a revolta já havia comprado meu coração a preço absurdo de inflado.

Foi no dia 1º de Abril de 64 que a mentira me pegou. Garoto, civil posto para ser poema de Bilac no Tiro de Guerra, fui arrancado de o lado de meus pais, da fortaleza protetora de minha casa. Cães e homens de farda verde e de farda preta violentaram meu mundo como quem dita a vida! A cela da cadeia substituiu minha sala de aula. Seis presos condenados por crimes de outra ordem ensinaram-me o que significava ser "preso político". Deixando de lado tapas e chutes regados com saliva e sanha, aprendi que "quantas" e "contras", ambos os lados viviam revoluções. Graças a Deus, um preso com uma Bíblia e um diretor de presídio com uma pistola vieram em meu socorro contra agentes sem nome, sem documento e sem esperança.

A mesma graça de Deus que abriu meus olhos brasileiros como abriu o Mar Vermelho para os hebreus, e que usou o preso crente e o delegado consciente, fez-me também conhecer a paz de Cristo paz com Deus e com os homens de boa vontade. Mudei. Passei a viver e a falar da esperança de um novo mundo sem revolta. Certamente, não porque temi a homens, mas por temor a Deus. Foi uma transformação sofrida, mais do que a de menino sendo aterrorizado com requintes de programa de TV moderno, instado a entregar qualquer um para que repetissem o delírio. A transformação de Cristo foi mais sofrida que as das revoluções sociais e violências individuais; teve traição, teve sangue, teve dor de ver o vergaste da mentira nas costas da realidade. Mas teve paz. Paz de ferida lavada, pensada, curada. As cicatrizes são provas de que sobrevivi.

Sete anos depois, já havia estudado a Palavra de Deus e coisas pertinentes à tarefa de ministro do Evangelho e cumpria meus deveres pastorais. Foi quando vi a igreja que visitava como pregador ser invadida por uma turba igual a que vira, antes, em casa. Fugi. Deixei mulher e filhos, a fim de buscar ajuda da sensatez. Entreguei-me a autoridade inteligente e manejei me safar de mais feridas brasileiras.

Aí, então, Senador com honra presidencial, é que eu pergunto. As feridas vão ficar aí? Mal lavadas? Purulentas? E olhe que não é só torturador que se pela de medo. Tem muita gente "boa" hoje, torturada, que se mela de medo que descubram a quem foi que entregou. Mas não tem nada não. Conto mais uma. Estava em um acampamento de jovens cristãos, e disse-lhes como o Senhor Jesus havia me tirado de propostas de lutas de poder inglórias, para os sofrimentos e glórias de sua luta. Logo depois, fui procurado por um senhor, uns quinze anos mais velho do que eu, que me mostrou uma fotografia. Custei a reconhecê-lo, tão mais novo no retrato. Mas quando vi em seus olhos a tristeza do passado e a esperança da alegria do presente no futuro de Cristo, eu soube o que fazer. Estreitei a mão do meu torturador e, juntos, limpamos a ferida.

Vamos lá, Senador Presidente! Cristo pode mudar sua visão sobre feridas e curas!







Wadislau Martins Gomes

domingo, junho 05, 2011

NÃO SOU HOMOFÓBICO


Para não criticar sem conhecer, dei uma olhada no material do “kit contra homofobia”, do MEC. Depois de ver a coisa toda, o que ficou na cabeça foi uma sensação de viver no país do Pica-Pau Amarelo, do Monteiro Lobato, pleno das reinações de Narizinho com o pó de pirlimpimpim. No final de “A Reforma da Natureza”, Emília diz: “O nosso segredo é o faz de conta” – e, diante do desentendimento do Dr. Zamenhof, a boneca de pano conclui – “Pois faça de conta que entende” ( A chave do tamanho, SP, Brasiliense,1976, p. 124).

Como exemplo, um vídeo do kit, “encontrando José Ricardo”; pena que em nosso Sítio sempre mudem o nome do filme; saiu: “Encontrando Bianca”. Os argumentos do José Ricardo para a transformação da natureza têm a mesma consistência do reino encantado de Taubaté. Sonhos paternos de sucesso e pé na bola, sobra de piadas, unhas pintadas de vermelho, gripe fingida, preconceitos, roupa nova, troca de nome, sentir-se mulher e o grande desejo de usar o banheiro feminino – nada disso constitui argumento. Antes, relata uma história do coração que revela causas mais profundas. Usar o banheiro feminino não é sonho só do José; é sonho inconfessado de adolescentes e outros mal crescidos, e esse problema é o menor. Há problemas verdadeiros a serem discutidos.

(i) Um deles, josés e biancas, é o do tratamento do mau preconceito (pois há bons preconceitos como, por exemplo, o preconceito contra o mau preconceito). Nada justifica um ataque a alguém sem que haja causa justa e perigo iminente. Todas as pessoas, independentemente da identidade projetada, portam a imagem de Deus em virtude da Criação. O fato de a pessoa natural se encontrar carente do reflexo adequado não significa que deverá ser mal amada. Com efeito, todos pecamos, de uma ou outra maneira, e alguns de nós carecíamos do entendimento de Deus (Rm 3.23) até que fomos refeitos à imagem de Cristo (2Co 4.6). Portanto, não nos cabe julgar as pessoas, mas mostrar-lhes o amor de Deus pelo pecador (Jo 3.16). Entretanto, isso não quer dizer que tenhamos de mudar nossa consciência cristã, fazendo do ruído do “eu” autônomo psicologizado e do super pó emiliano, uma imposição curricular.

(ii) Outra questão é a do próprio preconceito, isto é, da pressuposição que, quer queiramos quer não, está na base de todo comportamento. Algumas pessoas dizem que uma preferência de orientação sexual diferente da identidade sexual é coisa pecaminosa e causa de conflitos. Outras, dizem que esse tipo de preconceito é a própria causa de conflitos, e que os escolhedores ou indecisos necessitam de terapia. Contudo, os "sem preconceitos" acabam demonstrando preconceitos maiores. Por exemplo, a “terapia de identidade sexual” (Throckmorton & Yarhouse, 2006) faz isso ao propor uma congruência pessoal, confundindo potenciais conflitos de identidade sexual com religião e (pasme!) tratamento de desordens tais como dor crônica, abuso de drogas e depressão. Aí, vem a pergunta: o conflito existe porque a pessoa quer escolher e a cultura tradicional não deixa, ou o conflito existe porque fomos criados por Deus com identidade sexual definida e preferimos viver sem as restrições de Deus?
(iii) O bom senso leva a crer que valores tais como sexo e sexualidade sadia devam ser ensinados não só na escola, mas em casa, na igreja e em outras devidas esferas de autoridade. Entretanto, faz crer também que não é papel do governo determinar quais sejam esses valores nem impor sua própria ideia de quais sejam sadios. Como é que fica? No caso da Emília, a boneca ditadora, quando confrontada com a monstruosidade das consequências da reforma da natureza, decidiu: “Sempre achei a natureza errada...” – para que vaga-lume piscar-piscar, tanto beiço na Anastácia e dois chifres numa só vaca – “Erradíssimo. Eu... deixava tudo um encanto...” (op. cit., p. 90). Assim é que as leis são passadas em nosso Sítio. Emilianos e viscondes de sabugosas, de uma penada, querem transformar a natureza. Para quem achar ruim, vai a pecha, como encanto: homofóbico, homofóbico, homofóbico!

Não, não sou homofóbico. Sou homomórfico, preservando a igualdade e as diferenças (função biunívoca) da sexualidade e da relação sexual dentro do casamento. Sábia mesmo foi tia Anastácia que recomendou: “Não se ponham a ajudar os pintinhos a sair da casca senão eles morrem... Pinto sabe muito bem se arrumar sozinho. E não se esqueçam de molhar as mudinhas de couve lá na horta” (op. cit., p. 92).

Wadislau Martins Gomes