Em
tudo, dai graças, porque esta é
a
vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.
In every
thing give thanks: for this is
the will of
God in Christ Jesus concerning you.
1Tessalonicenses 5.18
Está chegando o dia “oficial”
de ações de graça, e eu, nessa gangorra de pensamentos interculturais, fico
cutucando a musa. Nos Estados Unidos, é um feriado nacional que relembra quando
os peregrinos (inicialmente esses colonos do novo mundo eram reformados
calvinistas que fugiam de perseguições religiosas em seus países de origem)
celebraram um culto de ações de graças porque depois de terem sofrido dois
invernos devastadores que dizimaram seu povo. Tinham agora uma colheita farta
daquilo que plantaram e estariam guardando para os próximos meses de escassez.
Para o banquete, convidaram os americanos nativos (lê-se índios) que os haviam
socorrido nas suas aflições, dando sementes para o plantio, ensinado a pescar,
caçar e colher os frutos da terra. Os convidados se viam não como quem tivesse
carta branca para se empanturrar, mas como honrados e dignos colaboradores;
trouxeram também suas comidas para compartilhar com esses claros e desajeitados
colonos de um Deus único, linguagem complicada e muitos estranhos costumes.
O Brasil, copycat, não implantou muito bem esse dia. Apesar de ter havido
esforço desde o empenho do Bradesco dos anos sessentas, de celebrar o Dia
Nacional de Ação de Graças, o Brasil se copiou mais o comercializado Black Friday dos shoppings e sites.
Somos bombardeados por ofertas de “80% OFF” de objetos de consumo que não
necessitamos, num frenesi de compra, compra, gaste, gaste, eu quero, eu
preciso—e esquecemos de dar graças pelas grandes bênçãos e pequenas vitórias em
que vivemos e nos movemos.
Verdade é que muitos na
América do Norte também se esqueceram de sua história de fé e enxergam o dia
como dia de comer peru, assistir o jogo de
football (o americano, não o nosso esporte nacional que eles denominam de soccer),
juntar parentes que só se comunicam uma vez por ano. Por que peru? Porque para
debelar a fome, os índios ensinaram a caçar a ave “in the wild”.
Eu já comprei meu peru da
Sadia, que vou assar e oferecer aos cerca de cinquenta jovens de variadas
idades da nossa igreja (IPP) que vêm em casa no sítio no sábado (porque aqui em
nosso estado não tem feriado na quinta-feira) para um almoço comunitário.
Espero que os outros quarenta e nove também tragam comida e bebida, porque um
peru é pouco para tanta gente! O Senhor Jesus estará presente, sim, mas na
presente era não esbanja o milagre da multiplicação dos pães e peixes do Novo
Testamento sobre crentes da posmodernidade, que deverão aprender a trabalhar
pelo pão nosso de cada dia enquanto simultaneamente descansam no Senhor da Vida
que tudo provê. Mais um dos pensamentos e fatos que precisamos aprender a
pesar, equilibrar, compartilhar e fazer multiplicar.
Lembro um Thanksgiving de alguns anos atrás em Philadelphia, quando
convidamos meu tio Philip Stowell para nossa mesa. Eu fiz uma abóbora recheada
de camarão, à moda brasileira, e ele nos presenteou com a historia de quando, no Navy na segunda guerra mundial, ele era ajudante de
cozinheiro, e prepararam peru recheado de “oyster dressing”—recheio de ostras—para
centenas ou milhares de soldados gringos com saudades de um verdadeiro banquete
de ações de graças. A propósito, tínhamos nesse almoço em Philly também um
‘stuffed turkey” cuja ave foi presente de nossa amiga (minha boss no trabalho e esposa de pastor da
igreja que frequentávamos in exilio, Nina)
e os fixings de cranberry sauce, corn, creamed
onions, outros vegetais e cornbread.
Uma mistureba internacional!
Sei que o nosso almoço não
chegava aos pés daquele que Uncle Phil descreveu, mas estávamos e éramos gratos
pelas misericórdias e providência de Deus em nossos tempos de escassez como
também nos banquetes que Ele sempre nos oferece. E pudemos, nós “estrangeiros,
esquisitos, de costumes diferentes” compartilhar com meu tio “all-American New
Englander” desde os tempos de Cotton Mather e Pocahontas, um pouco da alegria
de Jesus. Como milhões de idosos norte ou sul-americanos, ele estava
extremamente sozinho, e nós esbanjávamos família.
Moro numa cidade fundada por
bandeirantes de origem portuguesa que fincaram raízes em Mogi das Cruzes há
mais de 450 anos. Lau é descendente dentre os quais um bandeirante deles com a
ameríndia Bartira. Eu estou relembrando antepassados que atravessaram o oceano Atlântico
em barcos pequeninos e construíram a machado, pá e toscos instrumentos, primeiramente
a igreja e escola, para depois edificar seus lares em que tinham muito poucos bens—mas
liam, e conheciam a Bíblia, e a compartilhavam. Lembro da relação de David
Brainerd com os índios menos de cem anos depois daquela primeira colonização, e
vejo a sombra de gente moldada pela Palavra, com o coração inflamado por
missões, firmados na Rocha e que, por mais que lhes faltassem os bens
“essenciais”, sempre tinham fé no Deus que os elegeu para serem seu povo.
Passo um fast-forward
ao vídeo deste final de semana e procuro equilibrar minhas divagações sobre
comida, receber os amigos, dar e receber, agradecer em tudo e por tudo, com as
histórias do primeiro Thanksgiving no Novo Mundo e as ações de graça do povo
hebreu no deserto, em que, apesar das murmurações características do povo de
Deus de antanho e de agora, havia fartura de codornizes em vez de perus
selvagens, maná em vez de cornbread,
água jorrando da rocha no meio do deserto, em vez dos abundantes rios e lagos
da América. Depois, na terra de Israel conquistada, habitada, consolidada,
invadida, depredada, re-edificada--quando encarnou o Pão da Vida e a Água Viva.
Depois da sua morte e ressurreição, enquanto Pedro e companhia limitada
resolveram voltar a pescar e nada conseguiram, Jesus ficou na pedregosa praia e
preparou um café da manhã de peixes na brasa e pão, para falar-lhes sobre o amor
e o pastoreio do rebanho de Deus (João 21.3-24). Antes de sua morte Jesus
multiplicara o lanche de um menino e alimentara mais de cinco mil famigerados
ouvintes; agora ele mesmo preparou peixe para pescadores mal-sucedidos,
tornando-os em homens que edificariam a igreja, virariam o mundo de cabeça para
baixo, e marcariam a história do cristianismo até os confins da terra. João o
evangelista termina a sua narrativa dizendo que “Se todas as coisas que Jesus
fez fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os
livros que seriam escritos”— essas eram as boas novas pelas quais discípulos,
apóstolos, toscos pescadores e cultos teólogos, gente de todo tipo, desde o
berço da civilização antiga até o ocaso da civilização moderna, têm motivo de
agradecer.
Um dia faremos parte de uma grande
turma que não vão mais render ações de graça locais, nem como costume nacional,
tradicional ou emprestado de outra cultura, nem descendentes de ingleses e
holandeses, de portugueses degredados, escravos ou senhores escravizadores –
grande multidão
que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas (...), todos
os anjos (...) os anciãos e os quatro seres viventes (...) adoraram a Deus,
dizendo: O louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de graças, e a honra,
e o poder, e a força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém!”
(Apocalipse 7.9-12 - ARA)
Aguardo
nosso almoço de Thanksgiving seja ele sábado, quinta feira ou qualquer dia que
nos ajuntarmos para festejar. Mas aguardo mais ainda um banquete de casamento
do Cordeiro em que os convivas serão dos mais variados, e o Dono da Festa,
único Senhor. Você está convidado!
Elizabeth
Gomes
Um comentário:
Linda reflexão, minha irmã. Sinto muito que os brasileiros se esqueçam de ser gratos a Deus por tanta coisa que recebem. Mas eu sou grata a Deus, primeiro pela salvação que tenho em Cristo Jesus, pelo amor imutável do meu Deus e pelo consolo, conforto e direção do Espírito Santo. Aguardando o banquete nos Céus.
Abraço carinhoso
Ilkiss Wilhelms
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