sexta-feira, novembro 28, 2014

DIA DE AÇÃO DE GRAÇAS, UMA VIDA DE GRATIDÃO


Ao redor da mesa, comemorando um dia de ação de graças, dei uma dessas tiradas miserável de espírito: “a ceia está do peru”. Antes de terminar a frase, eu já antecipei reação de misericórdia – só não esperava que o caçula estatelasse os olhos e dissesse, de soluço: “ele falou do peru!” Sei lá em que ele pensou... mas eu, deixei a imaginação curtir a primariedade da minha peruada. A expressão “do peru” tem origem incerta, em referência ao país ou à ave, e é de uso dúplice, com tons de admiração ou de ironia. Por sua vez, o sentido do Dia de Ação de Graças, originado na tradição americana dos peregrinos, ação de graças, nativos, peru etc., aqui na terrinha tem cheiro e gosto de influência bradesca e de esquema comercial – mas, vá lá, se de alguma forma Deus é louvado.

Cá para nós, mais do que bom sentimento ou adorno pessoal, gratidão significa conformação com a vontade de Deus. De fato, ela é compreendida e exercitada na deliciosa e diligente comunhão com Deus e manifestada no reflexo da glória de Cristo por meio dos afetos do coração e da beleza do caráter. A gratidão, em termos bíblicos, é o exercício da fé gerada e motivada mediante o testemunho interno do Espírito Santo e baseada e praticada mediante a bênção da graça de Deus. Em suma, essa gratidão brota do tronco da fidelidade de Deus e frutifica nos ramos da nossa decorrente fidelidade. Foi assim que Paulo tratou o tema:

Orai sem cessar. Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. Não apagueis o Espírito. Não desprezeis as profecias; julgai todas as coisas, retende o que é bom; abstende-vos de toda forma de mal. O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará (1Tessalonicenses 5.17-24).

Do mesmo modo, a gratidão que provém da graça mediante a fé é o vínculo vital da criatura com o Criador e a virtude formadora do caráter cristão. Por meio dela a pessoa conhece a divindade de Deus, a quem não vê, mas que é revelada na Escritura e em Cristo, e reconhece seu controle, presença e autoridade sobre todas as obras de suas mãos. Tais conhecimento e compreensão respondem às questões essenciais do coração humano: quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Assim, fomos criados para espelhar a glória de Deus, estamos aqui para usufruir toda sorte de bênção advinda dessa glória, e vamos para a realização da glorificação final.

Quando compreendido em gratidão e a despeito de possuirmos “este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós”, a presença do reflexo da “glória de Deus, na face de Cristo” (cf. 2Coríntios 4.6-7) estabelece a identidade e o desenvolvimento da personalidade do salvo. Para os não salvos, e para os salvos que os modelam, a ausência do reflexo da glória de Deus e da gratidão torna-os faltos em seus pensamentos e insensatos em seus corações – perdem a prórpia identidade! Foi assim também que Paulo o colocou:

Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis (Romanos 1.20-23).

Portanto, gratidão é mais do que “uma coisa do peru”. Gratidão é habitar em Deus mediante a comunhão pessoal e a habitação da sua Palavra em nós de maneira que nossa expressão verbal para com ele e para com seus filhos e nossos irmãos em Cristo seja rica de graça, e nossa ação, rica da operosidade da fé (cf. Colossenses 3.18-17). Gratidão é uma ação do Espírito de Deus no nosso espírito, inspiração de graça, respiração da alma, motivação de vida. Foi assim que o salmista praticou e cantou a gratidão ao Senhor:

Bom é render graças ao Senhor e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo, anunciar de manhã a tua misericórdia e, durante as noites, a tua fidelidade (...) Pois me alegraste, Senhor, com os teus feitos; exultarei nas obras das tuas mãos. Quão grandes, Senhor, são as tuas obras! Os teus pensamentos, que profundos! O inepto não compreende, e o estulto não percebe isto (...) O justo florescerá como a palmeira, crescerá como o cedro no Líbano. Plantados na Casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice darão ainda frutos, serão cheios de seiva e de verdor, para anunciar que o Senhor é reto (cf. Salmos 92.1-15).

Wadislau Martins Gomes

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