quinta-feira, dezembro 16, 2010

BINGO!


"Se não votar os bingos, não votamos nada", disse o deputado Paulo, o da Força (PDT-SP), no dia 8 de dezembro, lá na terra das grandes decisões. E pensar que, para mim, ainda não saiu o número da sorte! Veja bem, eu não tenho nada contra a sorte; meu problema é com o azar.

(Aqui, tenho de apelar para um parêntese longo, pois não quero ser religiosamente mal entendido. Há quem diga que ser contra bingo é coisa de religioso; que ateu que se preza tem de jogar bingo. Pessoalmente, não sei de que sorte é essa ideia, mas já que um voador chamou esse número, vai lá: a Bíblia não fala nada contra a sorte. No Antigo Testamento, o leitor acha o lançamento de sorte em meio às coisas mais sagradas e em meio às menos santas. O termo sorte (hebraico, gowral), na maioria das vezes, tem o sentido de “parte”, “porção”, “herança”, “fortuna”, “diversidade”, “escolha” e, quando qualificada com a expressão “lançamento de”, é essa sorte que a gente quer e deseja de maneira romântica. Urim e tumim [hebraico e não tupiniquim], que estavam entre as pedras no peitoral das vestes sacerdotais [Êxodo 28.30], eram usadas para saber a vontade de Deus, no primeiro sentido. Não era um “jogo”, mas uma maneira de confirmação divina. No segundo sentido, há menções de sorte lançadas para tomadas de decisão [Provérbios 18.18] e para saber coisas escondidas, como no caso dos marinheiros e Jonas [Jonas 1.7]. No Novo Testamento, há o caso mais conhecido do uso de sorte: “E os lançaram em sortes [grego, kleros], vindo a sorte recair sobre Matias, sendo-lhe, então, votado lugar com os onze apóstolos” [Atos 1.26]. Em tempos mais recentes, os puritanos proibiam as crianças de usufruir o jogo de dados porque era coisa sagrada, só para confirmar oração. Note que não se trata de problema com sorte. Quando ela significa confirmação do Senhor [veja o caso de Gideão e a lã molhada ou seca, Juízes 6.37], não implica pecado. Entretanto, quando pretende substituir a vontade de Deus ou os meios apropriados para o conhecimento dela, então, existe pecado. Miquéias foi direto ao cerne do problema: “Portanto, não terás, na congregação do Senhor, quem, pela sorte, lançando o cordel, meça possessões”. A questão é que ninguém pode depender ao acaso ou “torcer” para obter alguma coisa – Deus tem nossa sorte em suas mãos! [Ver J. Douma, The Ten Commandments, Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1996, pp. 101-104.] Assim confie em Deus, e boa sorte”).

Agora, voltando à prioridade do bingo, o problema é que jogamos demais com o azar. Fazemos isso só na escolha das pessoas que “dirigirão” os destinos da Pátria, e elas mesmas fazem, na maneira como dirigem. “Vê se me arranja aí um projeto que eu ando meio apagado”, diz um, e outro, “vota conosco que nós votamos no seu”, e o governo: “Se aprovarem meus projetos eu deixo vocês jogarem bingo”. A sorte é que há deputado bom, para equilibrar esse azar.

Em um País em que a lei é superior à justiça, a sorte está lançada. Criminoso condenado não fica na cadeia porque a lei diz que, com bom comportamento (!) ele pode sair logo. Cuidado, porém, que se for pego por matar a fome, sem pagar, você acaba tirando uma de vítima condenada. Se não houve crime cometido, pior. Aí, sem processo, sem julgamento e sem as amenidades da lei, é capaz de você ficar pra sempre perdido no tribunal de apelação, entre as petições de advogados idealistas. Mas, sem o bingo, que fazer?

O estado brasileiro é muito paternalista. Digo isso com todo respeito e honra que mereceram os meus pais e que merecem os magistrados civis sob o governo de Deus, diante de quem terão de prestar contas de todos os jogos políticos. Dos dons Pedros a Getúlio, dos generais de plantão ao Lula, é sempre o “painho” que cuida das coisas. E cuida bem! Até a mãe dos brasileiros é uma senhora mãe. E tem mais, brasileiro, porque se sente órfão, gosta disso. Mas quando é que chegará a emancipação da educação, da indústria, do comércio? Quando é que vamos estar maduros para ir e vir sem o controle senão do bem ou do mal que eu fizer? Quando é que os bons serão recompensados e os maus, punidos? Quando é que o bingo dos impostos excessivos, e de leis que desrespeitam o indivíduo em função do “social” (que claramente é uma sociedade de indivíduos), deixará de sustentar corrupção e impunidade? Até quando só o futebol, a TV e a praça serão a sorte do povo? Se pensássemos menos em termos de Roma e circo e mais em termos de verdadeiras prioridades, não estaríamos discutindo sobre coisas que podem ser criminalizadas e descriminalizadas ao sabor das massas. Nem adianta dizer que o lucro do bingo irá para o futebol, projeto minha casa e que mais houver, pois bingo não cria dinheiro; antes tira a casa e a roupa do corpo de muita gente desesperada. Mas, sem o bingo, que esperança?

O direito do menor, então, é um crime. Não que o menor seja criminoso. O direito dele, do jeito que está colocado, é que é. Menor não aprende a trabalhar desde criança, para aprender que trabalho é coisa ruim; não pode ser disciplinado mais firmemente, para aprender que pai e mãe não estão com nada; e não podem ser responsabilizados, que é para ficarem surpresos quando, adultos, virem baixar o braço da lei. Os menores são roubados aos pais quando esses pais perdem muito do poder pátrio e o estado ascende à posição de autoridade divina. “Com a criançada presa por mais tempo na escola, breve teremos bons cidadãos!” Os professores, coitados, é que apanham no lugar dos políticos. Mas sem o bingo não há sorte à vista.

Ora, gente, minha cartela já está cheia de milho, e minha alma, cansada de jogar por palitos de fósforos. No computador, nunca joguei, mas se há quem queira jogar, que jogue! Nós prosseguiremos, advertindo que azar é ruim. Começa com a motivação do ganho divertido, passa pelo ganho fácil e acaba na grande perda; depois, tem o fato de que a “adrenalina” da perda é bem maior do que a do ganho! Para que arriscar se não houver risco? Também, lembre-se de que a sorte grande é rara e que o que é raro é caro. Os banqueiros e os políticos do jogo dizem, como que convidando ao crime: “lança a tua sorte entre nós; teremos todos uma só bolsa” (Provérbios 1.14), certamente, alegando investimento em áreas de educação e saúde. Do poder do lobby, ninguém fala. Quanto a nós, continuaremos a dizer que só o Senhor dirige a nossa sorte, e que sua vontade é conhecida na Escritura Sagrada – sem necessidade de pedras, dados ou lãs. Melhor é a verdade em amor do que o amor do dinheiro (Efésios 4.24; 1Timóteo 6.10). Em nossa bolsa só entrará o dinheiro que for ganho com trabalho honesto, criativo e produtivo, e só sairá para suprir para nosso sustento e o dos nossos, além do cuidado com quem tem necessidade (Efésios 4.28).

Precisamos da verdade (não de verdades, mas a de Deus), de justiça (não a de distribuição de renda sem trabalho, mas as da obra de Cristo), de honestidade (não a eleitoreira, mas a que é moral e ética), e de amor (não o livre de compromisso, mas o que opera o amor a Deus e opera o bem no mundo (cf. João 4.1-21). Contra estas coisas não há bingo.




Wadislau Martins Gomes

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