sexta-feira, maio 28, 2021

FILHOS NATURAIS OU VIRTUAIS — SEMPRE REAIS


 

Outro dia, postei um artigo, homenageando minha mãe e agradecendo a Deus pelo privilégio de ter e educar filhos no Senhor. Hoje, passo a falar dos que não têm filhos — não por vontade própria, mas por impossibilidade  que poderiam ser pais e não desejam essa responsabilidade. Os que gostariam de ter filhos e não os tiveram, os que lutaram e lutam por uma descendência e, por diversos motivos, só encontram esterilidade, frustração e a perda dos sonhos. 

 

A Bíblia é plena de histórias de esterilidade versus frutificação. Quem não se empolga com as historias de Abraão e Sara, Isaque e Rebeca? Todas as disputas entre Raquel e Lia quanto a gerar filhos para Jacó, sendo que a mulher amada não conseguia engravidar? A familia patriarcal foi formada num ambiente de manipulação e  substituições, culminando com morte de Raquel após dar a luz? 

 

Mais adiante, a angustiada Ana pedia um filho enquanto Penina tinha criançada de sobra. Ao ter a oração respondida, Ana entregou o filho, Samuel, ao serviço do Senhor. 

O Novo Testamento começa com duas histórias de gravidez impossiveis: uma jovem virgem concebe por obra do Espirito Santo e seu Filho, Deus conosco, faz  a historia da humanidade -- e Zacarias e Isabel, estéreis por toda a vida de casados, têm o filho profeta, João Batista.

Já mais de seiscentos anos antes do nascimento de Jesus, o profeta Isaias escreveu: 

"Cantai alegremente, ó estéril, que não deste à luz; exulta com alegre canto e exclama, tu que não tiveste dores de parto, porque mais são os filhos da mulher solitária do que os filhos da casada, diz o Senhor..." (Is 54.1) e o apóstolo Paulo cita esse trecho ao falar da fertilidade dos que pertencem à Nova Aliança (Gl 4.27).

 

Essa passagem fala não apenas a Sião, mas ao coração das pessoas que, através dos séculos, têm amargado a ausência de filhos  casadas, solteiras, de estado civil indeterminado — todos que vislumbraram descendentes que não tiveram.

 

Hoje vivemos situações diferentes: na geração atual, muitos enxergam os filhos como peso, problema, e estorvo. Não querem casar para não ter filhos; quando casam, querem evitar as atrapalhações de planos individualistas com uma criança que custa caro, exige dedicação e anos de cerceamento de projetos de ser e ter. Conheço casais cristãos que propositadamente negam a si mesmos a bênção de ser pais deixam para depois que estiverem financeiramente estabilizados e emocionalmente maduros — ou seja, no dia de São Nunca. A realidade é que jamais o casal terá maturidade completa e estabilidade material sem risco de perder. Vão sempre querer mais e viverão sempre a escassez de satisfação.

 

Por outro lado, há os que são talhados para serem pais e mães, que desejam ardentemente ter filhos com os quais compartilhar e formar a vida, e não os têm. Amam crianças, são sábios e amáveis nos relacionamentos, cuidam dos filhos de outros, mas não tiveram o privilégio de receber das mãos de Deus uma vida sua para cuidar. Alguns nunca conseguiram engravidar; outros tiveram gravidez interrompida. Sei o que é sofrer um aborto espontâneo, mas eu tive o consolo do marido amoroso e três filhos vivos que, por sua vez, tambem geraram vidas preciosas. Existem, porém, casais piedosos que fizeram muitos tratamentos de fertilidade, acompanharam com afinco suas gestações interrompidas, imploraram com fé, e viram suas esperanças frustradas, vez após vez.

 

Alguns desses se dedicaram a ganhar filhos espirituais — ensinando e edificando outros. São evangelistas de crianças, educadores, cuidadores para a gloria de Deus e alegria de seu povo. Admiro muitas essas mulheres solteiras, mesmo os casais, que desempenham papel de mães (e pais) cristãs sem jamais terem dado à luz. Outros adotam — recém-nascidos, crianças pequenas, adolescentes  dando vida valiosa e enriquecendo o próprio coração, enquanto suprem o coração do filho acrescentado à familia. Hå também lindas familias nas quais alguns há adotados, filhos do coração, juntamente com os nascidos do ventre, igualmente adotados para sempre.

 

Algumas vezes, um filho "não planejado" é a melhor coisa que pode acontecer à familia -- Deus é soberano e seus intentos são cumpridos com graça e bondade. Embora nós, humanos, não tenhamos previsto a existência de um pequeno ser, Deus o planejou (Sl 139) quando a semente ainda não tinha germinado! 

 

Não podemos interferir na intimidade de um casal ou dizer o que devem fazer -- cada casal é responsável diante de Deus por como sua vida será gerida. O casamento, no entanto, implica em formar familia, em crescer e multiplicar — dois, unidos num só propósito, produzem frutos! Não apenas rebentos  são vidas eternas que mostram a generosidade do Criador, desde crianças até o "para sempre" que desconhecemos. Se possível, no entanto, que tenham filhos, que não temam apesar dos tempos dificeis em que vivemos. Aliás, a tais pequeninos pertence o Reino dos Céus. São portadores da imagem de Deus e, como filhos da promessa, embaixadores da esperança e graça do Rei a quem servimos. 

 

Aos que Deus não deu filhos do ventre, ainda assim têm a missão de servos(as), irmãos(ãs), pais e mães como Paulo que sofria dores de parto até ver Cristo formado em seus discípulos, cf. Gl 4.19  poderiam contemplar uma adoçāo  de adotar, criar e educar alguém, tal como um discípulo na igreja. Fomos feitos para frutificar. Filhos, concreta ou figurativamente falando, não são produtos de realização para satisfação de nosso orgulho  são pessoas preciosas, com valor eterno em Cristo Jesus. Temos de acolher essas jóias com humildade e graça, sabendo que é tesouro de valor perene.

 

Elizabeth Gomes

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