sexta-feira, novembro 13, 2020

QUANDO UMA PESSOA AMADA INCORRE EM PECADO GRAVE



Penso num assunto há muito tempo, mas demorei para escrever porque temia ser mal compreendida e, assim, começo o artigo com duas afirmativas gerais:

  • Todo mundo é pecador e não existe quem não cometa, cometeu ou cometerá pecados nessa vida sobre a terra.
  • Nenhuma pessoa – cristã ou descrente, criminosa ou caridosa – é melhor do que outra ou merecedora diante do Deus justo e santo. Somos salvos somente pela graça de Jesus e, se condenados, é porque continuamos no pecado em que nascemos.

Entendendo assim, não sou melhor do que a pessoa que observo cair num precipício, e qualquer observação que eu faça quanto ao pecado cometido, não poderei impor juízo ou condenação – somente amor e misericórdia, pois estamos falando de pessoas criadas à imagem de Deus.

Vivemos, porém, num mundo real onde nada vai tão bem. Você e eu já escorregamos em erros tamanhos e, certamente teremos ou iremos presenciar gente que amamos a cometer outros tipos de pecados crassos. Estamos sempre e enfretar o nosso pecado, o pecado contra nós e o pecado de uns contra os outros.

Conto nas duas mãos casos de amigas cristãs que “casaram no Senhor”, cujos maridos, depois de longo ou curto prazo, revelaram-se promíscuos, iracundos, beberrões ou homossexuais praticantes, deturpando o casamento e esmagando os sonhos de viver a verdade em amor “até que a morte os separe”. A carnalidade, em suas muitas formas, separa os relacionamentos mais íntimos, seja ira amargurada seja escolha temporal errada seja impureza moral. Muitas e muitas vezes, outro homem ou outra mulher separa um casal sem que haja arrependimento e perdão.

Certamente, você também conhece pessoas que começaram bem a vida a dois e foram traídas por enganos e adultérios. Deus odeia o divórcio e promove o perdão, mas quando a pessoa é contumaz e não busca reconciliação, Deus permite a separação pela dureza do coração. Deus odeia a mentira e a distorção do matrimônio baseada em enganos. Poderá ser que você tenha sido traído por um cônjuge sem que você tenha sido parte “culpada” (quem há de?). Novamente, volto à afirmativa inicial que ninguém é totalmente inocente e isento de pecado, mas estamos falando de uma pessoa que não traiu o casamento e que está ferida por aquele/a a quem ama e em quem confiava. Ainda ama, embora esteja morrendo de raiva e corroida/o pelo rancor da decepção. Mesmo que filmes, psicologias e todo um mundo secular romantizem “casos de amor” e justifiquem traições, dizendo que tudo vale quando surge novo amor, quem ficou sozinho ficou arrasado e sem rumo.

Outros amigos sofrem as decisões chocantes dos filhos que assumiram transgeneridade, passaram a viver conjugalmente com pessoa do mesmo sexo ou cometeram algum crime contra pessoas vulneráveis. Provavelmente já estavam envolvidos com pornografia virtual ou de outro tipo, mas o “caso” veio a público, envergonhando os familiares e forçando-os a tomar decisões complicadas. Se uma filha ou filho é dependente dos pais e reside com eles, talvez tenham de “mandar embora”—mas como rejeitar aquele que é parte da gente, que nasceu em casa, e expô-lo a ainda perigos piores? Quando o filho é adulto e independente, o relacionamento fraturado ainda é dolorido, mas sabemos que ele terá condições de sobreviver no mundo.

 O que dizer do filho ou irmão tomado por drogas que o tornam alienado e incapaz de manter emprego? E se uma filha faz uma falcatrua financeira que pode levar a punições legais – além de lesar a própria familia?

Temos de fazer diferença entre fraquezas que promovem erros de desempenho, performance – tal como por a perder um emprego, ou tomar decisões amalucadas — e  outros pecados biblicamente condenáveis. Um filho, irmão ou cônjuge que tenha um surto psicológico, certamente precisará de ajuda e apoio dos familiares. O mesmo passa a viver uma loucura de travestiismo e precisará ser confrontado com a Palavra de Deus, não acobertado pelos pais. Claro que todo confronto tem de ser em amor, não enfatizando a “desgraça ou vergonha que causa para nossa família”, e sim, o quanto ferimos ao Deus santo que nos ama e nos salvou. Temos sempre de nos lembrar que “tais fostes alguns de vós, mas vós vos lavastes...”. Cristo morreu por pecadores, “dos quais eu sou o principal”. Ele tira a culpa do pecado, não fazendo de conta que ele não existe, mas porque, morrendo, Jesus expôs nossa culpa sobre a cruz e, ressurgindo, nos justificou, tornando possível uma nova vida. Mas não admitimos que você tenha relações sexuais ilícitas em nossa casa! Recebemos o parente em casa com comida e hospedagem – não seremos coniventes com atitudes ou atos que firam o convívio cristão ou ponham em risco irmãozinhos mais novos.

Tenho conversado com algumas pessoas que sofreram abuso sexual da parte de quem deveria protegê-las – professor, tio, padrasto, pai, avô, amigo da família. Se souber que alguém ligado a você está assediando ou ferindo uma criança, um deficiente mental, ou idoso – alguém vulnerável que não saiba se defender — você  e eu temos de agir, interferir e, se for o caso, denunciar! Não permita que o mal seja perpetuado em sua casa. Pode ser que o infrator seja uma pessoa amada do seu convívio – tem de dar um basta ao mal. Quanto mal a família do rei Davi poderia ter evitado, se tivesse agido e defendido a filha, Tamar, contra a maldade do meio-irmão. As inimizades das gerações futuras poderiam ter sido evitadas com o exercício de bondade, justiça e verdade nos relacionamentos!

Jesus foi acusado de ser amigo de publicanos e prostitutas – mas não aprovou os pecados de apropriação indébita pública ou privada, nem pornéia, fornicação ou adultério de qualquer espécie. Deus ama seu povo chamado de adútero, e permite que ele sofra as consequências do pecado —porém, sempre os chama ao arrependimento e perdão.

Estou impactada por testemunhos de pessoas como Rosária Butterfield, professora norte-americana, que foi feminista lésbica, ganha para Cristo através do amor de uma igreja bastante rígida, disposta a amar até as últimas consequências. Hoje, é esposa de pastor e mãe cristã de muitos. Testemunhos de pessoas que eram sexualmente escravizadas e vendidas internacionalmente, que hoje em Cristo são servos do Senhor e fundaram escolas para ajudar outras vítimas a sair da prostituição também nos enlevam.

Chegamos ao que sugere nosso título: o que fazer quando uma pessoa amada está prestes a cometer ou comete um pecado grave. Temos de nos lembrar que todo pecado é grave, pois afronta a santidade de Deus; contudo, existem pecados “mais escabrosos” quando eles trazem consequências mais sérias à integridade ou sanidade das pessoas. 

Primeiramente, não podemos fazer de conta que não importa tal ato ou atitude, ou que não existam graves consequências. Temos de ser realistas – ver as coisas sérias como são. Durante o início dos anos noventas, trabalhei como casemanager numa organização não governamental para ajudar pessoas com risco de AIDS ou soropositivas. A maioria dos meus clientes na época era homossexual. Antes de trabalhar com essa população, eu ajudava em casos de negligência ou abuso sexual de crianças, tentando proteger os vulneráveis e fornecer aconselhamento aos que facilitavam o erro.  Ajudava gente que tinha estilo de vida totalmente contrário ao que eu, esposa de pastor, propunha. Às vezes o pessoal da SPAL ou do Aids Action Committee, ao saber das minhas convicções cristãs, tachava-me de retrógrada ou preconceituosa. Mas eu sempre respeitava as pessoas como pessoas, sem emitir julgamentos. Eram meus amigos. Essa amizade ia além do emprego. Com o apoio de meu marido, convidamos nossos clientes a jantar em casa. Um deles, José, se converteu, foi batizado,  e veio fazer parte de nossa igreja. Por ignorância, alguns crentes questionavam se nós não estaríamos nos arriscando a “pegar AIDS” recebendo-os como seres humanos benvindos em nosso lar. Eles foram convidados a conhecer Cristo, que liberta da vida devassa que levavam.

Segundo, amar a pessoa não significa ser conivente com o pecado. Recebemos todo e qualquer tipo de gente – mas não admitimos que seus atos abomináveis sejam realizados em nossa casa ou igreja. A pessoa que está no erro poderá não entender isso – poderá até se revoltar contra a verdade que afirmamos da Palavra de Deus, achando que estamos julgando e nos posicionando acima delas. Na verdade, elas já estão julgadas e condenadas, mas não por nós, que também estávamos na mesma situação.

Terceiro, não debochamos da pessoa que assume uma postura pecaminosa nem a rebaixamos ou expomos diante de outras pessoas. Não aceitamos sequer a nossa própria maledicência – cremos no poder transformador de Jesus. Quando falou com a mulher samaritana, Jesus a tratou com dignidade, e com realismo: mandou: “Vai e chama teu marido”, para que ela mesma admitisse que estava entregue a relacionamentos ilícitos consecutivos! (Interressante que essa mulher à margem da sociedade foi a primeira a evangelizar Samaria). Quando Jesus avisou a Zaqueu que jantaria em sua casa, não começou a recriminá-lo pelo que ele fazia, mas fez óbvio que Zaqueu teria de mudar totalmente de vida.

Quarto, nosso relacionamento com o nosso parceiro, filho, parente ou amigo em pecado, tem de ser regado primeiramente com o amor de Deus — o que somente demonstraremos, se estivermos em oração e em dependência do Senhor. Soluções humanistas e humanas não resolvem as armadilhas desumanas e demoníacas em que nossos amados caíram. Nossa luta não é contra carne e sangue – e, pelo sangue de Jesus, Deus transforma o que é impuro e escuso em Noiva resplandecente.

Há sempre a possibilidade de restauração. Deverá haver restituição e mudança! O filho ou filha rebele pode vir a ser servo/a do Senhor. O cônjuge traidor poderá retornar à união do Senhor.

Elizabeth Gomes

Nenhum comentário: