domingo, abril 08, 2012

COISA DE SOGRA


Estive pensando no que me leva a escrever. Sem dúvida, ideias e pessoas mexem comigo. Provocam, instigam, fazem pensar e ruminar as coisas, conduzem para longe e cavam fundo. Ideias podem ser boas ou más, inteligentes ou insossas, mas uma ideia sempre atual é a questão de relacionamentos.

Já os relacionamentos são intercâmbios entre as pessoas, e nasceram com ideias de amizade e bem-querer. Vivemos e nos movemos pelos relacionamentos com pessoas. A Pessoa de Deus – nele nos movemos e existimos, porque somos dele (At 17.28) – norteia e dá razão a todos os demais relacionamentos, sejam grandes ou pequenos. Se o relacionamento com Deus for equilibrado a ponto de vivermos para ele, e desequilibrado a ponto de ELE ser tudo – o começo, o fim e o meio – segue que nossos relacionamentos interpessoais também imitarão aquele que temos com o Criador.

Desde menina, eu queria me dar bem com as pessoas. Estar de bem, ser aceita e admirada. Isso me levou às alturas e muitas vezes me fez descer ao fundo do poço. Semana passada, estive pensando numa pessoa que caracterizou seus relacionamentos como Amarga. Estava lendo (e bebendo, ao traduzir) o livro de John Piper Doce e amarga providência – revendo a história de Rute. Três mil anos e ainda atual, a singela história trata de relacionamentos comuns e ações totalmente incomuns, singulares. A soberana providência divina permeia cada linha desta história, e provoca na gente um gosto de “quero mais”. Daí, minha nora Márcia me instigou:

– Por que você não escreve sobre o relacionamento de sogra e noras?

Minhas noras fazem dessas coisas. As duas estão entre minhas melhores amigas, e são as com quem sempre tenho bons papos. Pudera – são minhas vizinhas mais próximas, minhas confidentes, minhas motoristas. Meu genro também é um grande amigo, mas mora longe, e como sou mulher, e obviamente elas também pertencem ao gênero feminino, acatei a ideia.

Quando me casei aos dezoito anos, juntamente com Lau, Deus me deu sogros extraordinários, que me adotaram e apoiaram, como Rute da Bíblia. No caso da antepassada do rei Davi e do Rei dos Reis que viria de sua estirpe, era a nora a mulher de valor (Não insista que eu deixe você sozinha: teu Deus será meu Deus). Na história da Charles que virou Gomes, os “velhos” Wadislau e Eulina demonstraram a graça de Jesus em tudo que fizeram por mim.  Sem jogar, ganhei na loteria ao ganhar novos pais!

Contudo, Lau explica aos casais que grande porcentagem dos problemas entre casais – jovens ou mais maduros – se deve aos relacionamentos com sogros. As clássicas piadas são constantes na cultura e no cotidiano, e carregam mais que pitadas de verdade.

– O que é que você quer que eu diga, Márcia? O fato de que meus filhos fizeram escolhas nobres acima de qualquer nora ou genro que nós merecêssemos?

Quando as vizinhas de Noemi parabenizaram a antes falida e amargurada solitária pelo nascimento do neto, disseram:

Seja o SENHOR bendito, que não deixou, hoje, de te dar um neto que será teu resgatador, e seja afamado em Israel o nome deste. Ele será restaurador da tua vida e consolador da tua velhice, pois tua nora, que te ama, o deu à luz, e ela te é melhor do que sete filhos (Rt 4.14).

Meus netos não são a única razão pela qual as noras são preciosas (se bem que netos e noras nos dão muito orgulho e renovam a juventude). Os netos não são resgatadores no sentido de parente remidor da trama de Rute – não são eles que restauram nossa vida e nos consolam – quem o faz é o Descendente de Rute, Jesus Cristo – o Supremo e Único Remidor. Nós somos abençoados por ter filhos saudáveis, homens e mulher de Deus – não como os falecidos filhos de Noemi – e assim, não teríamos necessidade de uma “nora melhor do que sete filhos”. Porém, pela abundante, exagerada e pródiga graça divina, tenho duas noras e um genro tão bons quanto os lendários sete. Aí, fazendo as contas, é como se tivéssemos vinte e um filhos além das três flechas na nossa aljava – mas que exagero!

Não tenho espaço para discorrer sobre os segredos do bom relacionamento entre sogros, noras e genros, nem cunhados ou irmãos (sobre irmãos existe um livro interessante de uma autora que conheço bem...). No entanto, quero destacar três características que fizeram com que meus sogros me abençoassem no relacionamento que desenvolvemos até a morte de cada um – e quero imitar.

1)  Aceitaram-me como sou, não tentando mudar meus hábitos ou jeito. Isso foi um imenso desafio, pois eu vim de outra cultura e muito do meu jeito era contrário ao jeito deles pensar ou fazer. Uma vez que Lau declarasse ser eu a sua mulher para toda a vida, eles me acataram, e não fizeram diferença entre seus filhos e euzinha.

2) Ajudaram sem cobrar juros. Conheço muitos pais que ajudam os filhos, mas esperam algo em troca: reconhecimento, atendimento imediato, que façamos as coisas do seu jeito. Dão presentes “com cordas amarradas”. Não “Seu” Wadislau e Dona Eulina. Quando nos casamos, ainda estávamos no seminário, e eles nos ajudaram no que podiam – sacrificando até o que não podiam. Mas não puseram nada “na conta”.

3) Respeitavam o casal jovem e inexperiente e davam espaço para nossos erros, sem cobranças. Serviam ao Senhor, e viam os filhos como servos do Senhor – com o respeito de Filhos do Rei dos Reis, e a humildade do menor dos servos.

Ah, norinhas queridas – quisera imitar meus sogros sempre! Sou grata porque não é uma ogra que vocês têm de homenagear, mas uma mãe na lei, uma irmã amiga, como o nome: Amiga, da moabita que entrou na linhagem de Jesus.

Elizabeth Gomes

3 comentários:

Ivonete Silva disse...

Lindo texto, Beth!
Louvo a Deus pelo relacionamento que tenho com minha sogra, como estou distante de minha mãe e família, foi muito importante o acolhimento que ela me deu.

João Inácio disse...

Não sou nora, mas, como sempre, gostei e apreciei o que você escreveu, Beth.
Saudades.
Carinho,
João Inácio

Samara disse...

Olá Beth, emocionei-me com o seu texto. Que o Senhor dê graça, a nós mulheres, para que sejamos boas noras e boas sogras.