O primeiro suicídio
que me comoveu foi de uma jovem linda e inteligente que começou a frequentar a
igreja pastoreada por Wadislau. Converteu-se, e numa tarde de domingo, não
acompanhou a família para almoço em restaurante – em vez disso, aproveitou o
momento sozinha para disparar o revolver de seu pai contra o próprio coração. Semana
passada li um comovente livro de Danielle Steel – não um bestseller como ela costuma produzir prodigamente há mais de trinta
anos – mas o relato pessoal e verídico da vida de seu filho, Nick, e sua morte
aos vinte anos de idade, depois uma luta acirrada contra uma doença mental. Hoje,
soubemos da morte do filho do líder evangélico, Rick Warren. Há alguns anos,
meu sobrinho tirou a própria vida, deixando um filho bebê e uma viúva de vinte
anos de idade. Minha cunhada jamais recuperou da dor daquela perda. Menos de um
ano depois, outro parente se matou. Depois outra. Uma família muito querida que
já sofrera o assassinato do esposo e pai sofreu ainda a tragédia de ver o filho
e irmão tirar a própria vida. Outro casal que serve ao Senhor com integridade
perdeu o filho na casa dos vinte anos, e, como grande parte dos suicídios, não
sabe se a morte por overdose foi acidente ou proposital.
A OMS afirma que cerca
de um milhão de suicidas – na maioria, jovens – morrem a cada ano. Na morte
auto-afligida, ficam dúvidas e perguntas sem fim. Até “entendemos” quando o
suicida tinha severos distúrbios mentais ou emocionais. Parece que alguns
desses “meninos perdidos” eram afligidos desde bem novos, ainda que fossem
criados por pais bondosos em situações familiares estáveis. Seria culpa da
droga? Da família? Do sistema que os ignorou? Da igreja? Da soma de fatores que
tornou a vida insuportável? E o suicida, está implacavelmente condenado?
Certa vez um pai,
diante da constatação de sérios erros de uma filha, disse: “É a pior coisa que
podia acontecer”. Outro pai, esse cujo filho tirou a própria vida, disse
àquele: “Não, não é. Pior é o filho tirar a própria vida”. Ambos os pais
estavam certos, pois o pior pesadelo é sempre ver os filhos fazendo escolhas
irreversíveis e fatais, quaisquer que sejam.
Nem sempre o ambiente
de origem (pais e outros) tem culpa no cartório. Quando o filho tem pais
cristãos de caráter íntegro, e ele próprio desmonta a cada passo (como no caso
na mídia internacional recente) não podemos lançar a culpa sobre a família. Um
grande pregador e mestre relata (no livro Bom
demais para ser verdade) o chocante caso verídico de seu colega de
ministério que tirou a própria vida Ele responde à pergunta quanto à condenação
eterna do suicida, com outra pergunta: “É possível matar uma vida eterna? Se
foi salvo pela graça mediante a fé, sem obras de mérito, somente por Cristo, alguém
poderá fazer qualquer coisa que anule a graça, o favor imerecido de Deus?”
Meus amigos Charles e
Janet Morris escreveram sobre a vida atribulada e morte questionada de Jeff,
com o nome Salvando uma vida, onde
falam como Deus tratou de seus corações e curou muitos outros com a perda
irreparável de seu filho. Embora existam muitas famílias cristãs onde é
gritante a diferença entre o que se prega e o que se vive, não era o caso dos
Morris.
O que fazer quando um
jovem suicida? Primeiro, orar pelos que ficam; apoiar a família sem fazer juízo
quanto aos motivos ou destino daquele que tirou a vida. Essa oração não pode
ser apenas no velório ou enterro, formal ou de chavões. Deverá permear todos
nossos atos em todo tempo – e acompanhar nossos irmãos até quando todo mundo
pensa que “já se recuperaram” – sem julgamentos. A mesma Bíblia que diz “Não
matarás” deixa implícito que aquele que odeia seu irmão já matou no coração –
cada um e todos são passíveis de pecados semelhantes.
Além da oração e do
apoio espiritual, os enlutados, muitas vezes, carecerão de apoio material em diversos aspectos. Alguns
dos casos que relatei acima eram de pessoas que tinham todos os recursos
financeiros possíveis, mas outros estavam empobrecidos por anos de tratamentos
dispendiosos, constantes gastos inesperados e toda espécie de necessidades. Ao
oferecer ombro amigo a quem teve perda irreparável, às vezes teremos de mostrar
nossa fé na prática, abrindo mão de algum conforto ou luxo legítimo em nossa
própria vida para compartilhar com o irmão que sofre. Poderá ser algo tão simples
como uma assadeira de lasanha ou complicado como um almoço para dez parentes em
uma churrascaria ou cuidar de sua criancinha por uma tarde ou um dia. Poderá
ser um dia ou dois ajudando na faxina ou passando roupa da família que perdeu o
filho ou até ajudando a organizar os pertences para doação daquele que se foi.
São coisas pequenas e grandes que fazem diferença e declaram a alto e bom som:
“Estamos aí para ajudar no que pudermos!”
Além de dar apoio
prático e logístico, devemos exercitar o amor escutando a pessoa que perdeu
alguém. Não é só falando – mas escutando o que ela diz e o que ela não fala –
que a ajudaremos a lidar com a dor e o luto. Assim, ela estará apta a ouvir a
Palavra de Deus no tempo certo.
Quando meu pai morreu (não por suicídio, mas
câncer), um grupo de jovens cantou no sepultamento o que mais me consolou. Foi
aquilo que Jesus leu do profeta Isaías, na sinagoga em Nazaré, no início de seu
ministério na Galiléia:
O Espírito do Senhor
está sobre mim,
pelo que me ungiu
para evangelizar os pobres;
enviou-me para
proclamar libertação aos cativos
e restauração da
vista aos cegos,
para pôr em
liberdade os oprimidos,
e apregoar o ano
aceitável do Senhor.
É a missão de Jesus que temos de viver,
evangelizando, proclamando libertação, restauração e apregoar o ano aceitável
do Senhor. É Jesus que consola o inconsolável – e isso inclui os familiares e
amigos dos que se cansaram da vida. Temos ainda de ficar atentos e oferecer
alento àqueles que um dia contemplem a possibilidade, pois o suicídio não
acontece apenas em famílias desestruturadas ou descrentes. Aos familiares do
suicida, temos de oferecer o amor de Cristo como a qualquer irmão ou estranho
que sofre a dor de perdas irreparáveis. Não é hora de fazer conjecturas ou
juízos sobre coisas que nós desconhecemos. Um dia, na presença do Senhor da
Vida, poderemos perguntar face a face alguns porquês, certos de obter resposta
daquele que entregou sua própria vida em morte violenta, por amor de pecadores
indignos como nós!
Elizabeth Gomes
2 comentários:
Excelente texto, minha irmã. Que Deus tenha misericórdia de nós.
Texto excelente. Obrigada.
Daisy
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