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"Filha" - disse Aslam - "contolhe a sua história, não a dela. Não conto a alguém senão a sua própria história" |
Meu Pai é juiz e governador
dos reinos do mundo é supremo
Senhor!
O seu magno império é mais
vasto que o mar,
Meu Pai é um Rei, seu poder é
sem par.
Eu sou filha de um Rei
Sou filha do Rei,
Herdeira com Cristo, sim sou filha do Rei!
Cantávamos em harmonioso
trio: mãe Carolyn, e filhas Kathryn e Elizabeth. Acho que era um dos hinos mais
“assinatura” de nosso repertório. Tinha prazer em minha identidade real. Não
era questão de genética nem de genealogia, que minha avó dizia ser traçada até
o rei Ricardo, Coração de Leão (hoje minha irmã retificou a pesquisa de origens
até o rei plantagenete Geoffrey), mas
acredito que de desconhecido sangue azul ou origem chula todo nós temos um
pouco. Considero muito mais importante que Deus tenha nos tornado seus filhos
por adoção, escolhidos desde antes da fundação do mundo para sermos seu povo de
propriedade exclusiva – e essa identidade não é porque merecemos, mas pela
identidade do Deus que é, era e há de ser Senhor. Anos mais tarde, publiquei um
artigo testemunhando a “Filha do Rei” na revista Evangelizing Today’s Child, da Child Evangelism Fellowship USA.
Sempre considerei missões, evangelismo e educação cristã como imprescindíveis e
inseparáveis para quem toma o nome de cristão, desde os pequeninos até os de “mais
velha idade”.
Hoje, fico pensando
na tensão entre o conceito do tesouro que é nossa filiação ao Rei Eterno, experimentamos
ao ser herdeiros com Cristo (Rm 8.17;
Hb 6. 17; Tg 2.5; 1Pd 3.7) e em Cristo:
De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da
plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra (...)
em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o
propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade (...)
com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em
Cristo (...) em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da
verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes
selados com o Espírito Santo da promessa (...) o penhor da nossa herança, para
redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória (Ef 1.10-14).
– enquanto, ao
mesmo tempo, o Rei dos Reis, nossa razão de ser filhos e herdeiros, ter se
esvaziado de toda sua glória celestial (Fp 2.7) para vir a um mundo que o
crucificou e o rejeitou:
Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e
experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto,
era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre
si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o
reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por
causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados (Is 53.3-5).
Lembro-me, novinha
ainda, de pessoas que se gabavam de suas orígens como se isso as tornasse
melhores e merecedoras de serem paparicação e de serviço. A figura do Servo
Sofredor não parece nada com as caricaturas de príncipes e princesinhas que o
evangelho barato quer apresentar como nossa herança! Sim, somos filhos e filhas
da promessa, filhos do Rei Eterno, e temos valor infinito – não por nosso
próprio mérito, mas porque ele é
Criador soberano, Redentor perfeito, Restaurador de sua imagem em nós, e nele “estão escondidos todos os tesouros da
sabedoria e da ciência” (Cl 2.3). Não somos filhos do Rei para andar com carro
do último tipo, refestelados de jóias caras e roupas de grife. Nada há de errado
em ter bens e posses adquiridos honestamente pelo trabalho de nossas mãos, mas
é muito errado fazer ídolos de quaisquer desses valores terrenos, porque disse
Jesus: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo
consomem, e onde os ladrões minam e roubam... porque onde estiver o vosso
tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt 6.19-21). Se somos filhos do
Rei, temos um tesouro, somos um tesouro – “em vasos de barro,
para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós” (2Co 4.7). Fico
estarrecida com a inversão de valores que tantos irmãos fazem, achando que nós
é que somos grande coisa, nós é que temos méritos, e nós temos de ordenar (até
mesmo decretar a Deus o que queremos assumir!), sermos servidos e recebidos com
honra porque nos achamos “grande coisa”. Cadê
o entendimento como o do cântico: “de Jesus Cristo eu nada mereço, mas ele morreu
foi por mim (...) Eu não mereço, mas ele comprou-me... seu sangue lavou-me” Nosso
Senhor Jesus Cristo (...) morreu por nós, para que, quer vigiemos, quer
durmamos, vivamos juntamente com ele” (1Ts 5.10;1Pe 3.18). E não estou
apontando o dedo! O pior é que eu mesmo já incorri nesse erro de achar que autoafirmação,
autocentrismo, podederia, às vezes, ser um comportamento aceitável para uma
pessoa autenticamente cristã! Nossa tendência egoísta é sempre endeusar a nós
mesmos – o Novo Testamento tem de repetir diversas vezes a advertência “Fugi da
idolatria”, porque a princesinha que quer levantar a cabeça ainda que redimida
– não morreu!
Em vez da coroa de
glória e do cetro de sua soberania, constato que sua coroa na terra foi
confeccionada de espinhos (Mt 27.29), coroa que marcou com sangue a sua fronte.
O autor de Hebreus lembra que Jesus foi “coroado de glória e de honra (...) por
causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por
todos” ( Hb 2.9). Quando vier o Supremo Pastor, Deus promete que nós também
“alcançareis a incorruptível coroa da glória” (1Pe 5.4). Olho para o futuro
glorioso do povo que Deus redimiu para si e adotou como filhos, e com João o
apóstolo, olhamos “eis assentado sobre a nuvem um semelhante ao Filho do homem,
que tinha sobre a sua cabeça uma coroa de ouro, e na sua mão uma foice aguda” (Ap
14.14). Paro para pensar, e regozijo-me na coroa – quero me esquecer da foice
de ceifa que ele tem na mão! Mas todas as referências à glória do Rei Jesus,
bem como da nossa identificação como seus filhos, estão ligados ao seu supremo
sofrimento! A promessa é que em meio a essa identificação com o Servo Sofredor,
“O Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória,
depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará,
fortificará e fortalecerá. A ele seja a glória e o poderio para todo o sempre.
Amém” (1Pe 5.10-11).
Sou Filha do Rei?
E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus,
e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com
ele sejamos glorificados. Porque para mim tenho por certo que as aflições deste
tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser
revelada. Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos
filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade,
mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura
será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos
de Deus” (Romanos 8.17-20).
Elizabeth Gomes