Girl in the mirror, de Rockwell |
Recentemente,
mudei a fotografia do meu facebook e mais de oitenta pessoas escreveram,
comentando positivamente. A foto agradou de verdade, porque não obstante minhas
rugas, manchas e visível sobrepeso, estava olhando para meu marido (que também
revelava semblante amável) com amor, jeito maroto e de cumplicidade constante –
características capturadas em cores pelo jovem artista fotógrafo que é nosso
primo Tércio. Raramente saio bem nas fotografias e, assim, esta fez uma feliz diferença.
Fiquei pensando na imagem que desejo transmitir – se é verdadeira, se edifica e
se transmite graça aos que vêem.
Tem
gente que é fotogênica por natureza. Pode até estar zangada, irritada ou cheia de
maus pensamentos, mas dá um sorriso e dissipa qualquer dúvida quanto a sua
beleza. Alguns astros e ídolos de cinema e da mídia conseguem transmitir
serenidade e segurança quando na realidade poderão estar entre as pessoas mais
perturbadas desse mundo tenebroso. Neste tempo pré-eleições isso se vê muito na
distribuição de “santinhos” dos candidatos a vereador. Algumas fotos foram tão maquiadas
que não dá para reconhecer a pessoa ao vivo.
Ao
falar do amor, Paulo não deixou de mencionar que “agora vemos por espelho,
obscuramente” (1Co 13.12) mas um dia veremos face a face. Você já esteve em um
parque de diversões onde um espelho de distorção deixa-nos exageradamente
gordos ou magros, compridos ou baixos? Os espelhos de bronze da antiguidade
eram assim: refletiam algumas
características da pessoa – mas não apresentavam a imagem como era realmente.
Como
é que fomos feitos imagem de Deus, se Deus é invisível e não tem corpo (exceto
no Filho encarnado, Jesus)? Como é que somos imagem de Deus se somos mortais e
qualquer beleza que tenhamos é efêmera e desvanece? O ser humano é diferente
dos animais, não por maior inteligência ou capacidade de fala ou habilidade de
usar instrumentos para criar outras coisas – mas por ser imagem de Deus, feito
para refletir e glorificar o Criador. A pessoa humana é capaz de espelhar as
características divinas em escala proporcional a sua finitude diante daquele que é infinito.
Quando escolhemos qualquer
coisa como digna de culto e apreço mais que Deus, nós estamos formando ídolos.
Geralmente esses ídolos são valores e conceitos que em si mesmo poderão ser bons
– mas se tomados em
lugar do Criador , são vaidade idólatra. Isaías comparou a filha de
Sião com “choça na vinha, palhoça (ou espantalho!) no pepinal, cidade sitiada”
(Is 1.8) por causa de sua idolatria; Jeremias afirmou que “suas imagens são
mentira e nelas não há fôlego” (Jr 51.17). No entanto, muitas vezes preferimos
tais imagens – miragens de oásis inexistentes – à realidade papável do Deus
eterno.
Tenho o sonho de escrever ficção que enterneça e mova
os corações a amar mais a Deus. Mas minha ficção precisa transmitir a
realidade. Quer nas mídias sociais quer em escritos literários quer manchetes
populares, temos de perguntar, quanto às imagens que mostramos, se elas são
verdadeiras – não apenas verossímeis – mas parte da realidade que Deus nos deu.
Outra característica da imagem
de Deus no ser humano é que ela jamais é destruidora, mas sempre edificante.
Interessante que Deus deu muita ênfase à destruição dos ídolos como
característica de pertencer a seu povo
de exclusiva propriedade. Todo avivamento começava com a destruição de ídolos –
e se firmava na edificação: da cidade (Neemias), do templo (Josias e Esdras) e
da igreja (Mt 16.18; At 16.5). Como pessoa criada para criar e construir,
minhas atitudes, minhas palavras e meus atos têm de ser edificantes.
Finalmente, ser criada à
imagem de Deus significa que transmito graça ao que toco. Fui tocada pela graça
de Deus – generosa, abundante, multiforme, infinita – e pela graça mediante a
fé, toda minha vida deverá ser vivida, na certeza de que “todos
nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do
Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como
pelo Senhor, o Espírito” (2Co 3.18). Nessas coisas todas não sou fotogênica, e
minha imagem é ainda um desenho infantil de quem começa a segurar o lápis e
apenas usa um círculo para a cabeça e linhas tortas para os membros. Mas um
dia, pelo Espírito que habita em nós, serei transformada de glória em glória na
imagem de Cristo!
Elizabeth Gomes
Nenhum comentário:
Postar um comentário