Outro dia um irmão em Cristo colocou uma
fotografia dele com dois filhos e uma mensagem profundamente dolorosa e sucinta:
“O casamento acabou. Estamos muito tristes”. Confesso que me choquei e lágrimas
brotaram em meus olhos apesar de não conhecer bem a pessoa nem as
circunstâncias daquele que transmitiu a nova.
Muitas vezes, as redes sociais são utilizadas
para dar notícias de viagens, promoções, doenças, felicitações por noivados,
casamentos, nascimentos e até a perda de entes queridos pela morte, e alguns
usam o facebook para zoar das idéias
ou atividades de outras pessoas, mas eu nunca tinha visto uma mensagem tão
esmagadoramente triste quanto essa – ainda que soubesse particularmente de
alguns relacionamentos estremecidos ou desfeitos entre amigos, até mesmo amigos
que fazem parte, ambos os lados, de nosso círculo de conhecidos. Lembrei do
hino que menciona “Quantos que corriam bem de ti longe agora vão! Outros
seguem, mas, também, sem fervor vivendo estão” quando lembro de colegas do
tempo de seminário, ou membros de igrejas em que eu participei, que mudaram
radicalmente seu status, sua
situação. Alguns pastores colegas de meu marido deixaram totalmente tudo o que
pregavam, enquanto outros foram deixando espinhos crescer em sua vida de forma
a abafar sua dedicação e distorcer sua confissão de fé. No casamento é
especialmente dolorido observar essas mudanças em nossos amigos que começaram
juntos a jornada. Menciono casamento junto a questões de fé crença e confiança
porque no fim, o que se crê e a vida que se vive, tem tudo a ver um com o
outro. No caso de lares desfeitos, geralmente o esfriamento da fé e o
distanciamento das pessoas no relacionamento são consequentes e subsequentes.
Tenho algumas amigas (e um ou outro amigo) cujo
fim do casamento se deu por morte – e é claro que nesses casos o desfecho não
foi desejado, nem resultado de algum distanciamento de Deus. Outras pessoas
continuaram fiéis ao Senhor Jesus, e seus ex-cônjuges continuam bem vivos, mas
seus matrimônios foram estremecidos pelo pecado da outra pessoa. Mulheres e
homens que continuam amando e servindo a Deus tiveram a dor da traição, da
rejeição – algumas até mesmo da violência – a dominar suas vidas. Houve
separação legítima ou ilegítima, e suas vidas jamais foram as mesmas que antes.
Quando Lau e eu nos alegramos pelo fato de que
nosso amor já dure a quase cinquenta anos, não o fazemos por orgulho. Não
merecemos as bênçãos que recebemos em nossa vida a dois. Não fosse a
misericórdia do Senhor, só teríamos trapos e trapaças no currículo. Só estamos
de pé pela graça de Deus – a mesma graça que mantém alguns de nossos amigos em
pé quando suas vidas familiares e conjugais há muito desmoronaram. Assim, os
comentários que faço nesta postagem não resultam de alguma suposta santidade, habilidade,
mérito ou capacidade de jogo de corpo. Muitas foram as vezes em que nós
vacilamos, duvidamos, pecamos mesmo contra o Senhor e nisso, um contra o outro.
Mas Deus nos sustentou – e fortaleceu a fé nele, junto com o amor um pelo
outro. Portanto, não veja esse comentário como proveniente de alguém que chegou
lá, que tem todas as respostas, que vive de vitória em vitória. Ainda não
chegamos. Não temos todas as respostas. Convivemos também com derrotas que nos
abalam.
O coração, contudo, condói-se por amigos de
muito tempo, com quem já comemos muitos quilos de sal, cujo saldo esteja sempre
negativo quando consideram o casamento, ou a vida dos filhos, ou os
relacionamentos na igreja, ou ainda pior, o relacionamento com Deus.
Não são apenas os casamentos desfeitos que
preocupam. Há muitos entre o povo de Deus que se acomodaram a casamentos
carregados de tédio, mediocridade e mesmice. Perderam o élan da vida a dois, e vivem lado a lado, cada qual em seu canto
independente, carente e solitário – do mesmo jeito que persistem em sua vida
com Deus. As palavras de Deus em Gênesis: “não é bom que o ser humano esteja só
– farei uma ajudadora idônea” são um diagnóstico como também a solução. E
lembro do que Davi disse sobre quem é ajudador para quem não tem ninguém a quem
recorrer: “Eis que Deus é meu ajudador, o Senhor é quem me sustenta a
vida” (Sl 54.4).
Um “acabou” pode dar lugar a um “acabamento” em
que crescimento e aperfeiçoamento são presentes e atuantes – quando entregamos
ao Criador de nossa vida nosso passado ferido, nosso presente questionado, e
nosso futuro, de incerto para acerto! Ele efetua em nós o querer, como também o
realizar, segundo sua soberana vontade!
Elizabeth Gomes