Maria do Carmo de Souza, Casa Branca, SP, 1934 |
“Aos seis, um ano demorava 1/6 da vida para passar; hoje,
vai a 1/67... eh! passou: 2013 vem aí!” Eu ia assim, no trem da vida vendo passarem
postes, pastos, casas, e coisas antigas, quando dei com uma nota no Estandarte
(http://interdocs.com.br/ipibdig/oestandarte/digital/1935/ano_43_n20_21-07-1935.PDF)
sobre o falecimento de minha bisavó materna, que me fez pensar no valor que Cristo
concede à nossa vida. Segue como se escrevia:
Repousando
Cada um na sua ordem, um dia; uns mais cedo, outros mais tarde, todos
voamos rapidamente, atravessando a vida como um sonho. Saindo eu de Assis a 22
de maio findo, vinha a esta cidade para tratamento de minha saúde, devido a uma
machucadura em viagem perto de Presidente Prudente. Esperava, logo que
melhorasse, ir até o Rio, e, voltando, chegar a Casa Branca especialmente para
visitar minha parente enferma, d. Carminha [Maria do Carmo Coelho Barbosa], que
sofrendo da paralisia se achava presa ao leito há quasi dois anos. Entretanto,
peorando o meu estado de saúde, fiquei preso ao leito até hoje, recebendo a
noticia do passamento de d. Carminha, a 19 do corrente, em Casa Branca, onde
residia, em casa do seu genro, prof. Cornelio Martins. Conheci-a ainda menina e
assisti em Dois Corregos ao seu casamento juntamente com o de sua irmã Idalina,
já falecida; desposaram dois distinctos irmãos, Antonio Coelho Barbosa e
Jeronimo Martins Coelho Barbosa, já falecidos. D. Carminha era filha de nossos
irmãos Francisco Mendes de Souza e d. Benigna Lima Barboza, descendentes da
família Oliveira Horta, de Socorro. Era prima da minha saudosa esposa que nos
tempos da mocidade se chamava Maria Santana. Era sogra de meu filho Calvino
Ferraz, casado com sua filha, Leonor Barbosa Ferraz, e de minha filha Edith,
casada com seu filho, sr. José Coelho Barbosa. Ligada assim por laços de
parentesco e comunhão de crenças religiosas tão estreitos, e possuindo um
carater cristão bem comprovado na sua resignação e paciencia e no amor e
dedicação para com todos que a conheceram, seria impossivel deixar de traçar
estas ligeiras notas, apreciando c traço luminoso de sua curta existencia. Era
uma verdadeira santa. Descansa agora dos seus sofrimentos fisicos e certamente
foi poupada de outros sofrimentos e apreensões de um mundo instavel, onde tudo
parece escuro e ameaçador. Ela desfruta a realidade do que Cristo disse:
"O que crê em mim não morrerá". Oxalá possam todos os seus orar como
o Salmista: "Ensina-nos a contar os nossos diasde tal maneira que
alcancemos um coração sabio". Sal. 89:12. Corações sabios! Saber viver ê
saber morrer. Desprender-se alguem desta vida em paz com o seu Deus, eis a
verdadeira sabedoria. Na hora do seu passamento, ás 19,15, no templo, a igreja
reunida para o culto entoava o seu hino predileto: "Vai, alma tristonha,
teu pranto depôr, entrega os cuidados aos pés do Senhor". No seu
sepultamento oficiou o rev. Daniel Moraes. Por nosso intermedio a familia
agradece a igreja de Franca as manifestações de simpatia durante a longa
enfermidade e por ocasião do passamento da querida irmã. Queira o nosso bom
Deus consolar os seus queridos com a fé sublime do Evangelho de Paz.
S. Paulo, 24 de junho de 1935.
Belarmino Ferraz
Continuando minhas divagações senio-infantis (gostou?), quase pensei: “Eu, cá na meia idade, vivo
pelo menos até os 134 – quero ver se alguém, em 2080 poderá dizer que eu fui
chamado, ‘possuindo um carater cristão bem comprovado na sua resignação e
paciencia e no amor e dedicação para com todos que a conheceram’”.
Feliz 2013!
Wadislau Martins Gomes