sexta-feira, outubro 15, 2021

FRÁGIL, FRATURADO, FORTALECIDO, FÉRTIL, FLORESCENTE, FRUTIFICANDO







Estava pensando em amigos (as amigas se incluam nisso), familiares e conhecidos que antes tinham indícios de vida cristã e, hoje, andam longe dos parâmetros bíblicos. Tantas vezes, eu mesma me sinto assim, pois, apesar de sempre desejar raízes firmes, ainda sou tumbleweed – tufos de mato seco levado por qualquer sopro de vento. Recordo de gente que ao longo dos anos me alegrou, inspirou e fortaleceu na fé e, agora, parece viver insignificâncias e incoerências mil. Não tenho direito de julgar o que e por que são e estão assim, mas ao caminhar pelo jardim e pensar nas palavras do Jardineiro Mór, dá para lembrar de alguns aspectos da vida que fizeram e desfizeram a plantação.
Primeiro, tenho de lembrar que todos somos frágeis – começamos como sementes e brotamos com poucos indícios de que há vida que um dia cresceria a ponto de dar sombra a outras plantas. Quando Jesus explicou aos discípulos sobre a semeadura (Mateus 13.1-36; Mc 4.1-9; Lc 8.4-15), falou da semente, da terra, dos impecilhos, e dos resultados. Não deixou de mencionar que outro lavrador semeia joio junto ao bom trigo, e que a boa semente da Palavra não invade terra que não esteja disposta a ser quebrada e arada para remover as pedras do caminho. O Jardineiro e Dono da Terra é que faz as escolhas e todo o trabalho é dele – até mesmo do ambiente externo. Sejam grãos de mostarda (Mt 13.31; Mc 4.31; Lc 17.3), trigo que coroa os campos (Mt13.25-29; Lc 3.17; Jo 12.24), sementes de grandes árvores (Mt 12.33-35; Lc 6.43-46), ou mudas de parreira ou figueira (João 15.1-17; Mc 11.13; Mc 13.28). 
Conversei com pessoas amadas e as expus ao evangelho de Jesus Cristo e elas -- crianças, adultas ou idosas — receberam a semente no coração. Aparentemente, converteram-se. Hoje, porém, quando parecem religiosas, elas vivem como espíritas e, mais comumente, agnósticas e alheias a qualquer vida cristã. São salvas? Só Deus sabe. O Espírito Santo soprou nelas a vida eterna? O que sonda os corações é quem conhece o estado da planta. Há relatos de arqueólogos que encontraram sementes em túmulos milenares e as plantaram no Século 21 – e o grão do Egito Antigo frutificou! Minha esperança é que as plantinhas frágeis que vi nascer, venham um dia a fruir.
Há uns três anos ganhei uma figueira de minha amiga, Tania, quando veio nos visitar em Mogi. Plantei, cuidei, e colhemos seis figos. Ano passado, fiquei irritada porque alguém, ao cortar a grama, lascou o caule da figueira. Amparei com um bambu firme, amarrei o lugar quebrado e “colei”com fita crepe. O conserto deu certo – a figueira recuperou o viço e estava ao ponto de florescer – quando um trabalhador descuidado novamente podou o caule com o cortador de grama. Repetimos o processo de amparar, amarrar, colar, e, dessa vez, pedi a Deus pata ter misericórdia de minha figueira adolescente, e, com a chuva e o sol desses dias, tive o prazer de observar que a figueira da Tania está coberta de folhas vicejantes, tanto quanto a figueira do outro lado do jardim, que nunca sofreu lascas e cutucões.
Plantei um pé de romã em frente de casa. As romãs lembram a Terra Prometida e suas sementes são boas para a voz. Ele deu umas duas romãzinhas mixurucas, mas não foi à frente – portanto, tirei do local e re-plantei em um vaso grande de barro, com bastante adubo. No lugar em que estava a romã, plantei uma cerejeira gaúcha que, garantiu-me a moça da floricultura, produzirá frutos dentro de um ano. O pé está viçoso e aumentou as folhas — no chão somente há um mês. Lembro que, às vezes, não é só uma boa muda em terra adubada, mas o ambiente certo para ela crescer, e o tempo adequado.
Vejo, nas redes sociais, postagens de gente que mostra sempre um lado positivo, triunfante, vitoriosa, quando, muitas vezes, está ferida e derrubada, cortada da comunhão com família e amigos, e, possivelmente, também separada com relação a Deus e sua Palavra. Isso me lembra, com nostalgia e sentimentos misturados, do programa de rádio que papai tinha, “Vitória Cristã Brasileira”, em que ele pregava um evangelho que sempre vencia, enquanto nossa casa estava desmoronando e papai cobria seus períodos de depressão com frases feitas e ditames repetidos quase como mantras. Sem dúvida, o cristão tem vitória e a beleza de Cristo deverá enfeitar e perfumar o ambiente em que vivemos. “Esta é a vitória: a nossa fé” (1Jo 5.4) – não é um sentimento vago de conto de fadas nem positivista de edificações humanistas, mas a fé no Senhor Jesus Cristo, de quem nascemos e a quem amamos, guardando seus mandamentos, fiando-nos em sua verdade, sabedores que em seu nome temos vida eterna. Comparo essas postagens floridas e vazias a lindos buquês ou até mesmo coroas de flores que se depositam sobre coisas mortas. As flores são belas, artisticamente arranjadas, podem até exalar um bom perfume, tem seu valor — mas não estando plantadas, e não possuindo raízes, em pouco tempo apodrecem. “Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a Palavra de nosso Deus permanece eternamente”(Is 40.8).

O que poderá fortalecer as nossas plantas, além de boa terra e água apropriada no tempo certo? Lembrando que Agricultor é a própria Videira, sabemos que o Espírito Santo é quem aduba e fortalece, empodera e produz frutos eternos (Gl 6.8). Colheremos o que semearmos, seja ela semente carnal seja ela espiritual. Haverá horas em que nos cansaremos, nessa plantação? Certamente que sim. Porém, a Palavra estimula: “não cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos... por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé”(Gl 6.9-10).

O Rei Poeta comparou quem é bem-aventurado e não anda no conselho dos ímpios a uma árvore plantada junto a ribeiros de águas, cuja folhagem não murcha, e que no devido tempo, dá seu fruto. Tenho três jaboticabeiras que nos alegram com sua produção, mas elas não se comparam à jaboticabeira da casa dos tios Geraldo e Tide em Limeira, constantemente regada e recebedora do lixo orgânico em suas raízes antigas – essa sim dava fruto o ano inteiro. 

Alguns anos atrás, Dr. Fábio e Míriam, velhos amigos, nos deram sementes de carcadê – o hibisco que produz um chá delicioso de cor rosada. Antes, em sua casa, havíamos nos deliciado com tâmaras de sua fazenda, e lembramos dos relatos bíblicos de Abraão plantando tamargueiras (palmeira que demora muitos anos para produzir seus frutos) e cogitamos imitá-los (a Abraão e aos Schmidt), mas sabíamos que não comeríamos as tâmaras do nosso pé. Aceitamos prontamente a oferta das sementes de hibisco e as plantamos, cuidamos e colhemos. Só cometi um erro: depois da colheita, não guardei nenhuma semente para fazer novo plantio – e a cerca de carcadê ficou só na memória. Não enconrei mais sementes para fazer novo plantio. 

Isso me lembra alguns amigos que no decorrer da vida, demonstraram vida cristã, mas ao cuidar dos filhos, esmeraram por dar uma educação primorosa nas melhores escolas e cursos de música, línguas e educação física – mas não se preocuparam em semear a Palavra de Deus desde cedo aos próbrios rebentos. Talvez pensassem que fosse responsabilidade da igreja a que frequentavam. Os jovens cresceram e são excelentes profissionais – mas não demonstram vida cristocêntrica! Espero que alguma semente tenha ficado, porém, os pais perderam a oportunidade de nova colheita nas gerações seguintes. Assim como eu deixei de re-plantar e colher sempre, o meu amado chá de hibisco.

De vez em quando, refiro-me com humor a “velhos amigos”, porque os novos são prata, mas os velhos valem ouro. Eu, uma horteira velha que não consegue mais ficar agachada para tirar as ervas daninas e plantar as sementes como queria, tenho de me referir a promessas da Palavra para renovar as forças. Diz o salmista: 

“O justo florescerá como a palmeira, crescerá como o cedro do Líbano. Plantados na Casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice darão ainda frutos, serão cheios de seiva e de verdor, para anunciar que o Senhor é reto. Ele é a minha Rocha, e nele não há injustiça” (Sl 92.12-15).

Outra amiga chegada, Leni, além das fazendas em que planta e cria búfalos, tem um jardim em sua casa! Ela floresce nos lugares por onde passa.

Por outro lado, tenho observado alguns velhos amargos, que azedam o ambiente em que existem e exalam mau odor para os jovens que os observam. (Parecem as cortadas flores velhas do vaso, que nada têm de perfume de rosas e lírios novos.) Em vez de serem gratos a Deus pelas bênçãos, ressentem os privilégios que não tiveram e os dissabores que se multiplicaram. Em vez de se renovarem, eles se estagnaram em um passado sofrido e duvidam de um futuro promissor, porque preferiram o deserto de suas escolhas vazias. Assim era Noemi antes de sua nora Rute declarar fé no Deus de Judá e amor à sogra Mara. Mas aprendeu, ao observar a bondade e generosidade dos campos de Boaz, onde Rute segava, e passou a ser bendita avó de reis. Como minha Dama da Noite. A planta, que já deu muita flor e perfume inconfundível, estava feia e com folhas secas, quase mortas. Cortei essas folhas feias e coloquei-as em água. Agora essas folhas criaram novas raízes, e antevejo fazer várias mudas novas de damas, as quais darei a algumas amigas depois que elas estiverem firmes e bonitas. A propósito, a planta original que podei está carregada de brotos novos. Espero que um dia algum amigo amargado conheça a doçura e beleza do arrependimento em fé e esperança. Como minhas damas da noite.

O profeta Jeremias, homem de nobre estirpe que viu a aflição e o envelhecer de sua carne, viveu entre reis e plebeus e foi literalmente jogado nas masmorras da vida, com a própria vida ameaçada, declarou: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos – grande é a tua fidelidade! A minha porção é o Senhor, portanto espararei nele” (Lm 3.22-24).

E Habacuque, que observava a violência da terra e viu a glória do Senhor, disse em sua oração:

Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide, o produto da oliveira minta, e os campos não produzem mantimento, as ovelhas sejam arreatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é a minha fortaleza, e faz os meus pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente (Hc 3.17-19).

Como as minhas plantas, eu sou frágil (1Pe 1.24).Houve vezes que fui quebrada, mas fui fortalecida pela água da Palavra e o óleo do Espírito — e tive a bênção de ser fértil, florescer e frutificar. Deus nos colocou, me colocou, num jardim, numa plantação na qual “somos cooperadores, lavradores na lavoura de Deus. Nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus que dá o crescimento. Ora, o que planta e o que rega são um; e cada um receberá o seu galardão, segundo o seu próprio trabalho” (1Co 3.6-9). Desde o jardim donde foram expulsos os primeiros pais e perpassando a terra renovada onde Noé e sua família desembarcaram, a ordem era cultivar e guardar, serem fecundos e multiplicarem (Gn 1.27-31; Gn 9.1-3; João 15.5-11). “Porque, como a terra produz os seus renovos, e como o jardim faz brotar o que nele semeia, assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor perante todas as nações” (Is 61.11). 

Elizabeth Gomes  

 

terça-feira, agosto 17, 2021

É TEMPO DE OUVIR

 



Minha mãe teria celebrado ontem cem anos de idade, se estivesse ainda viva sobre a terra. Ela era surda. No dia em que foi estar com o Senhor, ela ia do seu apartamento para o elevador, que dava acesso ao piso inferir da grande casa, para tomar café com minha irmã e meu cunhado. Ao se lembrar de que não havia colocado o aparelho de audição, minha mãe, que já andava bem devagar, voltou para a mesa na saleta onde estava o Beltone. Nessa hora, ele caiu, derrubando a  mesinha e o relógio que tocava sinos a cada meia hora. Foi mesmo fulminante. Num instante estiva na bonita e confortável casa de Chesapeake, Virginia, a qual havia comprado com a filhano outro, estava na casa do Pai Celestial a quem servira em dois lados do Atlântico, desde a sua conversão aos dezoito anos de idade. No Brasil, onde ela  servira como missionária, fomos informados do falecimento e nos apressamos a comprar passagens e locomovermo-nos para outro continente — em vinte e quatro horas. Levada por Kitty à casa funerária, testemunhei o casulo vazio que ainda retinha resquícios da beleza de uma mãe que certamente já cantava com voz perfeita em outras bandas, e a quem eu nunca mais  ouviria, neste lado da eternidade.

 

Por que a lembrança da morte da mamãe quando eu ponderava meditar sobre o tema de aprender a OUVIR? É fácil de explicar a cadeia de pensamentos: o detalhe da sua queda ao tentar pegar o aparelho levou-me a pensar que surdez e audição fazem parte de meu histórico familiar, por muitas gerações. Além de minha mãe, minha avó, duas tias e um tio, e inúmeros parentes anteriores a eles, e eu, tínhamos dificuldades para ouvir. Herdei deles os problemas de audição e sofri quatro cirurgias para saná-los. Depois de meu AVC em 2007, passei a usar um aparelho no ouvido, e esse problema não me pareceu mais tão grave.

 

Certa vez, mamãe comentou sobre os da minha própria casa: "Your family is too loud!" —  porque em casa todo mundo falava muito, gostava de conversar longas horas e, às vezes, falava até demais ao passo que ela e sua casa eram sempre caladas. Lembrei da mamãe desligando o próprio aparelho quando a balbúrdia de algum lugar a incomodava, e descobri que eu também fazia o mesmo quando estava cansada de ouvir.

 

Sempre fui, no entanto, grata pelas oportunidades de ouvir (e fazer) música, os sussurros e vozes das pessoas amadas, e os sons da vida ao redor. Sendo esposa e mãe de pastores, nada me empolga mais do que ouvir a Palavra de Deus com paixão, poder e coerência de vida. Nada desgosta mais do que ouvir palavras de murmuração ou discórdia, ainda que, às vezes, eu seja culpada de não ser pronta para ouvir, e usar mal as palavras em vez de bem-dizer.

 

Tenho alguns amigos que se comunicam com pessoas surdas mediante a língua de Libras, mas para mim, não é o caso. Descobri que ouvir não é algo passivo. Exige esforço e atenção. No meu caso, obtive ajuda de um pequeno aparelho eletrônico inserido no meu "melhor" ouvido  (porque no "pior" nem adianta aumentar o som, que não ouço). Mas a quase um ano, meu aparelho "pifou", e com os problemas da pandemia, demorei muito para levá-lo ao conserto. Havia me acomodado à surdez — quase não saía de casa e não tinha outros com quem falar. Minha família sofreu minha falta de comunicação e muitas vezes virei literalmente piada da velha da Praça da Alegria. Até que um dia, assumi e confessei o meu pecado e resolvi voltar à fonoaudióloga e à Widex. Estou há três semanas com o aparelho restaurado, ouvindo perfeitamente. Nos primeiros dias de aparelho, tudo parecia barulhento e alto demais --sem cacofonia e balbúrdia, eu havia me esquecido como a vida é sonora. Foi por pouco que eu não me transformara em rebelde que recusa ouvir.

 

A primeira menção do termo ouvir, na Biblia, foi quando Adão e Eva pecaram, depois de fazerem o que lhes era costumeiro no jardim antes da  invasão da serpente: "Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela viração do dia...." (Gn 3.8-19).  Mas em vez da alegria da comunicação de cada dia com Deus, eles tiveram medo e se esconderam.

A seguinte menção de "ouvir", ainda em Gênesis, foi quando Agar fugiu com Ismael da injustiça de Abraão e Sara. "Deus ouviu a voz do menino" (Gn 21.15-21), portanto ele diz: "Não temas". Mais tarde, o narrador da História da Redenção diz que "Deus ouviu o gemido de seu povo e atentou para a sua condição" (Ex 2.24-25; 3.7-22), chamando Moisés para a grande libertação. 

Por toda a Biblia, vemos que, embora não seja homem para possuir ouvidos, boca ou braço, Deus é quem primeiro ouve o choro, o clamor e o grito de seu povo, e atende com graça, misericórdia e perdão.

Ao dar dar diretrizes a vida, Deus começa, conclamando o povo a ouvir:

Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.

Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, 

De todo o teu coração, 

de toda a tua alma, 

e de toda tua força (Dt 6.4 a 9; cf.  todo o resto da Torah).

 

Isso vai muito além de qualquer mantra ou vã repetição  trata de nossos afetos, no mais mais íntimo do ser e de nossa força interna e externa  tudo que somos e temose tem de ser compartilhado com quem nos é mais íntimo, nossa família imediata e estendida, em todo tempo, em todas as nossas atividades, nas nossas mãos e na nossa cabeça! Ao longo de toda a Palavra, constatamos que OUVIR é questão de atender e obedecer!

 

Profetas, sacerdotes e reis conclamam indivíduos, famílias, povos e nações a ouvir e atender a fim de obter sabedoria.  Desde ouvir os ensinos dos pais (livro de Provérbios) até as mensagens retumbantes dos profetas. Isaias  e Jeremias, por exemplo, repetem continuamente  o chamado para ouvir o que Deus diz. Ezequiel recebeu a mensagem de pregar com fidelidade ao povo, "quer ouçam, quer deixem de ouvir" (Eq 3.27). Zacarias convocou os cativos de Judá a reconstruir o templo, dizendo "Aqueles que estão longe virão e ajudarão no edificar o templo do Senhor, e sabereis que o Senhor dos Exércitos  me enviou a vós outros. Isto sucederá se diligentemente ouvirdes a voz do Senhor, vosso Deus" (Zc 6.15).

 

Nessa questão toda, o que mais me toca é o que Jesus afirmou em João 5.24: "quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna; não entra em juízo, mas passou da morte para a vida". O Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas; elas ouvem a sua voz e o seguem (Jo 10.11), e ainda em o ouvir, haverá um dia um só rebanho!(Jo 10.16). 

 

Na primeira epistola de João, o discípulo amado explica que "o que temos visto e ouvido, anunciamos também a vós outros, para que tenham comunhão conosco" (1Jo 1.1-4).

O Senhor Jesus diz que "Bem-aventurados são aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia, e guardam as coisas nela escritas, porque o tempo está próximo" (Ap 1.3). 

Estamos em tempos difíceis, o tempo foge, não temos mais tempo de ignorar o que Deus (e seu mensageiro na palavra dita ou escrita) falou. É nosso mister dizer com o menino Samuel (que ouviu a Deus durante toda a vida): "Fala, Senhor, porque teu servo ouve".

 

Elizabeth Gomes

sexta-feira, maio 28, 2021

FILHOS NATURAIS OU VIRTUAIS — SEMPRE REAIS


 

Outro dia, postei um artigo, homenageando minha mãe e agradecendo a Deus pelo privilégio de ter e educar filhos no Senhor. Hoje, passo a falar dos que não têm filhos — não por vontade própria, mas por impossibilidade  que poderiam ser pais e não desejam essa responsabilidade. Os que gostariam de ter filhos e não os tiveram, os que lutaram e lutam por uma descendência e, por diversos motivos, só encontram esterilidade, frustração e a perda dos sonhos. 

 

A Bíblia é plena de histórias de esterilidade versus frutificação. Quem não se empolga com as historias de Abraão e Sara, Isaque e Rebeca? Todas as disputas entre Raquel e Lia quanto a gerar filhos para Jacó, sendo que a mulher amada não conseguia engravidar? A familia patriarcal foi formada num ambiente de manipulação e  substituições, culminando com morte de Raquel após dar a luz? 

 

Mais adiante, a angustiada Ana pedia um filho enquanto Penina tinha criançada de sobra. Ao ter a oração respondida, Ana entregou o filho, Samuel, ao serviço do Senhor. 

O Novo Testamento começa com duas histórias de gravidez impossiveis: uma jovem virgem concebe por obra do Espirito Santo e seu Filho, Deus conosco, faz  a historia da humanidade -- e Zacarias e Isabel, estéreis por toda a vida de casados, têm o filho profeta, João Batista.

Já mais de seiscentos anos antes do nascimento de Jesus, o profeta Isaias escreveu: 

"Cantai alegremente, ó estéril, que não deste à luz; exulta com alegre canto e exclama, tu que não tiveste dores de parto, porque mais são os filhos da mulher solitária do que os filhos da casada, diz o Senhor..." (Is 54.1) e o apóstolo Paulo cita esse trecho ao falar da fertilidade dos que pertencem à Nova Aliança (Gl 4.27).

 

Essa passagem fala não apenas a Sião, mas ao coração das pessoas que, através dos séculos, têm amargado a ausência de filhos  casadas, solteiras, de estado civil indeterminado — todos que vislumbraram descendentes que não tiveram.

 

Hoje vivemos situações diferentes: na geração atual, muitos enxergam os filhos como peso, problema, e estorvo. Não querem casar para não ter filhos; quando casam, querem evitar as atrapalhações de planos individualistas com uma criança que custa caro, exige dedicação e anos de cerceamento de projetos de ser e ter. Conheço casais cristãos que propositadamente negam a si mesmos a bênção de ser pais deixam para depois que estiverem financeiramente estabilizados e emocionalmente maduros — ou seja, no dia de São Nunca. A realidade é que jamais o casal terá maturidade completa e estabilidade material sem risco de perder. Vão sempre querer mais e viverão sempre a escassez de satisfação.

 

Por outro lado, há os que são talhados para serem pais e mães, que desejam ardentemente ter filhos com os quais compartilhar e formar a vida, e não os têm. Amam crianças, são sábios e amáveis nos relacionamentos, cuidam dos filhos de outros, mas não tiveram o privilégio de receber das mãos de Deus uma vida sua para cuidar. Alguns nunca conseguiram engravidar; outros tiveram gravidez interrompida. Sei o que é sofrer um aborto espontâneo, mas eu tive o consolo do marido amoroso e três filhos vivos que, por sua vez, tambem geraram vidas preciosas. Existem, porém, casais piedosos que fizeram muitos tratamentos de fertilidade, acompanharam com afinco suas gestações interrompidas, imploraram com fé, e viram suas esperanças frustradas, vez após vez.

 

Alguns desses se dedicaram a ganhar filhos espirituais — ensinando e edificando outros. São evangelistas de crianças, educadores, cuidadores para a gloria de Deus e alegria de seu povo. Admiro muitas essas mulheres solteiras, mesmo os casais, que desempenham papel de mães (e pais) cristãs sem jamais terem dado à luz. Outros adotam — recém-nascidos, crianças pequenas, adolescentes  dando vida valiosa e enriquecendo o próprio coração, enquanto suprem o coração do filho acrescentado à familia. Hå também lindas familias nas quais alguns há adotados, filhos do coração, juntamente com os nascidos do ventre, igualmente adotados para sempre.

 

Algumas vezes, um filho "não planejado" é a melhor coisa que pode acontecer à familia -- Deus é soberano e seus intentos são cumpridos com graça e bondade. Embora nós, humanos, não tenhamos previsto a existência de um pequeno ser, Deus o planejou (Sl 139) quando a semente ainda não tinha germinado! 

 

Não podemos interferir na intimidade de um casal ou dizer o que devem fazer -- cada casal é responsável diante de Deus por como sua vida será gerida. O casamento, no entanto, implica em formar familia, em crescer e multiplicar — dois, unidos num só propósito, produzem frutos! Não apenas rebentos  são vidas eternas que mostram a generosidade do Criador, desde crianças até o "para sempre" que desconhecemos. Se possível, no entanto, que tenham filhos, que não temam apesar dos tempos dificeis em que vivemos. Aliás, a tais pequeninos pertence o Reino dos Céus. São portadores da imagem de Deus e, como filhos da promessa, embaixadores da esperança e graça do Rei a quem servimos. 

 

Aos que Deus não deu filhos do ventre, ainda assim têm a missão de servos(as), irmãos(ãs), pais e mães como Paulo que sofria dores de parto até ver Cristo formado em seus discípulos, cf. Gl 4.19  poderiam contemplar uma adoçāo  de adotar, criar e educar alguém, tal como um discípulo na igreja. Fomos feitos para frutificar. Filhos, concreta ou figurativamente falando, não são produtos de realização para satisfação de nosso orgulho  são pessoas preciosas, com valor eterno em Cristo Jesus. Temos de acolher essas jóias com humildade e graça, sabendo que é tesouro de valor perene.

 

Elizabeth Gomes