Estive pensando sobre o que me leva a escrever.
Sem dúvida, idéias e pessoas mexem comigo. Provocam, instigam, fazem pensar e
ruminar as coisas. Conduzem para longe e cavam fundo. Idéias podem ser boas ou
más, inteligentes ou insossas, mas uma idéia sempre atual e válida é a questão
de relacionamentos.
Já os relacionamentos são intercâmbios entre as
pessoas, e nasceram com idéias de amizade e bem-querer. Vivemos e nos movemos
pelos relacionamentos com pessoas. A Pessoa de Deus – nele nos movemos e existimos, porque somos dele (At 17.28) –
norteia e dá razão a todos os demais relacionamentos, sejam grandes ou
pequenos. Se o relacionamento com Deus for equilibrado
a ponto de vivermos para ele, e simultaneamente desequilibrado a ponto de ELE ser tudo – o começo, o fim e o meio – segue que nossos relacionamentos
interpessoais também imitarão aquele que temos com o Criador.
De menina, eu queria me dar bem com as pessoas.
Estar de bem, ser aceita e admirada. Isso me levou às alturas e, muitas vezes, fez-me
descer ao fundo do poço. Outro dia, estive pensando numa pessoa que
caracterizou seus relacionamentos como Amarga. Estava lendo (e bebendo, ao
traduzir) o livro de John Piper, Doce e
amarga providência – revendo a história de Rute (publicação da Hagnos).
Três mil anos e ainda atual, a singela história trata de relacionamentos comuns
e ações totalmente incomuns, singulares. A soberana providência divina permeia
cada linha desta história, e provoca na gente um gosto de “quero mais”. Daí,
minha nora Márcia me instigou:
– Por que você não escreve sobre o
relacionamento de sogra e noras?
Minhas noras fazem dessas coisas. As duas estão
entre minhas melhores amigas, e são as com quem sempre tenho bons papos. Pudera
– são minhas vizinhas mais próximas, minhas confidentes, minhas motoristas. Meu
genro também é um grande amigo, mas mora longe, e como sou mulher, e obviamente
elas também pertencem ao gênero feminino, acatei a idéia.
Quando me casei aos dezoito anos, Deus me deu
sogros extraordinários. Os pais do Lau me adotaram e apoiaram, e eu os assumi como
a Rute da Bíblia. No caso da antepassada do rei Davi e do Rei dos Reis que
viria de sua estirpe, a nora é que era a mulher de valor (Não insista que eu deixe você sozinha: teu
Deus será meu Deus). Na história da Charles que virou Gomes, os “velhos”
Wadislau e Eulina demonstraram a graça de Jesus em tudo que fizeram por
mim. Sem jogar, ganhei na loteria ao
ganhar novos pais!
Contudo, Lau explica aos casais que grande
porcentagem dos problemas entre casais – jovens ou mais maduros – se deve aos
relacionamentos com sogros. As clássicas piadas são constantes na cultura e no
cotidiano, e carregam mais que pitadas de verdade.
– O que é
que você quer que eu diga, Márcia? O fato de que meus filhos fizeram escolhas
nobres acima de qualquer nora ou genro que nós merecêssemos?
Quando as
vizinhas de Noemi parabenizaram a antes falida e amargurada solitária pelo
nascimento do neto, disseram:
Seja o Senhor bendito, que não deixou, hoje, de te dar
um neto que será teu resgatador, e seja afamado em Israel o nome deste. Ele
será restaurador da tua vida e consolador da tua velhice, pois tua nora, que te
ama, o deu à luz, e ela te é melhor do que sete filhos (Rute 4.14).
Meus netos não são a única razão
pela qual as noras são preciosas (se bem que netos e noras nos dão muito
orgulho e renovam a juventude). Os netos não são resgatadores no sentido de parente remidor da trama de Rute – não
são eles que restauram nossa vida e nos consolam – quem o faz é o Descendente
de Rute, Jesus Cristo – o Supremo e Único Remidor. Nós somos abençoados por ter
filhos saudáveis, homens e mulher de Deus – não como os falecidos filhos de
Noemi – e assim, não teríamos necessidade de uma “nora melhor do que sete
filhos”. Contudo, pela abundante, exagerada e pródiga graça divina, tenho duas
noras e um genro tão bons quanto os lendários sete. Aí, fazendo as contas, é
como se tivéssemos vinte e um filhos além das três flechas na nossa aljava –
mas que exagero!
Não
tenho espaço para discorrer sobre os segredos do bom relacionamento entre sogros,
noras e genros, nem cunhados ou irmãos (você já leu meu livro Irmãos: cúmplices
e rivais em aliança, da Cultura Cristã?). No entanto, quero destacar três
características que fizeram com que meus sogros me abençoassem no
relacionamento que desenvolvemos até a morte de cada um – e que quero imitar.
1)
Aceitaram-me como sou, não tentando mudar meus hábitos
ou jeito. Isso foi um imenso desafio, pois eu vim de outra cultura e muito do
meu jeito era contrário ao jeito deles pensar ou fazer. Uma vez que
Lau declarasse ser eu a sua mulher para toda a vida, eles me acataram, e não
fizeram diferença entre seus filhos e eu mesma.
2)
Ajudavam sem cobrar juros. Conheço muitos pais que ajudam os
filhos, mas esperam algo em troca: reconhecimento, atendimento imediato, que
façamos as coisas do seu jeito. Dão
presentes “com cordas amarradas”. Não “Seu” Wadislau e Dona Eulina. Quando nos
casamos, ainda estávamos no seminário, e eles nos ajudaram no que podiam –
sacrificando até o que não podiam. Mas não puseram nada “na conta”.
3)
Respeitavam o casal jovem e inexperiente e davam espaço
para nossos erros, sem cobranças. Serviam ao Senhor, e viam os filhos como
servos do Senhor – com o respeito de Filhos do Rei dos Reis, e a humildade do
menor dos servos.
Ah, norinhas queridas – quisera imitar meus
sogros sempre! Sou grata porque não é uma ogra
que vocês têm de homenagear, mas uma mãe-na-lei,
uma irmã amiga, como o nome: Amiga,
da moabita que entrou na linhagem de Jesus.
Elizabeth Gomes
Um comentário:
Amei o texto e recomendo à todas as mulheres!
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