Estive
ruminando sobre a vida e a comunicação escrita, e um assunto sempre voltava à
boca: o que é que faz um artista precoce e o que é que o define como tardio
para florescer. Mozart foi precoce – criou obras inesquecíveis a partir dos
cinco anos de idade. Cora Coralina (poeta brasileira) e Grandma Moses (pintora
norteamericana) só começaram a ser valorizadas por sua arte depois dos cinquenta
anos.
Menina
ainda, eu sabia que escreveria. Datilografei treze capítulos do meu primeiro
romance quando tinha treze anos – e aos sessenta e três ainda não terminei.
Aliás, esse ficou no baú dos não publicáveis – mas estou sonhando com a
publicação de outros dois (ah! desejados bestsellers!)
mais maduros – para ontem! As pessoas me viam como literariamente precoce:
devorava livros e minha mente estava infestada de ideias para múltiplas
personagens, tramas novas, situações singulares em cinco continentes e duas
línguas com igual habilidade.
O
paraninfo de minha formatura do ginásio foi Érico Veríssimo, de quem eu lera
tudo antes dos quatorze anos. A cena ficou na memória como menina como
incentivo à florescência. No imaginário, escrevi milhares de contos, ensaios,
poemas – alguns, cheguei até a colocar no papel – flores precoces.
Minha
primeira publicação (que ajudaria a pagar certas contas) foi quando estava
noiva. Recebi pelo artigo publicado nos Estados Unidos a grande quantia de quarenta dólares, com os quais comprei peças para
o enxoval: toalhas de banho, lençóis e panos de crochê. Mas minha atividade
literária verdadeira só começou
depois que eu era casada e nossa família se expandia: comecei a traduzir para a
Editora Mundo Cristão, recebendo em cruzeiros
por aquilo que eu que passava do inglês para o português. Hoje em dia, continuo
passando de uma para outra língua, recebendo menos reais por um livro do que receberia por uma tradução juramentada
de cinco laudas. Já são quase cem livros cristãos – o que certamente indica mais
produtividade e progresso literário meio incerto.
Não
levem a mal esta menção a progresso literário incerto. Sou forte defensora da literatura cristã, e grata a Deus
por participar ativamente dela desde os anos setentas. Claro, não obtive
valorização literária no mundo fora de nosso gueto evangélico. Sei que meu
valor não está nas coisas do mundo, mas no Senhor que criou não só o nosso
mundo como também todo o universo – meu Criador e Salvador Jesus Cristo.
Contudo,
já pensou se uma escritora cristã, realmente cristã, conseguisse vender livros
como Paulo Coelho
ou Augusto Cury?! Recentemente soube que Zíbia Gasparotto, que escreve livros
espíritas psicografados (de um prisma
bíblico são ensinos de demônios!) já vendeu mais de 16 milhões. E não precisa
ser má literatura como a dela – o jornalista Laurentino Gomes já vendeu mais de
1,4 milhão de livros sobre história do Brasil. Já pensou se algum cristão
conseguisse tornar aplicável e fascinante o conhecimento da vida cristã como
esse jornalista faz ao recontar a história de nosso país? Há, sim, alguns
grandes nomes cristãos na literatura: João Calvino e Martinho Lutero no Século
16, Blaise Pascal no Século 17,
C . S. Lewis no século 20. Um ou dois a cada cem anos?
Diz a historia que Dwight L. Moody declarou: “O mundo está para ver o que Deus pode fazer com um homem inteiramente em suas mãos – pela graça de Deus, eu serei esse homem”. Moody foi, e Billy Graham reiterou o mesmo pensamento. Ambos foram homens que transformaram o mundo evangélico. Não aspiro a tanto, nem pretendo usurpar o ofício de grandes servos de Deus na vida da igreja e do mundo atual. Mas quero comunicar a verdade eterna de Deus – não como pregadora (a pregação da Palavra é para homens fiéis e idôneos que liderem a igreja visível) – mas como alguém que deseja atender o chamado de Jesus de Mateus 28.18-20, indo, por onde estiver no mundo, comunicando a verdade de Jesus Cristo a toda criatura, ensinando a guardar... Será o cumprimento do mandato cultural dado em Gênesis de cultivar e guardar!
Quero comunicar o amor de Deus com graça (em todos os sentidos), tocando e transformando vidas. Não estou atrás da produção apenas de uma boa leitura, mas de uma leitura transformativa e transformadora. Não preciso ser popular, conhecida ou respeitada como escritora – mas tenho necessidade de transmitir a mensagem que mudou minha vida e continua moldando meu caráter ainda tardio em florescer!
A meus amigos que partilham desses sentimentos, digo: continuem falando, cantando, proclamando, escrevendo – comunicando a tempo e fora de tempo. Algumas pessoas vão ouvir e ler – e como João, devorar o livro.
Desde que meus livros do passado ou para o futuro conduzam ao Livro dos Livros, valerá a pena. Nem precisará ser campeão de vendas – pode ser até de graça, se a graça do Senhor for vista e aplicada naquilo que escrevi.
Elizabeth Gomes
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