Estava conversando com
uma amiga sobre as diversas crises de fé que temos e que observamos na vida
de nossos irmãos. São dificuldades na política atual, na ética que nos força e de cujos baixos não conseguimos escapar, da vida que nos cerca e que nós mesmos experimentamos, coisas que
nos sacodem e, às vezes, nos devoram. “Quantos que corriam bem de ti longe agora estão, outros seguem, mas também sem fervor vivendo estão...“ (Hino Vivifica, 132 HNC).
Muitas igrejas (e os indivíduos que as compõem) optam pelo que é conveniente, moderno, duvidoso, porque estão focados mais no pensamento do
mundo do que no de Jesus Cristo, de quem tomamos o nome. Ao agirmos sem
ortopraxia, anulamos qualquer ortodoxia que proclamamos. Alguns nem querem mais
ser ortodoxos. Preferem ser atuais, e
sua contextualização anula os textos firmes da Palavra da Verdade. Vemos a cada dia mais as
características dos últimos dias, em que virão tempos difíceis. Como dizia um tio amado, mas
enganado: Todos nós queremos um pouco de heresia. A advertência descritiva de Paulo ao filho na
fé, Timóteo, está mais real que nunca:
Os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos,
arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes,
desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores,
atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma
de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder (2Tm 3.1-5).
Pensando na mudança de paradigmas para algo mais bíblico, abri num trecho que eu tomara
como temático para mim,
sem prestar atenção ao contexto de Oséias. É o da conversão insincera de seu povo (“o vosso amor é como
a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa”- Os 6.4). Se estas palavras que eu desejava,
viessem de coração verdadeiramente arrependido, teriam sido muito mais cedo atendidas
pelo Deus de misericórdia:
Vinde, tornemos para o Senhor,
porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará... Conheçamos e prossigamos em conhecer ao SENHOR; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva;
como a chuva serôdia que rega a terra (Os 6.1-3).
Deus quer de seu povo
um coração contrito:
“Misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais
do que holocaustos” (Os 6.6). Deus disse:
Semeai para vós outros em justiça, ceifai segundo a misericórdia; arai o campo de pousio; porque
é tempo de
buscar ao SENHOR, até que ele venha, e chova a justiça sobre vós. Arastes a malícia, colhestes a perversidade, comestes o fruto da mentira, porque
confiastes nos vossos carros e na multidão dos vossos valentes... Quando
Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho. Quanto mais eu os
chamava, tanto mais se iam da minha presença... Todavia, eu ensinei a andar a
Efraim; tomei-os em meus braços, mas não atinaram que eu os curava. Atraí-os com cordas humanas, com laços de Amor; fui para eles como quem
alivia o jugo de sobre as suas queixadas, e me inclinei par dar-lhes de
comer... (Os 10.12-14; 11.1-4).
O convite insistente
vem cheio do amor e da belíssima misericórdia de Deus, que nutre e que cura, que floresce e firma:
Volta, ó Israel, para o SENHOR, teu Deus,
porque, pelos teus pecados, estás caído. Tende convosco palavras de arrependimento, e convertei-vos ao
SENHOR; dizei-lhe: Perdoa toda iniqüidade, aceita o que é bom e, em vez de novilhos, os sacrifícios dos nossos lábios... tu és nosso Deus; por ti o órfão alcançará
misericórdia. Curarei a sua enfermidade, eu de mim mesmo os amarei porque a
minha ira se apartou deles. Serei para Israel como orvalho, ele florescerá como
o lírio e lançará as suas raízes como o cedro do Líbano. Estender-se-ão os seus
ramos, o seu esplendor será como o da oliveira, e sua fragrância, como a do
Líbano. Os que se assentam de novo à sua sombra voltarão; serão vivificados
como o cereal, e florescerão como a vide... (Os 14.4-7).
Quando meu neto,
Matthew, era pequeno, diferente dos outros que gostavam de arroz com caldo de
feijão, e tudo mais,
bem misturadinho no prato cheio, ele gostava de separar cada tipo de alimento,
não permitindo
que se misturassem carne, carboidratos e legumes verdes. Para ele, era questão
de discernir cada comida e degustá-la separadamente. Se tivesse no
prato arroz com feijão, era capaz de cuidadosamente tirar cada grão de feijão encontrado e colocá-lo num quadrante do prato diferente
do de arroz. Depois, comia o arroz, comia o feijão, comia a carne e as verduras e
legumes, cada coisa até terminar. Gosto de pensar nisso como a capacidade, desde cedo, de discernir entre um grão e outro, uma verdura e outra.
Hoje, que é adulto, ele tem levado essa característica de discernimento aos outros
aspectos da vida. Ah! Se entendêssemos que a palavra viva e eficaz de Deus penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, apta para discernir os pensamentos e do coração (Hb 4.12).
Uma das sequelas de um
AVC sofrido em 2007 foi que perdi a cristalinidade da voz com que cantava
sempre. Mas tenho me descoberto salmista
de coração, mesmo com
voz de taquara rachada, porque meu louvor não é fruto de voz e respiração treinadas. O meu louvor, como
disse o autor de Hebreus, é fruto de lábios que confessam o teu nome (Hb 13.15). Para isso, tive de
experimentar primeiramente a disciplina do Senhor, “para aproveitamento, a fim
de sermos participantes da sua santidade”, que produz fruto pacífico aos que por ela tem sido
exercitado, fruto de justiça (Hb 12.11). Seja esta a oração de cada salmista de coração!
O brilhante Charles Wesley
escreveu um hino dizendo “Mil línguas eu quisera ter para entoar louvor” (SH
211), e eu tinha o mesmo sentimento: queria saber expressar o louvor de
inúmeros modos e acabo não conseguindo comunicar sequer em meu próprio idioma
as profundezas e a amplidão do amor de Deus. “Faz-me conhecer os teus caminhos; ensina-me as tuas
veredas; guia-me na tua verdade e ensina-me, pois tu és o Deus da minha salvação,” diz o salmista (Sl 25.4,5). Quero,
por esta razão, ter o discernimento, o entendimento e o conhecimento do Senhor
conforme disse Jó: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora meus olhos te vêem” (Jó 42.5).
Elizabeth
Gomes
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