Quando eu estava visitando os Estados Unidos, pessoas
me diziam: Até que você fala bem o inglês, para uma brasileira. No Brasil,
apesar de eu ter vivido aqui desde os quatro meses de idade, tendo passado
apenas três intervalos em que morei na America do Norte, diziam: Para uma
americana, até que fala bem o português. Menciono a referência à língua porque
a fala é a primeira indicação de origem e identificação do ser humano. Mesmo
quem perdeu a capacidade de emitir sons tem uma linguagem em que se comunica, e
essa linguagem “fala” ao seu semelhante.
Olho para as notícias políticas de meu país de origem
e dá para desanimar. Supostamente, os favoritos são Donald Trump para os
Republicanos e Hillary Clinton para os Democratas. O primeiro, com aparente
grosseria para quem pensa diferente dele e uma vida regida e enriquecida, além
dos grandes negócios imobiliários, pelas propriedades de jogatina e strip joints, não me parece oferecer
base sólida para presidir uma nação. Hillary Clinton, por sua vez, pretende
fortalecer sua agenda liberal pró-aborto e anti cristã do modo como sempre fez
mesmo quando eminência parda do governo de seu marido Bill. Se tivesse de votar
nos Estados Unidos, não sei o que faria.
“Aqui na terra tão jogando futebol, um dia chove outro
dia nasce o sol...” e apesar da decisão do congresso favorável ao impedimento
da presidenta que veio a simbolizar tudo que está errado no Brasil, na verdade
não temos motivo de júbilo—a luta para a moralização na política apenas
começou. Ficamos ambiguamente felizes com a atribuição de muitos agradecimentos
a Deus, porque realmente ele é digno de toda honra, louvor e gratidão, mas,
como gatos escaldados, questionamos a autenticidade cristã de muitos que falam
em nome de Deus e têm em sua gestão política, “rabo preso”. Ficamos agradecidos quando algumas vozes
solitárias, como a da jurista Janaina Paschoal, se levantam no senado para
falar do que realmente trata a situação atual de caos político. Temos de orar
por nossa pátria, viver com disposição teorreferente e ações humanitárias
despidas do humanismo agnóstico e revestidas de armadura bíblica para a batalha
espiritual que já está sendo travada nos lugares celestiais como também em nosso
planeta azul.
Não posso concordar com pessoas que se dizem irmãs em
Cristo e preferem aliar-se a posturas marxistas do que com quem acredita e
deseja viver conforme a Palavra de Deus. Por outro lado, não posso concordar
com os saudosistas tolos que dizem ser solução a tomada militar. A injustiça e
maldade humana, seja qual for o lado em que se posta, continua sendo injustiça.
Eu, que amo e me identifico com duas nações soberanas
que exibem bênçãos e problemas diferentes uma da outra, tenho de voltar a
identificar-me com outra terra cujo solo ainda não pisei: sou cidadã de um
Reino invisível que engloba pessoas de todos os povos e reinos da terra.
Sou forasteiro aqui,
em terra estranha estou,
celeste pátria, sim, é para onde vou,
embaixador por Deus do
Reino lá dos céus,
Venho em serviço do meu
Rei.
Porém, não posso me omitir ou ser irrealista com
respeito ao lugar em que Deus me inseriu no tempo de hoje, agora, presente,
atual. Um embaixador representa seu país e procura obter reconciliação de
qualquer inimizade que haja entre seu país de origem e a terra em que vive. Não
vendendo-se ao país em que está locado, mas buscando regeneração e
reconciliação dos inimigos com o Deus Eterno a quem todos servem, de uma ou
outra maneira.
Não podemos ser beligerantes que engulamos os erros e
as mazelas da terra em que estamos—mas lutamos para que a pátria em que
vivemos, criamos nossos filhos e construímos nosso lar, conheça o Rei e se
reconcilie com ele, seja redimido e liberto. Essa libertação não é política:
Jesus diz que conheceremos a Verdade e a verdade nos libertará. A servidão que
vivemos ao Reino Eterno não nos escraviza, mas nos dá identidade: somos filhos
do Rei dos Reis, herdeiros com Cristo de todas as bênçãos celestiais.
Aqui na terra, ele nos dá bênçãos terrenas: casa,
algum conforto—mas estas não nos pertencem: usamos os bens que temos para engrandecimento
e a gloria do reino que representamos. Temos de segurar com coração e mãos
abertos, porque estes não nos pertencem.
Outras vezes, temos o privilégio de sofrer cadeias,
perseguição e escassez. Na verdade, eu
nunca sofri cadeias e perseguição, exceto a insignificante “perseguição” que
todos que desejam seguir a Cristo sofrem pelo seu semelhante descrente. Mas
estou atenta ao mundo todo, e conheço irmãos que hoje sofrem horrores pelo
simples fato de se identificarem como cristãos.
Cristãos na Síria e no Iraque, no Sudão e no Paquistão, na Arábia
Saudita e Afeganistão e em muitos lugares que não imaginamos, sofrem. Crentes
em Cristo aqui no Brasil, em favelas bem como grandes casas tradicionais,
sofrem mazelas e abusos, alguns visíveis, outros invisíveis e ignorados. Paulo
o apóstolo dizia que “será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida,
quer pela morte. Porquanto, para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro (Fp
1.20-21). Mas é duro para uma pessoa do século XXI ter tal fibra diante do
sofrimento... talvez porque não tenhamos visão do que realmente importa.
Ontem uma irmã de nossa igreja que trabalha com
refugiados trouxe à IPP alguns novos amigos: uma família muçulmana, jovens da
Síria e de Angola—e eles ouviram o evangelho. A pregação foi dirigida
especialmente a nós crentes em Cristo, falando sobre a mente de Cristo versus a
sabedoria do mundo. Mas tocou a todos nós: sábios e estultos, que abraçamos a
loucura deste mundo tenebroso ou procuramos a sabedoria de Jesus Cristo—porque
fato é que somos tendentes a fazer ambas as coisas ao mesmo tempo, do mesmo
modo que temos a ambiguidade de sermos embaixadores de outro país com a tendência
de adotar atitudes e ações do país em que vivemos, ao qual deveríamos
ministrar. Espero que os muçulmanos que perderam seus pais e seu país (outrora
lindo, e de onde veio Paulo) tenham sido tocados pelo amor de Cristo e voltem e
se tornem parte da família de Deus. Fiquei tomada pela advertência:
Ninguém se glorie nos
homens; porque tudo é vosso: seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo,
seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é
vosso, e vos, de Cristo, e Cristo, de Deus (1Co 3.21-23).
Nada
tendo, mas possuindo tudo, aprendamos a viver contentes em toda e qualquer
situação (Fp 4.11-13). Não somos anarquistas nem monarquistas, não brigamos
pela “democracia” demagógica nem pela república federativa que amamos, mas para
servir, espelhar e espalhar o amor de Cristo a todos quantos estão próximos ou
longe de nós. Para isso temos de ser sábios e leais. Como ter a mente de
Cristo? Tem de habitar ricamente em nós a Palavra
de Cristo:
Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos
mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e
cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração. E tudo o que fizerdes,
seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele
graças a Deus Pai (Cl 3.16-17).
Interessante que este mesmo trecho
de Colossenses, sobre como ter a mente de Cristo, aplica os conceitos de nossa
pátria de origem e residência final aos trâmites da justiça e da injustiça da
terra em que vivemos aqui e agora:
Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e
não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A
Cristo, o Senhor, é que estais servindo; pois aquele que faz injustiça receberá
em troco a injustiça feita; e nisto não há acepção de pessoas. Cl 3.23-25).
--Elizabeth
Gomes
Um comentário:
Beth,como sempre o discernimento e sabedoria dados ao verdadeiro crente em Cristo Jesus, você escreve com seu coração e nos ensina com a graça simples que nos edifica. Gratidão eterna por fazer parte dessa família presbiteriana. Rosa.
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