quarta-feira, junho 22, 2011

ESSE NEGÓCIO DE IGREJA


A moda pegou! As fachadas garganteiam os nomes mais diversos: “igreja do santo cuspe”, “da oração poderosa”, “universal/internacional”, “comunidade” e daí em diante; muitas evitam o termo “igreja”. Agora, gospel e evangélico sinonimizam uma cultura estereotipada que a gente não sabe se aprova porque, afinal, alguém ama a Cristo, ou se detesta até a roupagem usada porque, no final, desobedecem e depõem contra o Senhor da igreja. Tem igreja “de sucesso”, de “propósito” (só de ter propósito), de “sinais e maravilhas”, de “prosperidade” física e financeira e, até mesmo, “melhor do que as outras” – tudo no melhor do estilo igredianetics. Como todas as flutuações do tempo, essa moda também tem adeptos e críticos, ambos com capacidades para serem construtivos e destrutivos, e isso deverá inspirar cuidado quando à nossa consideração.

Primeiro terá de haver um exame pessoal honesto a fim de evitar autoenganos; esses são os berços de enganos dolosos e culposos. Será preciso uma autossuspeita sadia. Isso quer dizer uma ideia bíblica de que, mesmo redimidos e revestidos de nova natureza, ainda vivemos em uma batalha de carne contra Espírito. O jeito será o de encarar toda a fraqueza e tendência para o pecado que ainda restam em nós, depender da obra salvadora de Cristo, e receber para o melhor as críticas mal e bem intencionadas. Uma boa resposta de um coração transparente seria: “Já pela manhã, duas pessoas apontaram para o meu pecado; de uma, ouvi a voz da esperança que me motiva a abandoná-lo, de outro, o arremedo de voz que pretendia me paralisar sob peso de culpa – da parte de quem é que você vem?

Assim, relembrado o drama da cruz – em que a cobra ia cantando vitória ao pinçar o calcanhar do crucificado e, de repente, se deu conta de que era esmagada sob seus pés – poderemos proceder a uma consideração honesta (1Co 4.1-5). Igreja que é igreja, verdadeira, tem características inconfundíveis. Nela, o Nome é visto e ouvido no comportamento e nas palavras dos crentes (2Co 12.6). Por exemplo, “Jesus é Senhor” não é refrão de canto nem bordão de esquete; muito menos é frase de propaganda (ver  Mt 7.21). Na verdade, é uma declaração do pacto entre o Senhor e seus servos, em que o Senhor Jesus Cristo é o soberano redentor e nós, seus filhos, irmãos e servos.

Os que se bandearam para outros senhores com nomes parecidamente religiosos e os que, cansados de guerra, procuraram alvos e estratégias mais remansosas, os dois grupos têm um ponto de razão: ambos viram e ouviram um comportamento capenga e uma palavra frouxa (fofa e frouxa!). De um lado do caminho estavam os que criam na Palavra de Deus e, sem sucesso, tentavam segui-la por meio de suas próprias forças. “Creia e obedeça”, era o dito. Do outro lado, estavam os que não criam na Palavra e tentavam justificar o papel da religião na força motivadora do homem. O que realmente deveriam ter visto e ouvido, isso faltou: uma obediente crença na Palavra de Deus baseada em um relacionamento de amor com o Deus da Palavra.

Cristãos tradicionalistas pensam em termos de culto rígido, hinódia sacramentada, programações engessadas e linguagem igrejeira. Os progressistas, além de abolição do “velho”, pensam em termos de culto aberto e amistoso, cantoria pop, programação centrada no cliente e linguagem popular igualmente igrejeira. Ambos os grupos sequer percebem que patinam no barro ladeado de pregadores sem Palavra e cujo comportamento não mostra intimidade com Deus em Cristo e no Espírito. Tristemente, o que a maioria deixa ver nas palavras e nos atos é uma vontade rebelde contra governos estabelecidos e o desejo de estabelecer governo próprio.

 A igreja que é igreja tem um negócio a cuidar, e esse é fazer a vontade de Deus, como Jesus disse: Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe (Mt 12.50). Não é coisa de mercado, política, entretenimento e esse negócio todo. O Senhor advertiu em sua Palavra que atentássemos ao bom mercado, à boa política e ao bom e sábio entretenimento (Jo 2.16; 2Co 12.17; Rm 13.1-8; Pv 8). Mas quando qualquer deles toma o lugar do Senhor, vira idolatria. Nosso negócio é o de viver e anunciar o evangelho que transforma o crente em filho, irmão e servo! E isso só será possível, se o filho estiver em comunhão com o Pai, se crescer para ser irmão do Filho e primeiro Irmão, e se amadurecer sob a tutela do Espírito para ser servo de Deus e dos irmãos em Cristo.


A igreja é a família de Deus. Filhos de Deus tratam uns aos outros como bons pais e filhos; irmãos de Jesus tratam uns aos outros com afeto, dignidade e preferência; e servos do Senhor servem uns aos outros em obediência à Palavra, com alegria no Espírito (Gl 4.18-19; Rm 8.29; Cl 3). Isso havendo, não importará o escrito da fachada – o nome de Jesus Cristo será reconhecido. Os crentes cultuarão a Deus da maneira como ele quer ser adorado (Jo 4.23) e o evangelho ecoará e será visto por todas as nações (Mt 28.16-20).


Wadislau Martins Gomes

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