sexta-feira, agosto 14, 2015

NOSSOS PETS E SEUS HUMANOS



                                                              

Crentes na Bíblia como Palavra de Deus, nós afirmamos que a criação de animais (domésticos e selváticos – Gn 1.24,25) foi anterior à criação do ser humano a fim de espelhar o caráter de Deus também no cultivo, guarda e exercercício de domínio sobre os animais assim como sobre toda a natureza (Gn 1.27-31).

Hoje, a filosofia secular humanista tende a ver o humano como apenas um entre muitos animais predadores  e, muitas vezes, iguala a vida e o valor dos animais irracionais aos do ser humano, defendendo toda a vida física como de igual importância e repudiando a idéia do domínio humano sobre a natureza. Estranho que os mesmos que proclamam “salve as baleias” e “proteja os cães” muitas vezes sugerem que se descarte qualquer feto humano não desejado que “atrapalhe” a vida da mulher, como sendo “apenas tecido fetal”. Alguns chegam a considerar comer carne uma séria ofensa, ainda que sejam  pró aborto—inculcando-se por sábios, tornaram-se néscios, adorando e servindo a criatura em vez de o Criador (Rm 1.25)!

Uma visão cristã da natureza com seus seres viventes não conscientes será sempre de amar a criação que Deus fez, cuidar dos animais dos quais dependemos e que dependem de nós, e realizar um domínio ecológico sustentável que preze a vida e glorifique o Criador. “O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel”(Pv 12.10). Jesus afirmou o princípio bíblico de que o justo cuida dos seus bichos como também de sua gente mesmo no dia do sábado, perguntando aos fariseus: “Hipócritas, cada um de vós não desprende da manjedoura, no sábado, o seu boi ou seu jumento, para levá-lo a beber? Por que motivo não se devia livrar deste cativeiro, em dia de sábado, esta filha de Abraão a quem Satanás trazia presa a dezoito anos?” (Lc 13.16) e “Qual de vós, se o filho ou o boi cair num poço, não o tirará logo, mesmo em dia de sábado?” (Lc 14.5). Subentende-se que quem não cuida bem dos seus animais não cuidará de seus filhos—e parece que até os animais irracionais percebem quando uma pessoa não é bondosa com eles!

 Se no mandato cultural somos responsáveis por cultivar e guardar, devemos fazê-lo com inteligência, diligência e amor. O primeiro ato de Adão depois de ter recebido de Deus a companheira “osso dos meus ossos”, foi taxonômica, ou seja, dar nome aos bichos , de conhecer e valorizar a criação animal utilizando sua responsabilidade  de ser  racional em que estava impressa a imagem de Deus.

Multiplicando-se a maldade humana a ponto de misturar-se com a impiedade demoníaca (Gn 6), o coração de Deus se pesou, planejando um dilúvio destruidor e purificador. Toda a história da arca de Noé fala da salvação da raça humana (com oito pessoas dos gêneros macho e fêmea) e também da providência de preservação da vida de todas as espécies animais (um casal reprodutor de cada espécie) num estratagema ecologicamente brilhante e logisticamente complicado—porque Deus  é Criador e sustentador da natureza. As obras de arte através dos séculos sempre incluíram figuras ora prosaicas, ora majestosas, dos animais com quem o ser humano convive em mútuo desfrute.

Delineando essa base para uma visão cristã da complexidade da criação, quero enfocar um aspecto pequeno, quase caseiro, do que significa cuidar da vida a nosso redor, falando dos nossos pets. Tenho observado as postagens e dizeres de pessoas que lamentam a perda dos seus bichos de estimação, incluindo fotos de seus bichos, quase tanto quanto são frequentes as fotos de filhos ou netos queridos. Com isso, lembro com saudade da infância de nossos filhos, sempre pontilhada pela presença dos seus bichinhos, bichanos e bichões. No meu caso particular, o maior (não em tamanho, mas em exotismo) foi o filhote de onça pintada, trazida por meu pai em uma de suas viagens ao interior de Goiás, antes de haver restrições de IBAMA. Esse filhote de onça selvagem ficou em nosso apartamento conosco por umas três semanas, até que fosse transportado para um zoológico famoso na Europa. Anos depois, Davi e seu primo Márcio tiveram um mico dourado que dormia como um minúsculo bebê em sua mão (também antes de haver legislação do IBAMA).

Entre meus amigos, conto com várias pessoas dedicadas à medicina veterinária, e outras tantas que lutam pelos direitos dos animais. Quando Lau e eu mudamos para uma casa, um dos primeiros presentes que demos ao primogênito foi Fluffy, um puppy, que ele aprendeu a cuidar, alimentar e trocar-lhe a água antes de nascer a sua irmãzinha. Depois que fomos morar na fazenda em Bocaina, então, eram tantos bichos que às vezes eu não sabia onde pisar. Eu achava que pelo menos um filho decidiria seguir carreira como veterinário – cuidava dos coelhos, fazendo até pequenas cirurgias, tínhamos sempre pelo menos dois cachorros (dizem que se conhece o caipira quando tem pelo menos quatro cães na varanda a ladrar sempre que chegam visitas). Uma vez, aos sete anos, o caçula assistiu a parição de sua preá, e veio correndo, exclamando:

– Viva, sou pai, nasceu o filho de minha preá!

Nascimento, aliás, é uma das primeiras lições de vida que os pets ensinam aos filhos.  Por mais que eu exigisse que cachorro não podia dormir em sua cama, os cachorros de casa, companheiros dos filhinhos da mesma, eram donos do pedaço: Daniel aprendeu por que não devia permitir isso quando chegou em seu quarto e a cadelinha já estava parindo o quarto filhote no travesseiro dele. Ele ficou extasiado, embora eu não me alegrasse muito com a sujeira dos lençois a lavar. Cedo a bicharada ensina às crinças noções básicas de carinho, de reprodução, de higiene—o que é mais fácil com gatos que tenham suas caixas de areia e vivem sempre a lavar-se, mas não deixa de ser aprendido quando se tem de andar regularmente com o cachorro ou dispor dos seus dejetos de forma que não se ande sobre pequenos monturos malcheirosos. A higiene canil tem de ser explicada com detalhes para os pequenos não imitarem todos os aspectos, e é imprescindível que se ensine coerência, responsabilidade e naquilo que nós humanos devemos cuidar de forma diferente dos cuidados que os próprios pets têm com os seus filhotes (humanos não lambem, não arfam, não carregam as crias com a boca).

“Por mais que se tape os olhos da Madame Mim quando você faz oração, meu filho, ela não está orando—está apenas seguido o que o seu humano quer que faça quando ele agradece a Deus pelo lanche. E você, meu filho, não deve compartilhar seu sorvete com ela, por mais que ela goste de lamber junto—ela  também põe a boca em coisas que têm germes que não são bons para nós humanos, (como baratas e ratos mortos)”. O fato de nossos animais serem excelentes caçadores  (quem tem gato em casa não tem rato; tínhamos um exímio matador de mosquitos num bichano que os pegava, mal as sanguessugas pestinhas miúdas pairavam perto de nós).

Conheci uma senhora cujo papagaio de estimação cantava: “Cantai ao Senhor...”; o papagaio do vizinho zingava com sons torpes. Nenuma dessas aves era “cristã”—elas apenas emitiam sons segundo seus humanos  mais próximos. Às vezes os bichos são mais propensos a ser domados de modo positivo do que nós humanos criados à imagem de Deus conseguimos dominar nossa língua, nossas mãos, nosso temperamento. Constate o que Tiago diz sobre freios em cavalos (Tg 1.26; 3.8) e a língua humana.

Linguagem, por exemplo, é algo que nossos animais não dominam, mas obedecem. Um cão adestrado atende a ordem de seu dono, e uma ovelha ouve a voz de seu pastor, porém, por mais que mostre seu apreço por seu dono, o animal não pode planejar e articular em linguagem que comunique pensamento e propósito. Um bichano pode ronronar, demonstrando agrado ao toque de sua proprietária, e se achar dono da casa em que escolhe as  melhores almofadas; um cachorrinho novo vem correndo e abana o rabo, mostrando solidariedade e simpatia cada vez que seu humano chega perto, mas não pode expressar o que pensa nem fazer considerações sobre si nem sobre o ser humano que cuida dele.

De vez em quando, aparece um adulto que trata seu cão como se fosse mimado filho único. Tenho pena desses bichos e de seus proprietários, pois  embora eu creia que devemos tratar os animais com carinho e respeito, creio que eles não são seres humanos que só comem filé mignon e vestem roupas de grife—e somos tolos quando adoramos a criatura ao invés do Criador, ou mesmo quando queremos atribuir valores de personalidade e varonilidade ética ao cachorro que compramos ou adotamos. Tenho visto cachorros muito amigos, com lealdade a prova de tudo—mas o amor e a lealdade canina não são frutos do Espírito Santo—são apenas características animais de seres vivos que retribuem conforme o bem com o que são tratados. Treino e disciplina nos pets vem conforme o seu humano.

A “madame” não é mamãe de sua mini poodle nem deverá dar festa de aniversário ou “casamento” com direito a bolo e doces caninos. Devemos tratar os animais com a dignidade de bichos—não como simulacros de gente mimada que não tem o que fazer com seu tempo ou dinheiro. Há muitas pessoas famintas e carentes no mundo, e mordomia cristã inclui gastar bem o produto de nosso trabalho. Também ensinamos os filhos quando temos apenas os pets que damos conta de cuidar (e não é a mamãe humana que cuida do cachorrinho ou da iguana que a filha tanto jurou fazer tudo por ela!)

Soube de uma moça que tinha mais de vinte cachorros, estava desempregada e não tinha dinheiro para comida, mas fazia das tripas coração para comprar ração e pagar contas de veterinário antes de resolver as questões com a própria familia. Com isso ela não cuidava bem de seus bichos—muito melhor seria que os desse para adoção por gente que com esmero tomasse conta deles.

Já chorei com a perda de animal querido, e não há nada de ridículo em sentir profundamente a ausência de uma criatura que fez parte de sua vida por dez ou até quinze anos. A presença da morte é outra dura lição que nossos pets ensinam a nossos filhos. Nunca me esqueço do enterro que fiz do papagaio que as formigas mataram: forramos uma caixa de sapato em lindo caixão dourado e cantamos algo como “Vós criaturas de Deus Pai, todos erguei a voz, cantai!” quando fizemos, minha irmã e eu, a despedida final. Um cachorro atropelado na frente de casa é um trauma duro de superar—mas seu humano sairá mais forte da experiência, se aprender que Deus cuida dos detalhes da vida até dos pardais que Ele alimenta e que não caem sem queo Pai Celeste saiba, e dos animais do campo e de casa eque nos encantam e reviram nossos pertences e planos.

Embora hoje eu não tenha pets, exceto a Nina, cadelinha da família de meu filho que é missionário no Japão e não teria como pagar a passagem dela, eu “curto”as notificações sobre os bichinhos de meus amigos, cujos caninos, felinos, equinos, aves, peixes e até mesmo répteis alegram o coração e glorificam a Deus por sua existência, ensinando-nos a participar da criação!

Elizabeth Gomes

segunda-feira, agosto 03, 2015

NO REFEITÓRIO DO HOSPITAL


 

Quando começamos a mais recente saga de internação de meu marido no hospital, eu não imaginava quanto bem faria passar quinze a trinta minutos por refeição com estranhos, comendo do cardápio hospitalar gratuito para os acompanhantes de pessoas internadas com mais de sessenta anos de idade. Fiquei agradavelmente surpresa com a comida sadia e variada, aliviada por não ter de recorrer a gastar uma nota preta três vezes ao dia em restaurante ou lanchonete da vizinhança. Bastava a preocupação com gastos exorbitantes com remédios e a diferença no preço das diárias não cobertas pelo seguro.

O refeitório do hospital é utilizado pelos seus funcionários e pela plêiade de pessoas cuja única característica partilhada era ser acompanhante de algum doente. No meu caso, sou única acompanhante de meu marido, noite e dia, vinte e quatro horas por dia. Prometi estar ao lado dele na saúde e na doença, e este é um momento na doença. Ele já esteve comigo em situação semelhante diversas vezes, e é meu melhor amigo há meio século. Ainda bem que diante da eternidade de Deus, este é apenas um breve momento.

O filho e a nora vem sempre e ajudam, compartilhando sonhos e notícias do mundo lá fora, trazendo e levando roupas limpas ou sujas, orando conosco e por nós. Temos recebido visitas memoráveis de amigos preciosos e conhecidos importantes, mas a gregária Beth sente falta de respirar ar frescode fora, sentir a comoção de gente, de contrabalançar caseirice pé no chão com sede de estímulos para a mente enquanto o coração se arrebenta, se quebra e se refaz todo dia a cada hora. Aqui observamos um universo de mundos, ao ver o próximo, e aprendemos a amá-lo, ou, no meu caso, amar as mulheres que se aproximam, pelas histórias de vida contadas e ocultadas nas pequenas conversas.

-- Está acompanhando mãe? Pai? Marido? Filho? Irmã? Vizinha?

-- É cuidadora de uma velha senhora que não tem ninguém na família que a aguente?...

Ana, a única disposta a ajudá-lo, (uso nomes fictícios por razões óbvias) cuida do ex-marido que a abandonou anos atrás.

Berenice cuida com dedicação do pai idoso enquanto lida com a descoberta e dor de ter sido traída pelo marido companheiro de trinta e cinco anos de vida juntos.  

Carmem, além de sessentona, vê a mãe senil de noventa anos chorar que nem criança pelo dodói que ninguém quer fazer sarar, devido a fêmur e duas costelas quebradas.

Desidério, aparentando ter uns oitenta anos e mal de Parkinson avançado, cuida da mulher com câncer em fase final. Suspeito que quando ela entregar os pontos, ele irá segui-la como uma brisa suave para o mundo futuro.

Élida, uma mulher armênia de grande porte e imensos olhos tristes, cuida da ex-cunhada.

Fátima é cuidadora profissional que lamenta não ter voltado para o Piauí quando lhe avisaram que sua mãe estava nas últimas; por conseguinte tornou-se especialista em tratar bem as senhoras paulistas e estrangeiras que, revoltadas e solitárias, esperam a morte chegar.

Claro que todo acompanhante tem a ambígua esperança de ver seu querido (ou até mesmo seu desprezado) paciente ter melhora, ainda que essa possibilidade seja também fonte de inquietação. Amor, obrigação, culpa, caridade, sina, possibilidade de algum lucro no meio das perdas todas—mil e uma histórias diferentes e sem fim em um mesmo refeitório, servindo-se de sopa, arroz, feijão, carne ou peixe, massa, legumes e salada, sobremesa e suco. Alguns se isolam na multidão; algumas pessoas comem com as lágrimas salgando sua refeição, enquanto outros não largam o celular, mastigando devagar e demorando para voltar à enfermaria ou ao quarto bem-equipado onde tudo pára enquanto a vida de uns se renova e de outros se esvai.

Parece-me que este hospital não tem o júbilo da maternidade. Um enfermeiro me informou que as maternidades dão pouco lucro a seus proprietários pela curta permanência e rápida alta das pacientes. Este hospital é especialista em partidas—em dar altas por cura, melhoras e soluções—se bem que o alto índice de geriatria não esconda as ocasiões em que enfermeiro conduzem uma maca com paciente totalmente coberto, que levam ao subsolo, enquanto quem estava no quarto acompanhando ajunta, aos prantos, a pequena trouxa de pertences do seu querido.

Quando vim com Lau ao hospital, além da tristeza por ver como meu homem forte estava mal, meu apoio de vida, carente de tudo e necessitado de tudo que eu pudesse fazer, eu tinha  também uma frustração egoísta por não ter liberdade para fazer o que eu sempre fazia em casa—nem acesso a livros, nem possibilidade de traduzir e escrever. A hora era de ministrar para aquele que sempre cuidou de mim. No quarto, Wadislau me ensinava a orar sem cessar, interceder e procurar  na Palavra de Deus respostas às nossas muitas indagações do porquê das coisas. Descobri também um ministério junto a essas pessoas no refeitório: falar do amor de Cristo, orar com elas e por elas. Ao lembrar ainda hoje dos longos dias no hospital, trago à memória pessoas carentes da graça de Jesus, e intercedo por elas, algumas das quais nem o nome me recordo.

Estamos em nossa casa, onde cada dia fazemos curtas caminhadas pelo jardim, e Wadislau se reveste de forças, “sempre melhorando” (com isso, lembro do corinho de adolescência). Vamos nos renovando na singularidade do dia a dia, vendo de primeira mão a grande fidelidade de Deus. Agradecemos por cada aspecto da epopéia que passamos. E estamos esperançosos, gratos pela alegria de viver o céu agora, com a perspectiva de um futuro certo.

Elizabeth Gomes

domingo, junho 14, 2015

EVANGELISMO E MISSÔES: FATOS E FALÁCIAS


Contavam meus pais que quando eu era ainda analfabeta (portanto, menor que quatro anos) fui evangelizar uma vizinha, uma senhora velha (mais de quarenta anos de idade!), carola, que não gostava de protestantes ou americanos, mas tinha carinho pelas crianças e me recebeu bem. Eu cantei um ou dois hinos, recitei João 3.16 e Atos 16.31, e fiz um “sermão” como ouvira muitos do meu pai na igreja e minha mãe com a criançada que vinha ouvir histórias do “livrinho sem palavras”. Eu “preguei” com muitas palavras bonitas e instava com a senhora para aceitar a Jesus para poder ir ao céu. a insistia que sempre aceitara Jesus, pois nasceu na sua Santa Igreja e jamais a abandonaria, mas ninguém podia ter certeza de ir ao céu—só os santos que rezam por nós. Perguntei-lhe se ela gostaria jque eu orasse; orei por ela, dei-lhe um beijo e um abraço e peguei a guloseima que ela tinha me dado e fui contente, correndo para casa. Não sei se essa senhora mudou de idéia quanto a Cristo, mas daquele dia em diante eu seria uma missionariazinha, como dizia o hino da APEC, e falaria de Cristo ao companheirinho.

Como a gente grande que eu conhecia, eu considerava a obra de evangelização como parte integral de ser cristã, mas via-a como um ato de “nós” contra “eles”, de “eu sei a verdade da Bíblia e você não sabe de nada”—ainda que eu fosse uma criança disposta, mas um tanto mal-educada, eu praticava o evangelismo de alcançar mais almas com o arco e flecha do roteiro que havia decorado da Bíblia. Cresci um pouco e, apesar de altos e baixos, fui “melhorando” meu desempenho cristão (como dizia o corinho, Sempre melhorando, melhorando sempre no Senhor!). Aos doze anos, sob forte convicção do Espírito Santo, vi que eu não era nada e que precisava de Cristo para tudo, e me entreguei ao convite de me consagrar inteiramente ao trabalho missionário.

Romantizava a vida evangelizadora. Lia muitas biografias—não só as juvenis sobre Livingstone ou a enfermeira Florence Nightingale, como também os livros “adultos” que minha mãe lia sobre Hudson Taylor, D. L. Moody, Amy Carmichael, Isobel Kuhn, Elisabeth Eliot. Para algumas amigas eu era “chata”, mas outras abraçavam meu interesse e formamos até um “Clube em favor dos israelitas refugiados”, quando comecei a me interessar por evangelismo do povo de Deus, após uma missão fazer apelo em favor dos judeus do Iêmen que procuravam voltar a Israel.

Na igreja que passei a fazer parte, comecei aos doze anos a ensinar uma classe de meninas de oito e nove anos, na escola dominical. O evangelho de João—o mais simples e mais complexo dos evangelhos—era tema de nosso estudo. Eu estudava a Palavra, incentivando as meninas a estudar e memorizar também.

Já em Porto Alegre no ensino médio, tive como mentora Thelma Bagby, diretora do Colégio Batista, que me estimulou a participar de reuniões de oração, clube bíblico (nessa época também comecei a frequentar o acampamento Palavra da Vida nas férias), cantar e dar testemunho nas assembléias, e falar de Cristo a outros jovens. Dois incidentes se destacam nessa fase.

Um, eu tinha uma amiga israelita (aliás, tinha muitas amigas descrentes de religiões diversas, e orava para conseguir convertê-las todas) com a qual passei uma noite inteira falando de Cristo, começando do Antigo Testamento e percorrendo o Novo, até participar de inesquecível diálogo:

            --Depois de tudo isso que expliquei, você não entende que Jesus é Yeshua o Messias? Você não quer aceitá-lo como seu Salvador?

            A que ela respondeu:

            -- Está certo, Beth. Acredito que Jesus seja o Messias. Mas nunca vou “aceitá-lo”, como você diz, porque o cristianismo tem perseguido meu povo  por muitos séculos, e minha família jamais poderia aceitar que eu renegasse tudo que sou para seguir uma religião antisemita. Não vamos falar mais do assunto.

Segundo incidente: eu amava minha escola e era destacada entre os colegas do Colégio Batista da minha faixa etária. Havia uma moça na minha classe--para mim era velha, pois já casada e mãe de dois filhos—que voltara a estudar com muito esforço. Eu admirava seu esforço mas não tinha amizade com ela. Um dia, soube que ela estava doente—daí faltav tanto o colégio—e mais tarde, ouvi dizer que ela morrera de câncer. Fiquei abaladíssima, não por ela, nem por seus filhos órfãos, mas porque nunca tinha lhe falado de Cristo, e com certeza ela morreu e não foi ao céu. A letra do hino “Não me falaram de Cristo” repercutia em minha mente e eu lembrava do profeta a que Deus ordenou pregar “Quer ouçam, quer deixem de ouvir”, e de quem requerirá o sangue se não lhes der a mensagem. Veterotetamentariamente, eu era legalmente responsável pela salvação dos que conhecia, e deveria conhecer mais gente para obter mais estrelas na minha coroa de galardões de testemunha.

Essa idéia de obras mesclada à obra de Cristo foi repetida muitas vezes e de muitas formas no decorrer de minha vida na igreja. Lembro-me de uma irmã contando sobre outra pessoa que atrapalhou determinado trabalho cristão, que lastimou: “Quantas pessoas poderiam ter sido salvas e não o foram porque o mau testemunho dele impediu a ação de Deus”!

Por mais bem intencionado fosse meu espírito evangelístico, essa “teologia de olho de boi” em que o alvo era evangelizar, custe o que custar, com ou sem conhecimento da Palavra de Deus, revelava de cara duas falácias: falta de fé na soberania de Deus, de quem vem tanto o querer quanto o realizar, e desconhecimento de que é o Espírito Santo que convence do pecado, da justiça e do juízo—nossos esforços nada acrescentam ao Reino de Deus, ainda que devamos buscar o reino e a justiça de Deus.

Quando estudava na Palavra da Vida, inicialmente pensava, como Lau naquela época, em missões indígenas. Um campo obscuro, o mais difícil possível, seria o cantinho onde Deus nos usaria para trazer centenas de ameríndios para Cristo. A medida que fomos conhecendo outras formas de evangelismo, fomos nos interessando por estas, e ao sair do IBPV para o campo missionário, o fizemos com a meta de evangelizar os israelitas (cumprindo um desejo de desde a mais tenra juventude). Fomos a BH com a cara e a coragem, o aval de algumas igrejas mantenedoras, muitos estudos superficiais de como evangelizar judeus, muito entusiasmo e muita falta de discernimento.

À medida que estudávamos mais a Palavra, crescia uma visão reformada de evangelismo e missões como parte integrante, não dividida em departamentos estanques, do propósito de Deus para a igreja toda. Aprendemos que a ordem de Jesus era

Indo por todo o mundo, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os no nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vs tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século.”

Não é só ir, é ao ir, onde quer que formos, fazer discípulos de todas as nações. É inseri-los na igreja da qual somos parte—não levá-los à igreja, mas ser igreja, (batizando-os) em nome do Pai, Filho e Espírito Santo—a obra é de toda a Trindade, é ensinar a guardar todo o conselho de Deus (tudo que vos tenho ordenado) e a promessa é: “Eis que estou convosco até a consumação do século”. Não´se trata de contar quantas almas ganhamos para Cristo—é apresentar à pessoa toda, mente e coração, a verdade libertadora. Essa obra do Deus Trino  salva a cada um e todos quantos foram chamados--não somente do inferno, mas dos grilhões do passado, de nossa vida presente, e de um futuro em que conheceremos como também somos conhecidos. O livro Sal da Terra em Terras dos Brasis[1] explica essa visão de evangelismo e missões aplicado dentro da cultura brasileira de uma forma clara e bela, mostrando que a multiforme sabedoria de Deus é muito mais do que passagem para um céu de anjinhos—é conhecer Cristo que nos redime, em quem estão todos os tesouros. Conhecer Cristo e o poder da ressurreição, bem como a comunhão nos seus sofrimentos, é ensino prático de toda a vida para uma vida eterna aqui, agora e para sempre. Isso muda nosso enfoque de evangelismo e missões—expande e enriquece todos os aspectos da vida, e não se limita a chavões que tenhamos decorado, nem a quatro passos ou três perguntas que tenhamos aprendido. É uma escolha, sim, mas não nossa—Ele nos escolheu e nos deu vida, estando nós mortos em nossos delitos. Porque ele nos chamou, nós podemos atender o seu chamado.

Hoje não tenho mais a profissão nem a pretensão de ser missionária. Participo de uma igreja que entende e vive a missão de Deus. Cada dia que passa, estou aprendendo do Senhor Jesus, e acabo compartilhando o que aprendo, até mesmo dos meus erros e minhas falhas, a filhos e netos, amigas e conhecidas, fazendo amizade mesmo com desconhecidos, que passam a fazer parte da mesma família da fé. “O que ganha almas é sabio”, porém, meu alvo não é ganhar almas -- é glorificar a Deus em tudo, e nele ter meu prazer. Ele já me “ganhou” da cabeça aos pés, de dentro para fora e de fora para dentro, com seu imensurável amor!
Elizabeth Gomes



[1] Wadislau M. Gomes, (Brasilia, Monergismo, 2014)

quinta-feira, junho 04, 2015

PARTO SEM DOR?!



Tinha certeza que este nascimento seria tranquilo. O primeiro filho nasceu sem problemas numa gravidez em que ela, marinheira de primeira viagem, sem conhecimento de causa e também isenta de preconceitos, teve um filho que logo estava ao seu lado na cama do hospital. O pediatra comprovou saúde completa do garotão de três quilos e meio, e no dia seguinte, mãe e filho foram para casa. Impaciente para exibir seu rebento, foi para a igreja três dias de parida, e continuou saindo regularmente como bebê a tiracolo, sem nenhuma preocupação com germes, ou perigo do bebê adoecer por ser levado de colo em colo na comuidade da fé.

Na segunda gravidez, três anos depois, ela estava mais escolada—lia tudo que conseguia sobre parto e puericultura. Tinha sofrido um aborto espontâneo quando o primeiro filho tinha dois anos e, agora que ele estava com três anos, ela resolveu fazer tudo conforme as melhores indicações médicas para garantir que não cometeria erros  neste nascimento. Método Lamaze, parto sem dor, exercícios até o fim e seguindo religiosamente a rotina preparatória. Conversava detalhadamente com a obstetra a cada consulta do pré-natal. Tudo daria certo.

Passaram as quarenta semanas, e decidiram induzir o parto. Seu marido, pastor, era capelão do hospital em que a criança nasceria, e estaria junto dela. Mas as contrações demoravam mais do que se esperava. Nesse tempo em que aguardavam maior dilatação, um grito sofrido chamou o marido para outro quarto: morreu uma mulher que não fizera prenatal, desconhecendo  a condição diabética, e a criança também “não vingou”. O seu marido,  como pastor, teve de dar assistência espiritual e prática ao pai enlutado. Ela ficou apenas na companhia da obstetra. O bebê tinha virado transversalmente, após já ter se encaixado. A médica virou a criança manualmente. As coisas não iam conforme planejado, e de repente a parturiente apagou: foi-lhe dada anestesia geral porque o bebê entrava em sofrimento. Horas depois (ou seriam dias?) a mãe lutadora acordou e em seu torpor deu falta do bebê a seu lado.

-- Cadê meu filho?
-- Calma, mais tarde você a verá...
-- Então é menina?
-- Isso mesmo. Descanse mais um pouco...

Pânico. O bebê não estar junto dela só poderia significar que ele morreu, pois nem seu marido estava por perto. Com certeza está correndo atrás das coisas...

A médica se aproximou, e disse:

-- Ela é uma linda menina, mas está na incubadeira. O cordão umbelical quase a sufocou. Amanhã certamente ela estará respirando melhor...

Como ficar calma? Como descansar se tudo deu errado? Mas ela não tinha como sair da cama nem gritar por socorro, quanto menos ir ao berçário para tomar a filha nos braços e sentir que seu labor tivera algum êxito.

Realmente, na próxima vez que acordou, seu marido estava a seu lado e deu notícias lá de casa. Mamãe está com o filhão, você foi uma guerreira, e já vão trazer nossa filhinha para cá. Um embrulho de fofura cor de rosa foi colocado em seu regaço, e em pouco tempo mãe e filha estavam se descobrindo sob o olhar terno do marido, que passara a noite consolando outro homem pela perda de mulher e criança. Tudo ficaria bem, pela graça de Deus.

Vinte e cinco anos depois, a mãe cruzava os ares para ir de encontro à filha que estava prestes a dar a luz ao segundo filho. Dois anos antes, acompanhara, numa noite gélida em que enfrentaram uma tempestade de neve para chegar ao hospital, acompanhara filha e genro para o nascimeto do primeiro neto. Mas tudo deu certo; o parto demorado, porém bem sucedido, revelou um garotão forte e esperto. O hospital modelo chegou a dar um jantar romântico ao casal de novos pais horas depois do ocorrido. Só que agora, a jovem mãe morava em outro estado, outra cidade, noutras circunstâncias, e a mãe madura se sentia tão insegura quanto quando a filha nascera anos atrás. Desembarcando, esperava encontrar o genro,  no aeroporto perto da cidade em que moravam, em ve dele, a filha veio a seu encontro, correndo para seus braços, aos prantos, e mãe e filha se apertavam em desespero, a mãe sem saber o que acontecera, mas com certeza que o nenê tinha morrido.

A avó ficou sabendo que nascera conforme esperado, mas foi transferido imediatamente de helicóptero para a terapia intensiva de referência neonatal da cidadade maior, onde ainda lutava para respirar. A filha “fugiu” do hospital poucas horas depois de dar à luz, ansiosa para encontrar pessoalmente a mãe e derramar o coração diante dos temores reais  que a assoberbavam. Ali compartilhariam os medos e incertezas de um nascimento de bebê de alto risco, onde ele ficaria três semanas na UTI, enquanto mãe, pai pastor, filho de quase dois anos, e avó vinda do Brasil ficariam em um quarto cedido para familiares de crianças em risco de morte.

Os amigos e parentes dariam parabéns ou pêsames? Os telefonemas eram confusos porque a situação estava confusa. A avó tentava entreter o inteligente e sapeca filho da sua filha, que até então tinha sido centro da atenção de todos. Agora tudo girava em torno do irmãozinho que, apesar de grande e forte, nasceu doentinho. Comentários, mesmo de gente cheia de amor, doíam. O bebê estava roxo devido à falta de oxigenação. Alguém disse:

-- Esse sim, puxou o lado brasileiro mais escurinho da família.

--A cabeça logo vai voltar ao tamanho normal.

-- É bom não se apegar demais...                                     


Quando ele voltou para casa, regozijaram—ia dar tudo certo. Ele progrediria em ritmo diferente, mas graças a Deus, estava vivo e não tinha nenhum problema. Deus é grande!

 As duas vinhetas verdadeiras acima são comuns na vida moderna, em que nascimento e parto são desmistificados e corriqueiros, mas ainda cheios de surpresas e desapontamentos. Uma amiga obstetra disse-me que já assistiu centenas de partos de todo tipo; naturalmente, prefere cuidar dos normais, mas está pronta para qualquer emergência—no entanto cada nascimento é único e ela se emociona com o corriqueiro como se fosse milagre único e inusitado—sempre!

Alegrias e tristezas e uma gama infinita de emoções transbordam ante o milagre da vida desde Eva, que disse: Adquiri um varão com o auxílio do Senhor, e a quem foi dito que os sofrimentos da gravidez se multiplicariam e em dores daria a luz a filhos. Como em todos os eventos da vida debaixo do sol, junto à maldição estão coladas múltiplas bênçãos. Nas histórias dos humanos em tempos bíblicos, fertilidade e esterilidade figuram proeminentes desde que seres humanos começaram a cumprir o mandato cultural enchendo e povoando a terra. É notório que as grandes famílias patriarcais tivessem tantas incertezas e lutas relacionadas com fertilidade. Na família de Jacó, todas as rivalidades centravam em filhos: da esposa amada, da esposa forçada, da concubina, da escrava, da nora rejeitada que engendrou  um relacionamento com o sogro—tantas confusões gestacionais que a história bíblica tem protótipo de toda espécie de nascimento: planejado, impromptu, fruto de abuso, relato de amor, em que a estéril se alegra.

Em era moderna, o Germinal de Flaubert é parábola da fecundidade e esterilidade da vida romântica naturalista beirando o realismo.  Hoje em dia, embora a sociedade considere a profícua fecundidade um problema que afeta negativamente a liberdade da mulher e acarreta insuportável peso financeiro—ao contrário dos tempos bíblicos em que muitos filhos  significava muita riqueza, e começaram a cumprir o “crescei e muliplicai” – as pessoas continuam a encantar-se com as histórias e os mitos relativos ao nascimento  de bebês. Todos temos um acervo de histórias e fatos curiosos sobre nossas mães, irmãs, avós e filhas. Jovens independentes se casam e, de repente, querem fazer um ninho para abrigar a promessa de continuidade da vida na vida do filho. Sua realização, sua frustração, seu sonho e suas ansiedades giram todos em volta de filhos. E as pessoas tendem a fazer comparações, indagações, perguntas indiscretas bem como discretos comentários a estranhos e às mulheres mais íntimas de seu relacionamento.  Nâo é necessário ser uma Sara, Ana ou Isabel da antiguidade, com a perspectiva de dar a luz um ser como nós, tão diferente de nós, que vai nos causar dores e nos alegrar por toda a vida, mesmo que ele jamais pertença a nós. Esses filhos são Senhor da Vida. Celebramos o nascimento, por mais que incluamos nisso o sofrimento.

Hoje quero homenagear jovens amigas que estão grávidas ou recentemente deram a luz. Algumas enfrentaram dificuldades para conseguir gestar, outras “tiraram de letra” e podem dar lições às sua avós e mães—sempre prontas a contar um caso enternecedor. Algumas mães mais maduras tiveram um filho com muitas lutas, e vão continuar lutando pela vida, pela sanidade e pela saúde dos filhos, sofrendo as síndromes que afligem seus rebentos, e enternecendo ante as glórias e dores do seu dia a dia. A minha filha que nasceu com o cordão umbelical estrangulando-a hoje é uma mulher saudável e sensata, mãe de três homens. Fez seu mestrado quando esperava o segundo filho; doutorou-se enquanto se preparava para o terceiro parto (que aconteceu em meio ao tufão Katrina). O filho dela que foi transportado para outra cidade de helicóptero segundos após ter nascido e lutou tanto para respirar, é um belo e bondoso rapaz cristão de dezoito anos—que luta, ora vencendo ora sentindo-se derrotado com a condição de lesão cerebral e autismo. No fim, tudo deu certo e ficou bem. Não negamos as dores de coração de partos atribulados e a providência divina—até mesmo quando houve erro médico. Estes são os filhos que Deus nos concedeu para a sua glória e para a nossa alegria. Regozijemo-nos neles!

Elizabeth Gomes



domingo, maio 10, 2015

MATERNIDADE NADA CONVENCIONAL E MÃE ÚNICA E SINGULAR


Por esses dias, amigos leitores e escritores têm postado justas homenagens às suas mães, e mães amigas fazem melífluas e verdadeiras declarações de amor aos filhos. Algumas, com humor característico, postam sugestões do que não dar de presente, ou do que se deve presentear, às mães, nesse dia criado por uma filha agradecida (Ana Jarvis), e assumido por um comércio esfomeado como sendo imprescindível.

Tenho um relacionamento um tanto ambíguo com o Dia das Mães. Sou imensamente grata ao Senhor Jesus pela mãe piedosa que me levou a Cristo, me educou na Palavra, me amou até o fim de sua vida na terra. Não tenho palavras para expressar a alegria de ter me tornado mãe de dois homens e uma mulher de Deus, de vê-los crescer, florescer e multiplicar na graça e paz, mesmo quando em lutas e batalhas concedidas a poucos bravos e fortes guereiros. Assumi também a maternidade às noras e genro, ainda que cada um tenha mãe cristã de presença e caráter, não para usurpá-las, mas tomando posse do carinho que essas filhas e filho conforme a lei são para mim desde que começaram a amar os meus filhos. Mas não sou mãe sozinha. Sem Wadislau, fisicamente eu não seria mãe, quanto mais não o seria moral e eticamente. Somos um casal mãe-e-pai. E sem o Pai Celeste, de quem toma o nome todo que crê em Jesus Cristo como Salvador e Rei, não poderia orar “Pai Nosso” – nem mesmo poderia viver ou transmitir vida a outrem. Ser mãe lembra a declaração de Jesus “Sem mim nada podeis fazer”. Não cremos em geração espontânea nem em criação de filhos sem ser por uma equipe depelo menos o Senhor que nos ajuda, e preferivelmente mais equilibrada com a presença e o apoio do companheiro de vida. Pela dúbia declaração politicamente correta de que “leva toda uma vila para criar um filho”, temos de concordar que o auxílio de muitos na “vila”—,  ou melhor, na família da fé e nos familiares de sangue, enriquecem, dão conhecimento e sabedoria, e multiplicam para a eternidade as bênçãos da maternidade.

Minha ambiguidade vem dos muitos dizeres que equiparam ser mãe com “padecer no paraíso” ou “ser mãe acima de tudo mais”. Já edifiquei meus ídolos, os quais o Senhor derribou, e hoje vejo a maternidade, emprestando uma expressão inglesa, “com um grão de sal” – temperada, salgada, provada, conservada pelo Reino do qual somos apenas sal da terra e luz do mundo.

Ao ler relatos bíblicos, lembro-me de mães que fogem às convenções. Joquebede, ama seca do próprio filho Moisés, que o entregou ao Nilo, donde ele foi “tirado das águas” ao entregá-lo ao Deus Criador de todo o Universo. Deborah, mulher de Lapidote, de quem não é mencionado filho algum, que foi mãe em Israel ao conduzir todo um exército para a vitória, mesmo que os comandantes estivessem acovardados (Juízes 4 e 5). Rute, uma viúva moabita que se tornou verdadeira “ídische momma”ao se refugiar sob as Asas do Senhor de Boaz, que veio a ser avó do rei Davi e antepassada do Rei dos Reis. Ester ganhou o concurso de beleza de Miss Pérsia e tornou-se rainha. Nenhum filho é mencionado no drama da bela Hadassah, mas ela veio, “quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha” e com jejum, oração, coragem e sagacidade diante de Assuero, salvou do genocídio todos os judeus habitantes da região que hoje é o Irã (Ester 4-10). Mães improváveis todas aquelas que eram estéreis, a  quem Deus concedeu maternidade: Sara, Rebeca, Raquel, Ana, Isabel – mães de valorosos servos do Senhor. Improvável a jovem mãe de Jesus – “como será isto, pois não tenho relação com homem algum?”— que acedeu, dizendo “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra”(Lucas 1-2.38).

Mães-pais improváveis – o discípulo amado que se inclinara ao peito de Jesus no jantar de Pesach horas antes que ele fosse crucificado, e assumiu papel de filho mais velho ante a cruz para a mãe de Jesus (João 19.26-27), passou toda uma vida e uma velhice transmitindo amor aos “Filhinhos...” e afirmando que “não tenho maior alegria do que esta: de saber que meus filhos andam na verdade”. O apóstolo Paulo, por quem “sofro de novo as dores do parto, até ser Cristo formado em vós” (Gálatas 4.19).

Embora sempre nos refiramos a Deus no masculino, o salmista usa uma figura maternal para o Senhor da Criação: “Qual criança desmamada se aquieta no colo de sua mãe, assim se acalma minh’alma nos teus braços...” Mãe só tem uma, mas são inúmeras as metáforas de mãe no Tabernáculo de Deus.

Ao ler a vida de minhas irmãs em Cristo, tenho de prestar tributo a algumas que não são mães na carne nem por adoção, mas se enquadram na descrição paulina de “mestras do bem” que são mães para muitos no Israel de Deus:

- Kellen, pediatra e hebiatra, que tem tratado e apoiado centenas de crianças e jovens que chegam à sua vida e saem curadas e transformadas;

- Alina, quarenta e cinco anos de ministério em educação cristã, em que ensina a Palavra Viva e a Palavra Escrita a crianças do Brasil e além-mar;

- Junia, assistente social que serviu o povo de Deus e o povo de São Paulo com arte, sabedoria e carinho maternal;

- Alice, enfermeira aposentada, que jamais teve filhos mas “maternou” irmãos, sobrinhos e estranhos, durante toda sua vida;

- Ingrid Neuman que não se casou e mesmo na paraplegia deu à luz trabalho e capacitação para muitos portadores de deficiência, demonstrando em sua vida a sempre suficiência de Jesus Cristo para todos;

- Stella, médica do trabalho, que trabalha incansável na evangelização de pacientes e profissionais de saúde, demonstrando fome e sede de justiça.

Eu poderia citar inúmeras outras mães no Corpo de Cristo—mulheres e mesmo homens, que dão de si mesmo para fortalecer, educar, edificar ao próximo. Essa qualidade de Mãe e Pai não é exclusiva do sexo feminino, mas exclui qualquer jactãncia, exibição ou auto-justiça, dependendo unica e exclusivamente de Deus, que nos chamou, transformou, capacitou e levou a termo filhos no novo nascimento.
Elizabeth Gomes

quinta-feira, abril 30, 2015

O DIA QUE MINHA FILHA QUIS IR EMBORA DE CASA


Sou grata a Deus pelos  nossos filhos que  hoje são pessoas equilibradas, sensatas e tementes a Deus, que criam os seus filhos com sabedoria. Tenho de confessar,  no entanto, que eu nem sempre fui mãe exemplar—pelo contrário, teve uma ocasião que quase botei tudo a perder.

Era jovem esposa de pastor, mãe de dois meninos com uma menina no meio de sanduíche. Eu queria ser esposa ideal,  super mãe, mulher maravilha, fazer tudo que esperavam de mim e agradar a todos em minha casa, igreja, e na sociede em geral. Acima de tudo, queria ser bem-sucedida e não cometer os erros que meus pais cometeram na minha criação. Estava focada no meu desempenho, cumprindo a lei de  Deus e as muitas leis de homens e mulheres  que confundem fé e legalismo.

Como sempre, eu estava atarefada. “Que nem barata tonta,” meu marido às vezes dizia. Era o programa usual de domingo, com mais alguns pormenores de dia especial. No domingo pela manhã, eu consegui sair antes da hora com Wadislau e nossos três, que estavam prontos para ir à escola dominical, onde tudo transcorreu de maneira normal. O ensaio do coral depois da EBD estava bem mais demorado, porque teríamos um evento especial com todas as igrejas da nossa denominação logo à tarde. Nós estaríamos  apresentando junto a um grande coral da cidade (os diversos corais haviam ensaiado, cada um em sua própria igreja, e cantariam juntos na hora desse culto da Reforma. Chegando em casa, era só esquentar a carne que eu preparara no dia anterior (ainda bem) e fazer o macarrão, mas assim mesmo seria difícil colocar o almoço na mesa antes das treze horas—e o encontro das igrejas em um grande ginásio de esportes estava marcado para as quinze horas. Ainda na escola dominical, descobri que a missionaria vinda da África estaria se hospedando em nossa casa, e lembrei que naquela manhã não deu tempo de arrumar as camas e tirar as roupas do chão do banheiro antes de ela chegar e nós apresentarmo-la ao nosso lindo lar. Com certeza ela entenderia—não era possível que uma moça criada em Angola cheio de guerras ficasse perturbada com um pouco de desordem de uma casa com três crianças, de oito, cinco e três anos de idade.

Acomodamos Dalia Maria no quarto que seria dela nos próximos dias, indicamos onde colocar a mala e lavar as  mãos, e demos as mãos para agradecer o alimento sobre nossa mesa. Não sei se queimei o molho do macarrão ou o que—o almoço ficou desfalcado e acrescentamos pãozinho à carne. Eu orei para que o caçula não sujasse a única camisa limpa e Deborah parasse de mexer na comida sem comer. Eu estava animada com nossa visitante, que havia sido locutora de rádio em Luanda antes dos portugueses serem expulsos e sua cidade virar caos total. Conversava, perguntava, e lembrei a todos de comer a sobremesa depressa porque deveríamos estar no Grande Culto de Celebração dentro de meia hora.

Deborah saiu da mesa e voltou para a sala com a frasqueira verde em mãos. Eu trouxera a maleta anos atrás quando vim ao Brasil ao encontro daquele que seria meu marido. Minha linda menina lançou a bomba:

--Vou embora desta casa. Não quero mais morar com vocês. Já peguei  a mala...

Querendo dizer algo que fizesse ela entender, e sem saber o que, dizer, disse:

-- Então eu vou junto.

Ela desceu a escada para o térreo, saiu pelo portão murmurando algo como “ninguém liga pra mim aqui em casa”,  e eu saí atrás dela, querendo saber até onde iria a pantomima. Deborah desde pequena era decidida e expressava seus sentimentos com  dramaticidade. Ela foi andando a passos largos, atravessou a rua e eu a segui, atravessando logo atrás. Fui perguntando:

-- Para onde você vai?

-- Qualquer lugar sem vocês!

Pensei em modificar um pouco a tática e apontei para uma casa uns cinco metros adiante:

-- Quer ver se a mamãe dessa casa fica com você?

-- Não! Só quero ficar longe! Ela apressava o passo para a frente da próxima casa, e eu perguntei:

-- E essa casa? Acha que vai ser bom  morar com eles?

Ela resmungou que não. Apontei para a casa seguinte.  Ela já estava chorando, e corria mais  depressa.  Atrás  dela eu a seguia e chorava. Será que minha filhinha estava tão triste comigo que preferia se aventurar a uma casa estranha do que nosso lar cristão?

-- Não quero! Não vou. Eu quero você, mesmo quando cê não tem tempo pra mim. Quero o papai. O Davi caçoa de mim, mas quero ele de irmão mais velho. E o Daninho... O choro agora saía em torrentes e eu a tomei nos braços, chorando tanto quanto minha princesinha independente de cinco anos. Voltamos  para casa, bem abraçadinhas. Chegando até lá, fui preparar-lhe um Nescau, que ela tomou ainda de cara molhada. Lavei meu rosto na pia do banheiro, e o dela com uma toalha umedecida. Escovei seu cabelo, dei-lhe uma roupa linda para vestir. Acabamos de nos aprontar e fomos para o carro. Quando tomamos nossos lugares, Wadislau notou que ela e eu tínhamos chorado, e perguntou:

-- Tudo bem, querida?

-- Tudo bem.

Do banco de trás ouvimos a declaração de Deborah, expremida entre Davi e Dália Maria, que segurava Daniel ao colo:

-- Minha casa é o melhor lugar do mundo. Eu amo todo mundo de vocês! Nunca, mas nunca mais vou fugir de casa.
Na conferência, era comovente o cântico coral. Mais de duzentas vozes cantando “Castelo Forte é nosso Deus, Espada e bom Refúgio, Com seu poder defende os seus Em todo transe agudo. Com fúria pertinaz..” Passara a fúria, acabara o transe agudo. Agora eu estava louca para chegar em casa e sentar no beliche de baixo do quarto dos meninos, bem juntinho da Deborah, para contar mais uma história para o meu trio predileto. Não me lembro onde nossa visita dormiu. Para mim e para a Deborah, não havia melhor refúgio que junto à nossa família.

Elizabeth Gomes

segunda-feira, fevereiro 09, 2015

POR FALAR EM CASAMENTO, COMO VAI O SEU AMOR?



Lendo e traduzindo biografias de grandes homens na história da igreja, fiquei preocupada com alguns aspectos de suas e nossas vidas. John Wesley, grande avivalista fundador do metodismo, que transformou a face evangélica nos Estados Unidos e na Inglaterra, teve uma vida matrimonial conturbada. A saga de seu casamento é uma história de cautela que deveria ressoar nos dias de hoje para qualquer casal envolvido na vida da igreja—ou com um ídolo—a ponto de não dar espaço um cônjuge para o outro. Nathan Busenitz, cita a Biografia de Wesley, de Stephen Tomkins, dizendo:

“Wesley e Mary Vazeille, viúva rica e mãe de quatro filhos, casaram-se em 1751. Até 1758 ela o havia abandonado— dizem que não aguentou lidar com a competição por seu tempo e devoção ante o sempre crescente movimento metodista. Molly (seu apelido) voltaria para ele e o deixaria de novo, diversas vezes, antes de sua separação final (....) Com as constantes viagens de Wesley, Molly se sentia negligenciada, enciumada e suspeitosa dos muitos relacionamentos de amizade que ele mantinha com várias mulheres que faziam parte do movimento. Wesley pouco fez para acalmar os seus temores.”

Alguns episódios relatados:

- Ao ir para uma turné na Irlanda em 1758, diz Molly que seu marido afirmou: “Espero não mais ver seu rosto malígno”. (p. 155)

- Reunidos na Inglaterra, tiveram violentos atritos—Wesley recusou mudar seu hábito de mandar cartas repletas  de afeto a outras mulheres e Molly acusou-o de adultério e chamou sobre ele, nas suas próprias palavras, ‘todas as maldições de Gênesis ao Apocalipse.’” (p. 155)

- Quase o único documento que sobreviveu a esse casamento, do lado de Molly, é de dezembro de 1760, quando ela disse que Wesley saiu cedo de uma reunião com uma tal de Betty Disine e foi visto ainda com ela na manhã seguinte. Molly “disse-lhe com modo amável que ele desistisse de correr atrás de mulheres estranhas porque seu caráter está em jogo” (p. 159).

Busenitz adverte:“Você pode perder o ministério e manter seu casamento, mas não conseguirá perder seu casamento e manter intacto o seu ministério.”

Na verdade, o fracassado casamento de John Wesley permanece como sóbria advertência para os que são tentados a confundir as prioridades dadas por Deus, e deverá despertar e sacudir poderosamente qualquer que queira ser pastor, presbítero ou líder na igreja. A Palavra de Deus coloca um alto padrão, e essas qualificações são imprescindíveis e incluem a vida conjugal e familiar do presbítero.

É só ler (nas entrelinhas) as notícias sobre pastores, missionários e gente de projeção na igreja cristã, que constatamos um triste fato: todo ano, pastores no mundo inteiro “ganham almas” enquanto perdem suas famílias. Referindo-me a dois axiomas da Palavra de Deus. “O que ganha almas é sábio” e “De que adianta o homem ganhar o mundo e perder a sua alma” a primeira afirmativa deste parágrafo é uma declaração perigosa.

Quando meu marido era Secretário de Apoio Pastoral da IPB, constatou a disciplina e desistência de doze pastores da denominação por causa de casamentos desfeitos, em um só ano. Casamentos desairosos, deficientes, desfeitos de modo vergonhoso, já causaram males que não se limitaram ao casal, mas abalaram as vidas de filhos, amigos, parentes, igrejas e a sociedade em que as pessoas estavam inseridas. Alguns, mesmo pastores, não eram hereges, teologicamente despreparados, nem gente de mau caráter. Muitos figuravam entre os melhores, os doutores e mestres da igreja, os que eram exemplos no conhecimento e ortodoxos na doutrina. Começaram a vida ministerial e matrimonial apaixonados por Deus e pela mulher que ele lhe deu. Terminaram fragmentados em mil pedaços e destroços do vazio, do desamor, da total incompreensão.

Sou grata a Deus pelo meu casamento e diariamente fico maravilhada por Deus ter dado como companheiro um homem que ama a Deus acima de tudo e todos, e demonstra amor por mim “como Cristo amou a igreja”. Isso é pela misericórdia e graça de Deus. Eu mesma sou filha de um casal envolvido no ministério que tinha tudo para ser sucesso, e naufragou—cada um ficando à deriva, perdido na vida (não perdendo a salvação, mas perdendo a alegria de viver), tentando catar os pedaços e remendar cisternas rotas que não tinham como conter água.

Quando digo que foi pela misericórdia de Deus, tenho de admitir que mesmo os desastres de vida de que falo são ecos da graça divina—e nenhum de nós pode dizer “eu jamais faria isso”; “estou acima de tais problemas”; “meu casamento é blindado pelo Espírito Santo e jamais cairei”! Fato é que todos nós somos pecadores, passíveis de imaginar e cometer grandes e pequenos pecados. Por mais envolvidos que estejamos na obra do Senhor, nós que fomos chamados para ser santos—não apenas líderes na igreja de Deus, mas qualquer crente em Jesus Cristo, do mais sábio ao mais estulto—vivemos a ambiguidade de sermos santos pecadores.

Um livro de ajuda para casais cristãos com uma perspectiva realista com esperança é Quando pecadores dizem sim, de Dave Harvey (Editora Fiel). Problema é quando pessoas pecadoras, salvas por Jesus, acham que estão acima das vicissitudes da vida comum e enxergam o outro como inferiores ou indignos de seu amor. Geralmente o desvio, a desonestidade e a desonra  no casamento começam com “pequenas” incoerências, cedendo a concupiscência—seja ela da carne, dos olhos ou soberba da vida 1Jo 2.16, com orgulho em vez da humildade própria de quem veio do pó da terra—o conceito bíblico de “preferir em honra uns aos outros”. Em um blog de duas páginas não podemos começar a enumerar as mil e uma razões por que um casamento “não deu certo”, nem ter a prepotência de achar que entendemos e que estamos isentos de culpa. Porém, podemos delinear algumas diretrizes para andar “de modo digno da vocação a que fomos chamados”.

1.       Tenha sempre em mente as PRIORIDADES certas. Quer você seja pastor famoso, missionário em campos distantes, ou crente sem títulos ou atribuições ministeriais—lembrando que todo cristão é sacerdote e tem um ministério, um serviço cristão: Deus em primeiro lugar (Mt 5.33); cônjuge em seguida (1Tm 3.4); filhos (se os tiver); trabalho (temos de obter bom testemunho dos de fora); sociedade em que vive; igreja  e  todas as outras coisas. Note que Deus está em primeiro lugar, mas nosso papel na igreja vem depois da família, do trabalho e do lugar em que vivemos, porque se alguém não cuida dos de sua casa, como pode cuidar das coisas de Deus? Um estudo simples e mais detalhado está em Força para a Família..., (Ed. Monergismo), p. 76-77, do Wadislau, e no meu livro Esposa pela graça mediante a fé, capítulo 3.

2.       Guarde na mente e no coração os AFETOS certos. Se sou casada, meu melhor amigo tem de ser meu marido—tenho de ter prazer e pensar sobre ele. Até o amor aos filhos está subordinado ao amor do casal—o melhor presente que os pais podem dar aos filhos é a segurança de saber que eles são unidos em amor.

3.       Entenda bem quais os MOTIVOS por trás do que fazemos ou não fazemos. Em Força para a família na crise moderna, Wadislau delineia três motivos bíblicos por expressão: 1) Motivação da fé; 2) Motivação da esperança e 3) Motivação do amor. Esses estão em contraposição a motivações por necessidade: idolatrias (“Eu preciso disso para ser feliz”, “Isso é mais importante que tudo para mim”), pecado (“Eu sou mais eu; se não cuidar de mim ninguém mais vai fazê-lo”- Gl 5.13-21) e culpa que nos faz esconder de nós mesmos (“Não quero nem saber”), do outro (“ele/ela teve a coragem de...)” e de Deus (“Foi a mulher que TU me deste”), produzindo medo e atribuindo a outro o erro.

Existem N fatores que impedem a harmonia do casal, mas suponho que, se começarmos a consertar nossas prioridades, afetos e motivações, poderemos iniciar (ou retomar e consertar) saudável uma caminhada a dois, que acrescentará descendentes impactados positiva ou negativamente por nossa vida. Influirá sobre vizinhos, amigos, parentes, colegas...

Com certeza você já ouviu fofocas sobre pessoas que cometeram deslizes—é provável que você já tenha participado de maldizeres no face ou outros meios, disseminando contendas em vez de guardar a boca. Muitas pessoas que possuem o dom da palavra são igualmente hábeis no vício de usar palavras para ferir, abalar e destruir o caráter do próximo. Há algo, sim, em que nós somos totalmente responsáveis para cuidar:

Sobre tudo que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida. Desvia de ti a falsidade da boca e perversidade dos lábios; os teus olhos olhem direito, tuas pálpebras diretamente (...) pondera a vereda dos teus pés, e todos os teus caminhos sejam retos (...) retira o teu pé do mal (Pv 4.23-27).

Elizabeth Gomes