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quarta-feira, fevereiro 19, 2014

ACABOU




Outro dia um irmão em Cristo colocou uma fotografia dele com dois filhos e uma mensagem profundamente dolorosa e sucinta: “O casamento acabou. Estamos muito tristes”. Confesso que me choquei e lágrimas brotaram em meus olhos apesar de não conhecer bem a pessoa nem as circunstâncias daquele que transmitiu a nova.

Muitas vezes, as redes sociais são utilizadas para dar notícias de viagens, promoções, doenças, felicitações por noivados, casamentos, nascimentos e até a perda de entes queridos pela morte, e alguns usam o facebook para zoar das idéias ou atividades de outras pessoas, mas eu nunca tinha visto uma mensagem tão esmagadoramente triste quanto essa – ainda que soubesse particularmente de alguns relacionamentos estremecidos ou desfeitos entre amigos, até mesmo amigos que fazem parte, ambos os lados, de nosso círculo de conhecidos. Lembrei do hino que menciona “Quantos que corriam bem de ti longe agora vão! Outros seguem, mas, também, sem fervor vivendo estão” quando lembro de colegas do tempo de seminário, ou membros de igrejas em que eu participei, que mudaram radicalmente seu status, sua situação. Alguns pastores colegas de meu marido deixaram totalmente tudo o que pregavam, enquanto outros foram deixando espinhos crescer em sua vida de forma a abafar sua dedicação e distorcer sua confissão de fé. No casamento é especialmente dolorido observar essas mudanças em nossos amigos que começaram juntos a jornada. Menciono casamento junto a questões de fé crença e confiança porque no fim, o que se crê e a vida que se vive, tem tudo a ver um com o outro. No caso de lares desfeitos, geralmente o esfriamento da fé e o distanciamento das pessoas no relacionamento são consequentes e subsequentes.

Tenho algumas amigas (e um ou outro amigo) cujo fim do casamento se deu por morte – e é claro que nesses casos o desfecho não foi desejado, nem resultado de algum distanciamento de Deus. Outras pessoas continuaram fiéis ao Senhor Jesus, e seus ex-cônjuges continuam bem vivos, mas seus matrimônios foram estremecidos pelo pecado da outra pessoa. Mulheres e homens que continuam amando e servindo a Deus tiveram a dor da traição, da rejeição – algumas até mesmo da violência – a dominar suas vidas. Houve separação legítima ou ilegítima, e suas vidas jamais foram as mesmas que antes.

Quando Lau e eu nos alegramos pelo fato de que nosso amor já dure a quase cinquenta anos, não o fazemos por orgulho. Não merecemos as bênçãos que recebemos em nossa vida a dois. Não fosse a misericórdia do Senhor, só teríamos trapos e trapaças no currículo. Só estamos de pé pela graça de Deus – a mesma graça que mantém alguns de nossos amigos em pé quando suas vidas familiares e conjugais há muito desmoronaram. Assim, os comentários que faço nesta postagem não resultam de alguma suposta santidade, habilidade, mérito ou capacidade de jogo de corpo. Muitas foram as vezes em que nós vacilamos, duvidamos, pecamos mesmo contra o Senhor e nisso, um contra o outro. Mas Deus nos sustentou – e fortaleceu a fé nele, junto com o amor um pelo outro. Portanto, não veja esse comentário como proveniente de alguém que chegou lá, que tem todas as respostas, que vive de vitória em vitória. Ainda não chegamos. Não temos todas as respostas. Convivemos também com derrotas que nos abalam.

O coração, contudo, condói-se por amigos de muito tempo, com quem já comemos muitos quilos de sal, cujo saldo esteja sempre negativo quando consideram o casamento, ou a vida dos filhos, ou os relacionamentos na igreja, ou ainda pior, o relacionamento com Deus.

Não são apenas os casamentos desfeitos que preocupam. Há muitos entre o povo de Deus que se acomodaram a casamentos carregados de tédio, mediocridade e mesmice. Perderam o élan da vida a dois, e vivem lado a lado, cada qual em seu canto independente, carente e solitário – do mesmo jeito que persistem em sua vida com Deus. As palavras de Deus em Gênesis: “não é bom que o ser humano esteja só – farei uma ajudadora idônea” são um diagnóstico como também a solução. E lembro do que Davi disse sobre quem é ajudador para quem não tem ninguém a quem recorrer: “Eis que Deus é meu ajudador, o Senhor é quem me sustenta a vida”  (Sl 54.4).

Um “acabou” pode dar lugar a um “acabamento” em que crescimento e aperfeiçoamento são presentes e atuantes – quando entregamos ao Criador de nossa vida nosso passado ferido, nosso presente questionado, e nosso futuro, de incerto para acerto! Ele efetua em nós o querer, como também o realizar, segundo sua soberana vontade!
Elizabeth Gomes

sábado, abril 20, 2013

PARA VIVER UM GRANDE AMOR


 
Das comunicações que recebo, há um tema que sempre aparece e grita – do topo das montanhas e do fundo do poço! É o desejo de amar, de ser amada, de ter amor como razão de vida. Alguns de meus amigos são bastante jovens – foram meus alunos juniores de escola dominical; outros conheço de quando eu era igualmente jovem e já sonhávamos com um grande amor. Entre minhas colegas de sonhos e realizações, descobri algumas características constantes e alguns fatores surpreendentes sobre a sua história do coração.

Sou abençoada, privilegiada mesmo, por ter encontrado no amor de Deus o rumo para toda minha vida. E, ainda nova, um companheiro fiel que me estimula a amar cada vez mais e a cada passo investir mais pesado na realidade simultaneamente leve e sólida da criatura imperfeita que sou, portando o amor perfeito de um Deus infinito, graciosamente dado a pessoas quebradas, distorcidamente pecadoras. Observo diversas características nas querências expressas por velhos e novos amigos.

Primeiro, falo aos jovens, porque terão de ter e desenvolver por mais tempo o amor que anseiam. Quanto ao casamento, o apóstolo Paulo destaca uma característica inicial imprescindível: quem é solteiro é “livre para casar com quem quiser, mas somente no Senhor”. Se você, cristão, está livre para casar, a ressalva é inegociável – que seja no Senhor! Começar uma vida a dois com duas cabeças em luta constante não é apenas difícil – é assumir uma monstruosidade para toda sua vida. Alguém pode argumentar que o próprio trecho de Coríntios sete menciona casamentos de cristãos com descrentes – mas o faz pensando em casais já formados, e diz que se o descrente quiser sair do relacionamento, deixe-o ir! Temos exemplos de gente crente que casou com descrente e “deu certo” – mas a falta inicial de unidade de fé já é mau começo. Concordo que há aqueles rotulados de cristão – e não o são. Talvez, entre esses poderá haver um tipo de amor que lhes permita uma convivência pacifica. Mas os valores do casamento não serão cristãos, e não sobreviverão às tempestades da vida.

O refrão de Cantares de Salomão reverbera em minha mente: “Conjuro-vos (...) que não acordeis, nem desperteis o amor, até que este o queira” (Ct 2.7, 3.5; 5.8). Não se apresse em provocar um amor, não tenha como meta de vida encontrar o amor! Alguém pode dizer: “É, pra você falar é fácil; apaixonou-se cedo, casou-se aos dezoito...” Sim, pela misericórdia de Deus, o amor me encontrou e despertou em nós na juventude – mas não era cedo, pois havia maturidade dada por Deus para uma vida assumida diante dele.

Moças e moços fazem conjeturas sobre o que procuram no amor, seus anseios e ansiedades. Contudo, precisam investir, antes de tudo, no amor a Deus, pois só saberemos amar o próximo quando houver primeiro o amor a Deus. Os livros de Lewis, Quatro Amores e Peso de Glória, destacam isso de forma magistral. E olha que C. S. Lewis foi solteiro durante boa parte da vida, surpreendido com Joy por um amor maduro e abnegado quando ela já estava com câncer e tinha um casamento falido e dois filhos a tiracolo.

Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo é sine qua non – e continua sendo o segredo do amor realista com esperança que o cristão assume e desenvolve. Não “acontece” num lance romântico ou numa “química” natural e instantânea! Como na salvação, o amor tem de ser nutrido, desenvolvido “com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.12-13).

Alguns amigos mais maduros se encontram desejosos de amor humano. Duas categorias principais me vêm à mente: os que continuam solteiros depois de anos de aprimoramento pessoal e oração fervorosa por encontrar o desejado “par”, e os que foram casados e hoje estão descasados e desiludidos por causa das vicissitudes da vida.

Tenho amigas inteligentes, bonitas, excelentes profissionais, cristãs comprometidas com o Reino, amorosas com os necessitados e que tratam bem crianças, idosos e outros cristãos igualmente “livres e desimpedidos” – que são ignoradas “por aquele que bem poderia casar com ela!” Alguns amigos também se encontram nessa categoria. A tendência de uma pessoa bem casada, quando vê irmãos nessa situação, é tentar bancar o cupido e forçar alianças – mas o coral de Cantares diz: “Não desperte o amor até que esse o queira”! Esses amigos não são contra o casamento – apenas são cautelosos (às vezes em excesso) e não querem compromisso que não estejam prontos a assumir. Uns se casam com mulheres bem jovens, outros, com pessoas em faixa etária e condições semelhantes, talvez viúvas, até mesmo trazendo ao casamento filhos de outro, e encontram, porque estão no Senhor, vidas revigorantes e renovadas. Diversos “descobrem” o amor após os quarenta anos e constante solidão, e passam a viver uma vida rejuvenescida que dá alento a todos que a cercam.

Duro é ver a fileira de pessoas que entregaram tudo por amor, gastaram e se deixaram desgastar, e foram traídas ou abandonadas, quando elas mesmas não traíram nem abandonaram o primeiro amor. A pessoa que ficou “sozinha com Deus”, mesmo quando a fé não foi abalada, ainda ficou com dores profundas. Às vezes as próprias amarguras por relacionamentos desfeitos impedem-na de encontrar amor renovado (novamente, em Deus primeiro, para depois o encontro do outro). Não podemos julgar precipitadamente, e sabemos que afinal, é o Senhor de toda consolação que permite a perda e a restauração, mas tais pessoas às vezes se fecham (por razões boas ou não) para um novo amor e terão de conviver com essa carência  – com a graça de Deus. Outros, pela mesma graça e misericórdia, redescobrem o amor – e a nova alegria contagiante traz consolo e esperança a muitos irmãos.

Uma palavra de cautela: aquele que foi infiel, que preferiu pastos alheios ou travou lutas irreconciliáveis, poderá, deverá, ser restaurado – mas sabedor das dificuldades advindas. Poderá até ser maior, mas não será o mesmo. Por exemplo, um pastor de igreja, se continuar no pastorado, terá de lidar mais abertamente com sua fraqueza. Temos exemplos disso na Palavra. Davi foi restaurado depois de seu horrendo pecado – mas foi impedido de construir a casa do Senhor!

Temos alguns amigos que casaram depois de sofrer viuvez. Aprenderam a ajustar-se às diferenças e não cobrar o mesmo tipo de relacionamento que tiveram antes com outra pessoa. Carregam bagagens complicadas e têm de depositar diariamente aos pés da cruz os fardos que lhes são pesados.  Nisso, jovens, maduros e velhos – todos temos de continuar a crescer em amor. Não é sobre o que eu quero, eu sonho, eu ganho – no amor de Deus, o foco estará sempre no outro – e se multiplica, aquecendo nosso próprio coração, transformando nosso pensamento e nossos atos de forma a ser, em vez de ter um grande amor.

Recebi convite de uma amiga para as bodas de diamante de seus pais (setenta e cinco anos!) – um casal muito especial cuja vida toda testemunha a glória e graça do Senhor. Desejo esse tipo de relacionamento com o amor de minha vida – que envelheçamos juntos, sabedores de que “o melhor está para vir”.

Anos atrás, Wadislau escreveu uma poesia baseada em 1Coríntios 13:

Amar é mais do que falar de amor,
é mais que som, além da expressão.
Amor é intensa vida interior
extravasando o próprio coração.
Amar é mais que êxtase ou encanto,
é mais que som de címbalo ou de sino,
é o riso que se segue ao pranto,
é música que paira após o hino.
Amar é sendo Deus, romper a vida,
derramar-se em humana e rubra dor,
e irromper, da morte já vencida,
amar é ser o amor do seu amor,
é ter-te, Salvador, Senhor assim,
como na cruz tu carregaste a mim!
 
Elizabeth Gomes