Certamente,
você é um homem de oração. Quanto a mim, tenho dificuldade para manter minha
comunhão verbal com Deus. Não é que não ore nem que não tenha desejo de orar. É
que, no fundo, minhas incertezas, minha falta de fé, embargam meus passos no
caminho da oração. “Deus é bom, mas será que é bom para mim?” A despeito de todas as experiências da intervenção
sobrenatural de Deus em minha vida, a cada nova oportunidade, eu duvido que ele
queira me atender. “Vai ver que eu peço mal, para esbanjar...” Como disse um
apologeta, todas as minhas orações são idolatras. Todas vêm contaminadas pela
minha vaidade. Graças a Deus pela sua provisão, até mesmo, para a fraqueza da
minha oração: “Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa
fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede
por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis” (Romanos 8.26).
O
desconhecimento da doutrina da oração amarga a vida de muitos em nosso meio. Tomamos
emprestado do mundo um conceito de oração que nem de longe corresponde à oração
bíblica. Assim, Jesus, sabedoria e poder de Deus (cf. 1Coríntios 1.18-31), orienta nossa vida de oração, dizendo:
E, quando orardes, não sereis como os hipócritas;
porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem
vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu,
porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai,
que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. E, orando,
não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu
muito falar serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o
vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais. Portanto,
vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha
o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de
cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado
aos nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal
pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém! (Mateus 6.5-13).
Outra
vez, certamente você não é hipócrita. Quanto a mim, sou meio maroto. Se me
encontro naqueles muitos momentos de insegurança que me assaltam, e me
perguntam: “Como vai?”, rápido, respondo: “Tudo bem! Na paz!” Também, não vou
ficar por aí, espalhando minhas vergonhas. Outras vezes, a fim de defender
posições indefensáveis, desfio um cordão de lamentações: “A gripe...” ou “essa
dor do lado... vai do coxão mole até o chã de dentro...” Quantas vezes preguei
sobre o amor depois de ter brigado com minha esposa. Ou preguei sobre confiança
em Deus quando desconfiava que ele não suprisse para as necessidades
financeiras do momento. Nessas instâncias, a oração pública, geralmente, sai
como o som da trombeta, heróica, longa e... vazia.
Porventura,
não sei que Deus é santo e que sua vontade é sempre boa, perfeita agradável?
Não conhece ele as minhas necessidades antes mesmo que eu as apresente? Ora, a
razão principal pela qual Deus quer que eu ore não é para que ele, onisciente,
venha a conhecer o de que eu preciso. Nem é pelo tamanho, quantidade ou
qualidade de minha oração que ele me ouve. Também não é pela minha ousadia na
oração “positiva” que ele me atende. O que Deus quer é que eu ore para que o
conheça e à sua vontade, e entenda as minhas reais necessidades. Minha
necessidade? Dele mesmo, cujo nome tem de ser santificado! Isso significa que o
dom do acesso à oração, dado à família que leva seu nome, não pode ser usado
para usurpar-lhe o poder. Não há coisa tal como oração poderosa. Todas são
fracas – poderoso é o santo que ouve e responde orações feitas em nome de Jesus ,
segundo sua vontade. Não preciso também de que ouçam as coisas que falo com
Deus, senão as coisas que falo e faço em relação aos outros. Orações públicas
pressupõem causas públicas. Alguns entendimentos e vergonhas secretas deverão
permanecer secretos. Preciso do Pai que está nos céus, preciso ser santo como
ele é santo, a fim de adorá-lo e usufruir o processo de glorificação do seu
nome. Preciso viver a realidade do seu reino de graça, isto é, de justiça e
amor. Preciso de que ele faça sua vontade em minha vida, plasmando em mim a
beleza do seu caráter. Certamente Deus transformará o meu caráter à luz de toda
sua bondade. Deus ouve e atende orações, primeiro, porque ele é bom e, segundo,
porque ele recompensa o entendimento e acato de sua vontade.
Wadislau Martins Gomes
*Excerto
do livro Quem cuida de quem cuida? (Editora
Cultura Cristã).
Nenhum comentário:
Postar um comentário