Ela
começou a faltar logo nas primeiras reuniões nas casas para iniciar o que
viria a ser a Igreja Presbiteriana Paulistana. De vez em quando aparecia, mas
deixava o filho em casa com a ajudante. Tinha “dificuldades porque o filhinho
pequeno podia atrapalhar os cultos”.
Disse-lhe que trouxesse o filho, “que ele não atrapalhava, e o as distrações ou
barulho diminuiriam à medida que amadurecesse,” – era importante que trouxesse
o filho. Hoje, a IPP está cheia de crianças que participam do culto com os
jovens, adultos e idosos. Tem aquele menino (ainda criança sapeca, mas muito bem
educado) que faz perguntas e comentários de
quem ama Jesus e vai seguir o seu caminho por toda a vida.
Houve
um pastor de grande cultura e preparo que, quando terminava seu doutorado,
assumiu uma classe da escola bíblica dos meninos de cinco anos. Foi um marco na
vida – e na vida da petizada. Ao contrário da (falta de) visão de igrejas que
designam apenas gente despreparada para ensinar a turminha, deveríamos dar às crianças os melhores teólogos e
mestres. Conheço bem esse lado – entediada com a minha classe de adolescentes,
comecei a dar aulas para crianças aos treze anos. Era fácil: lia a lição em
casa, trazia alguma novidade visual, cantava uns corinhos – e dava massinha ou
lápis de cor para as atividades de “trabalhos manuais”. Como muitas colegas,
fugi do ensino bíblico na igreja porque desenvolvia um “ministério” infantil.
Ah! outro detalhe – são poucos os homens
que se dispõem a ser professores de crianças – quando mais elas precisam dos
modelos vivos de homens e mulheres que amem ao Senhor e sirvam à igreja em amor
às crianças.
Quem
chega à IPP estranha que não oferecermos uma escola dominical. Não somos contra
aulas bíblicas para grupos menores e damos acompanhamento, sensíveis ao nível
intelectual e espiritual das diversas idades. Durante a semana, os crentes se
reúnem nas casas para estudo bíblico e oração. Consideramos que os pais devem dar
o treinamento religioso aos seus filhos, orando com eles desde pequeninos,
lendo e ensinando-lhes a Bíblia e a vida cristã dela derivada. Mas o cerne do
culto de domingo é adoração a Deus e a pregação da sua Palavra. Dele participam
todos – desde a anciã de noventa anos até o pequerrucho de seis meses que vai
com seus pais desde (antes) que nasceu. E para que as crianças saibam a
importância de aprender da Palavra de Deus, os pastores têm uma mensagem
especialmente dirigida a elas antes da mensagem, às vezes longa, do dia. As
crianças participam do culto, louvando a Deus, ouvindo a leitura bíblica e as
orações, sendo que as menores, que ainda não sabem ler, saem, depois, para
atividades especiais. Até os que ainda não entendem o que se passa, recebem
duas coisas: 1) que conhecer a Deus e ao seu amor é muito bom, e 2) que elas
são amadas por esse grande Deus, como também queridas por toda essa gente
grande que as cerca de carinho. É gratificante ver quinze a vinte crianças
pequenas sentadas no chão à frente da igreja, participando do culto (às vezes, com
tiradas a alto som!) e aprendendo que são importantes para Jesus e que ele é de
suma importância para elas. Tem ainda o detalhe das crianças maiores, que já
não sentam no círculo dos pequeninos de chão, mas participam da tarefa de
conhecer melhor a Palavra de Deus a cada dia. Adolescentes e pré-adolescentes
participantes do culto! O sermão “infantil” é sempre introdução e aplicação
prática do sermão “de adultos”. Tem gente grande que presta tanta atenção
quanto seus filhotes, pois o pastor consegue fazer e dizer coisas que
transcendem as barreiras da idade. É engraçado observar os quatro ou cinco
carrinhos de bebê à frente para essa pregação. Um garotinho de seis meses é
animado e ativo, mas não dá um pio durante a mini-mensagem! Há uns dois
simpáticos que sempre têm uma nota cômica.
Quando
no seminário, participamos do curso da APEC (Aliança Pró-Evangelização de
Crianças); todos tivemos de aprender a lidar e ensinar às importantes crianças
(pois dos tais é o Reino de Deus, Mc 10.14,15). Nosso filho aprendeu, aos três
anos, que “Mesmo um menino pode crer na redenção de Deus”. Essas aulas nos
deram base para o ensino bíblico, não apenas com as crianças, mas com toda
faixa etária. Já usei dicas de aulas para crianças com esposas de pastores e
até no ministério a pessoas idosas!
Durante
anos, sempre que Wadislau era convidado a pregar em alguma igreja, eu me
envolvia com as mulheres e crianças, promovendo classes bíblicas, escolas bíblicas
de férias. Não creio que haja algo como “cultinho infantil”. Culto, por
difinição, não é diminutivo, e a criança deve aprender isso. O culto é prestado
pela igreja formada de todas as idades, pessoas e famílias – e as crianças
devem tomar gosto pelo culto público.
Eu
costumava dar aulas de treinamento de professores para a APEC, principalmente
de “psicologia da criança”. Amo as oportunidades de desenvolver criatividade
(ao mesmo tempo em que a observo) que se abrem no trabalho com crianças e com professores
de crianças. Tenho amigos queridos que atuam há anos em ministérios voltados ao
trabalho com a infância, a começar com Satie Julia Mita, colega desde a Palavra
da Vida, e o diretor internacional, Vacilios Constantinides, com sua esposa.
Hoje,
não tenho atuado mais nessa área. Não tenho mais a energia dos vinte anos. Meus
ossos são relutantes em seguir o canto: “Eu pulo num só pé... mas vou mantendo
sempre o equilíbrio”. Assumo papel de avó que dá colo, carinho e apreço.
Envolvimento existe, atuo na oração pela geração dos pequenos que virão a ser homens
e mulheres de Deus. Assim como Jesus acolheu os pequeninos, nós os acolhemos.
Do modo como ele orou pelos seus futuros discípulos, intercedemos pelos que os
seguirão depois de nós. Van Til, quando indagado sobre sua motivação para a
apologética, respondeu: “Defender os cordeirinhos do Senhor”. Nós que não somos
nem grandes teólogos nem pastores, também participamos da grande,
imprescindível tarefa de cuidar dos cordeirinhos.
Nossas lindas crianças são o
sonho presente do futuro de igreja sadia, atuante. Se nossa igreja cresce também
por explosão populacional – pois temos muitos casais jovens iniciando suas famílias
– temos de lembrar que estamos crescendo por explosão conversional – “para
converter o coração dos pais aos filhos,
converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor
um povo preparado” (Lc 1.17) e “estáveis desgarrados como ovelhas; agora,
porém, vos convertestes ao Pastor e
Bispo da vossa alma” (1Pe 2.25).
Elizabeth Gomes
Veja o pastor Wadislau falando com as crianças
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