Outro
dia, um amigo editor nos mandou dois livros. (Queria que todos os meus amigos editores tivessem a generosidade de
nosso amigo Felipe Sabino, o qual nos regala com a palavra impressa por sua consideração
e produção para a biblioteca Refugio! Tais presentes alcançarão e provocarão
tantos mais leitores e possíveis escritores)! O primeiro foi a introdução
doutrinária de Michael Reeve ao Deus Triuno, que expande nosso entendimento da
graça e das glórias do ser de Deus. O outro livro me surpreendeu e provocou
fome de beleza na escrita sobre coisas a muito conhecidas e amadas,
apresentadas de forma singular, quase inacreditável — a respeito de criação e
destruição, crença e descrença, e tudo imaginável entre o tempo e a eternidade.
Eu ainda não ouvira falar de N. D. Wilson. Suas Notas da Xícara Maluca me
prenderam com sua história estonteante, girando mirabolante, sobre a vida
real em relação à vida eterna. Com a tecidura de cada palavra, eu
perguntava, na inveja pecaminosa de uma escritora menor, por que eu não
imaginara metáforas tão carregadas de arte. Descobri que Nathan Wilson é muito
jovem (mais novo do que meu filho caçula) Professor Adjunto de Literatura e
romancista que fez sua marca com livros para crianças que estou desejosa de ler
e transmitir aos meus netos. Uma amostra do desequilíbrio de parque de
diversões que desequilibra gente grande:
Este universo é um retrato em movimento, um quadro
comprimido em moção, uma miniatura, inevitavelmente estilizada, plois procura
capturar o Infinito As galáxias são apenas uma fração de uma sílaba em um haiku
do Ultimato. Em nível humano, as tentativas de tomar um por do sol de uma
moldura menor do horizonte e colocá-lo em um cartão postal; tomar um refrão de blues,
a vibração ritmicas das cordas, e cativá-las num sendido de perda; mármore,
cunhado e formado até demonsgrar nobreza: uma moldura de cartunista, agarrando
a meninice de um garoto de seis anos que toma pelas mãos avidas o o riso solto…
O que é o melhor de todas as coisas
possíveis: Aquilo que é infinito, sempre presente e imerecível. O
que é muitos e único. O que é puro, último, contudo humilde. O que é espírito,
no entanto, pessoal. Aquele que é justo e misericordioso. Yahweh, Deus, Pai,
Filho e Espírito Santo... O melhor de toda Arte possível. Aquilo que revela,
captura, e comunica tantas facetas desse Ser quanto é possível em uma moldura finita
[Notes from the tilt-a-whirl, N.D. Wilson. Nashville: Thomas
Nelson, 2013, p.108 – Editora Monergismo: Notas da Xícara Maluca].
Ambos
os livros doados tratam de Deus e como ele define e aperfeiçoa o artista nas
suas criaturas portadoras de sua imagem que “comunicam em moldura finita”. Levaram-me
a pensar como é ínfima minha propria comunicação, ainda que eu procure fazer o
que eu escrevo surgir e fluir com realidade coram deo.
A
despeito da admoestação de Dorotéia Thompson, minha antiga professora na
Palavra da Vida há mais de cinquenta anos, “seja equilibrada”, a despeito da riqueza
de anos comunicando vida cristã, eu ainda cambaleio e às vezes caio de cara no
chão. Tome por exemplo a condição de xícara maluca que Paulo lamenta em
Romanos 7. 18-25: ... Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não
habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo.
Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?Graças a Deus
por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente,
sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado (Romanos 7.18-25).
Este
conflito entre o bem que eu quero e o mal que eu sou tem estado
comigo desde que eu me tornei pessoa. O maior pensador, fundador de igreja e
escritor, o apóstolo Paulo, e uma desequilibrada Beth Gomes que tenta pensar e
escrever com consciência — ambos
asseveram que não existe jeito de fugir da nossa condição humana. Isso se
exemplifica em todos os aspectos da nossa vida.
Tome,
por exemplo, a espada de dois gumes de escrever e traduzir. O desejo de meu coração
é escrever bem, ser lida e reconhecida como quem tem algo a dizer e o diz com
acuidade e graça. Não almejo riquezas nem mesmo status de altas vendas — só
quero compartilhar experiências de vida de modo que toque as vidas de muitas
outras pessoas. Quero conhecer melhor a Jesus e comunicar com mulheres e
homens, jovens e maduros, como ele me tocou e transformou. A sua história, as
minhas histórias, as histórias de gente no mundo inteiro, de lutas internas e
batalhas externas daqueles que são tanto extraodinários quanto comuns, com
dores e exultações (o poder de sua ressurreição e a comunhão dos seus
sofrimentos, conforme Filipenses 3.10), fazem parte do que eu quero escrever.
Como
desejo escrever?
Bem,
com beleza, simplicidade e pignância. Coisas práticas, os materiais práticos
sobre a vida e o amor – sem ser enxerida nem cheia de ar – aprendendo das bocas
dos pequeninos enunciações de mulheres e homens inesquecíveis.
O
que é que escrevo?
Tenho
diversos projetos, e apesar, às vezes, de achar que assumo demais e produzo demenos,
propus cinco para os próximos anos:
1)
Projeto conjunto com meu marido sobre mudanças na vida tempérada por estudos na
carta paulina aos Filipenses –este nós já fizemos e pode ser encontrado e
comprado na Monergismo;
2) Transformar
em livro acessível minha tese para um curso em Questões Femininas no
Aconselhamento;
3) Escrever
um livro de histórias e receitas culinárias baseado no que servimos em Refúgio –
seu preparo, sua apresentação e sua provisão;
4)
Ficção – um romance baseado em missões indígenas versus conflitos ideários de
antropólogos e indianistas seculares no Brasil de ontem e hoje. Este tem estado
em minha cabeça e tenho pesquisado a vinte anos. Está dois-terços escrito
—tenho de completer, achar editor corajoso para publicar, e submeter a
publicação;
5)
Ficção baseada em histórias muito vezes contadas de mulheres da Bíblia,
começando com Ester – onde teço o tapete da Pérsia e sua ameaçada população judia
na diáspora, com mulheres do Irã que buscam significado no Deus que as buscou e
amou com amor eterno.
Certo,
esses projetos devem manter dançando os meus dedos artríticos. Além do que
eu quero escrever, há o fato de o que faço atualmente. Uns anos atrás
traduzi o Super Ocupado, de Kevin DeYoung, para a FIEL. Foi uma lascada
de trinta e nove chibatadas para mim: não encha a vida com ocupações
desenfreadas. A tradução — essa atividade de copiar que dá um pouco de dinheiro
para despesas não cobertas por ser esposa e/ou aposentada – me devora enome prato do dia.
O
trabalho de traduzir livros cristãos possui numerosas vantagens:
1)
Aprendo de autores que admiro, adquirindo conhecimento, entendimento e habilidades
de homens e mulheres com multiperspectivas;
2)
Coloco à disposição a palavra a gente de culturas diferentes daquelas dos
autores originais, construindo pontes e consolidando vidas cristãs em lugares
que eu nunca poderia alcançar pessoalmente;
3)
Estou aprendendo a discernir o que é e o que não é entusiasmo espiritual,
intelectual e prático.
Depois
de mais de uma centena e meia de traduções por minha pena, perdi a conta, e as
vantagens de caminhar por livros, bons e maus, e torná-los boa leitura em outra
língua, são muitas para enumerar. Seguem algumas das desvantagens.
1) Já indiquei que o meu tempo é sequestrado: quando traduzo o trabalho de outra pessoa, não estou trabalhando no meu próprio livro. Não importa o que eu aprenda ao tornar disponiveis bons livros, contruir pontes e consolidar uma vida cristã, como também melhorar o discernimento — a minha própria produção fica impedida e bloqueada.
2) Como tradutora, vôo do pesado para o ultra leve, do Carl Henry, Michael Horton, D. A. Carson ou Nancy Pearcey para Dave Powlison ou Ed Welch ou Paul Trip ou John Piper (os últimos quatro não são de conteúdo leve, mas um deleite prazeroso mesmo quando tratando temas pesados). O meu próprio pensamento pode se tornar não só multi-perspectival do Poythress, como tem perigo de se tornar multi-misturado e confuso da xícara maluca de Beth Gomes!
3) De vez em quando, aquilo que traduzi se torna tão incorporado em meu próprio trabalho que me esqueço de atribuir alguma coisa a um autor cujo trabalho tenho traduzido, reproduzindo um texto como se fosse meu. Preciso constantemente fazer revisão, verificar novamente o que eu disse e fazer dignas referências a meus precursores.
4)
Quisera existissem anos sabáticos pagos
para escritores freelance! Junto com meu companheiro de vida, Wadislau,
e o velho apóstolo Paulo, aprendi a estar contente em toda situação, ser
huminhada ou exaltada, carente ou bem suprida (Filipenses 4:11). Mas de vez em
quando, eu queria ter tempo e dinheiro para comprar mais livros e escrever as
histórias do coração em vez dos ensinos doutrinários de outras pessoas! Sei que
a gente cresce com os gigantes e com ótimas leituras — às vezds a gente resmunga
com as insuficiências e inadequações da minha própria vida. Contudo, esta é uma
palavra maravilhosa que sempre terei de compartilhar – prossigo para o alvo,
agtentando para coisas que ainda estão à frente!
De
algumas formas, sou a mesma menina que escreveu seu primeiro romance aos treze
anos e nunca o terminou; de outras, sei que sou mulher madura que continua
vendo a escrita como trabalho inacabado, desafio à fé, esperança e amor. Prosseguir
não é chatice!
Se
você conseguiu apreciar esta leitura, procure e compre Permanências e
Mudanças, de Wadislau Martins Gomes e Elizabeth Charles Gomes, Editora
Monergismo, Brasília, 2020 e aguarde a publicação do meu próximo livro – Nele
nos movemos e respiramos (Título provisório), também da amada editora
Monergismo.